Filme do Dia: Sublime Dedicação (1954), Keisuke Kinoshita


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Sublime Dedicação (Nijushi no Hitomi, Japão, 1954). Direção: Keisuke Kinoshita. Rot.Adaptado: Keisuke Kinoshita, baseado no romance de Sakae Tsuboi. Fotografia: Hiroyuki Kusuda. Música: Chuji Kinoshita. Dir. de arte: Kimihiko Nakamura. Com: Hideko Takamini, Hideki Goko, Yukio Watanabe, Makoto Miyagawa , Takaro Terashita, Kaoko Kase, Yumiko Tanabe, Ikuko Kambara.

Anos 1920. Hisako Oichi (Takamini) é a nova professora que desperta comentários de um provinciano vilarejo de pescadores por seus hábitos considerados modernos como andar de bicicleta e trajar roupas no estilo ocidental. Após se ferir em uma brincadeira provocada por seus alunos ela ganha a simpatia dos pais das crianças e se afasta da escola, sendo remanejada para outra instituição mais próxima de sua casa. Cinco anos depois ela volta a ensinar as mesmas crianças. Porém o acirramento do conflito na Manchúria faz com que, não concordando com a nova política de incentivo ao ingresso no exército, ela abandone a escola. A eclosão da Segunda Guerra apenas agrava a situação. Perdendo não apenas boa parte de seus alunos homens assim como o próprio marido, Oichi volta a ensinar 18 anos após haver abandonado a escola, para a geração dos filhos de seus ex-alunos.

A figura feminina da professora que se dedica de corpo e alma para seus pupilos tem sido muitas vezes bom subterfúgio para mensagens nacionalistas (tal e qual o brasileiro Romance Proibido dez anos antes). Não parece exatamente ser o caso de Kinoshita. Apesar de toda a mise-en-scene aparentemente reforçar um tom patriótico e a professora como potencial personificação de um Estado que vai até os seus rincões mais distantes para difundir uma identidade nacional, o filme deixa evidente a simpatia da protagonista por um livro que é acusado de comunista, o que a leva a ser repreendida pelo diretor da escola. É no mesmo rumo que se encaminha sua postura abertamente anti-bélica, quando se acentua o conflito com a China a respeito da Manchúria.  Porém, tais referências podem passar despercebidas, ao menos inicialmente, a um olhar menos atento, pois o filme parece ingressar sem maiores questionamentos nessa elegíaca ode a essa comunidade tradicional (e ao próprio Japão) sem maiores conflitos e blindada em relação ao mundo exterior.  Assim os comentários escritos do narrador tornam evidente à impassibilidade da vila aos eventos de efeito mundial e nacional como a depressão econômica e o conflito da Manchúria logo ao início. Um certo tom ufano surge, mais que tudo, na orgulhosa apresentação dos parques nacionais com narração empostada das próprias crianças na descrição dos seus encantos. Até o acirramento do conflito com a China e a eclosão da Segunda Guerra, todos os conflitos, dores e alegrias dizem respeito unicamente ao próprio universo local.  Porém, tal blindagem não resiste à Segunda Guerra. Cada vez mais o filme deixa explícito o quanto a postura da protagonista se distancia da forte manipulação política, principalmente com relação às crianças. Em certo momento os cantos escolares infantis, líricos e suaves, associados a foto que representa esse passado de comunhão são contrapostos na banda sonora aos marciais e esquemáticos hinos patrióticos, com todas as crianças brandindo bandeirolas japonesas. É a própria derrota de Oichi, também sentida na própria família com o previsível falecimento do marido na guerra.  Extremamente bem composto visualmente, com imagens de grande impacto visual, como a da ressaca do mar, o filme no entanto se ressente de seu sentimentalismo por demais adocicado e mesmo piegas. O romance de Tsuboi, cujo título original tal qual o filme é 24 Olhos, faz menção ao número de estudantes da primeira turma de Oichi e voltaria a ser adaptado por Yoshitaka Asama em 1987. Shochiku. 154 minutos.

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