Filme do Dia: Garrincha, Alegria do Povo (1962), Joaquim Pedro de Andrade
Garrincha, Alegria do Povo (Brasil, 1962). Direção: Joaquim Pedro de Andrade. Rot. Original: Joaquim Pedro de Andrade, Luiz Carlos Barreto,
Mário Carneiro, David Neves & Armando Nogueira. Fotografia: Mário Carneiro.
Música: Carlos Lyra & Severino Silva. Montagem: Joaquim Pedro de Andrade
& Nello Melli.
Esse longa-metragem de estréia de Andrade, produzido no auge
do encantamento com o povo brasileiro, mesmo observando o futebol como válvula
de escape para o trabalhador agüentar o rojão da semana, algo enfatizado em
suas imagens finais que apresentam o fim do encantamento e a volta a dura
realidade já a partir dos serviços de transporte urbanos lotados, não apela, no
entanto, para o julgamento moral depreciativo e simplista de defini-lo como
mera alienação das massas. Aliás, mesmo que suas imagens sejam predominantemente
dessas, a determinada ocasião não deixa de enfatizar uma elite, em seu nicho
específico, observando e aplaudindo de modo mais contido o espetáculo. Não
parece propriamente haver uma linha a ser seguida, passando-se de imagens da
Copa de 1962 para as de 1958 e mesmo, de um momento para outro, a fazer alusão
ao surgimento do Maracanã e a inesquecível derrota de 1950. Entre as cenas de
bastidores, encontra-se uma interessante seqüência que aparece o treinamento
físico dos jogadores do Botafogo em que a montagem breve dos planos, os gestos
sincronizados dos jogadores e uma trilha
musical ao fundo (do filme evidentemente) de Bach acabam compondo um conjunto
interessante. Noutro, talvez mais inusitado, surge Garrincha entre suas sete
filhas dançando twiste na casa de Pau Grande e jogando pelada com os amigos de
sempre. O documentarista forja uma situação de Garrincha andando pelas ruas do
centro do Rio de Janeiro, segundo o narrador do alto de uma janela de um prédio
– algo que se demonstra evidentemente inverídico quando se observa os planos
mais próximos de Garrincha nas proximidades do banco que financiou o filme, o
que talvez demosntre que seu reconhecimento em massa tenha igualmente a ver com
a presença da câmera. Em outro momento um ortopedista apresenta, através de
radiografias, no que consiste a particularidade das famosas “pernas tortas” do
jogador. O realizador está longe da inventividade e desenvoltura de sua ficção
de estréia, Couro de Gato, do mesmo
período, incorporado posteriormente ao longa Cinco Vezes Favela. Armando Nogueira Prod. Cinematográficas/Luiz
Carlos Barreto Prod. Cinematográficas. 60 minutos.
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