Filme do Dia: Dois Dias, Uma Noite (2014), Jean-Pierre Dardenne & Luc Dardenne
Dois
Dias, Uma Noite (Deux Jeurs, Une Nuit,
França/Bélgica/Itália, 2014). Direção & Rot. Original: Jean-Pierre Dardenne
& Luc Dardenne. Fotografia: Alain Marcoen. Montagem: Marie-Hélène Dozo.
Dir. de arte: Igor Gabriel. Figurinos: Maïra Ramedhan Levi. Com: Marion Cotillard,
Fabrizio Rongione, Catherine Salée, Batiste Sornin, Pili Groyne, Simon Caudry,
Lara Persain, Alain Eloy, Timur Magomedgadzhiev.
Recém-saída de uma depressão, Sandra
(Cotillard) se encontra à beira de um colapso nervoso, pois sabe que a demissão de
seu emprego foi decidida. Junto com a amiga Juliette (Salée) ela é convencida,
a muito custo, a ir ao encontro do Sr. Dumont (Sornin), seu
patrão e implorar para uma segunda votação entre a saída de Sandra e o ganho de
bônus dos outros 15 empregados ou a permanência de Sandra, mas sem os
funcionários ganharem o bônus. Sandra é instada por Juliette e pelo marido,
Manu (Rongione) a ir atrás das pessoas e pressioná-las a votar a seu favor,
gerando várias situações conflitivas e até mesmo servindo como estopim para a
separação de um casal.
Os Dardenne, como sempre fazendo uso de
estratégias marcadamente modernistas de recuo das fontes (melo)dramáticas
convencionais, como o uso da trilha sonora e um naturalismo de tinturas que
beiram o documental, tampouco deixam de flertar com a mesma, através de um
trabalho de câmera que ressalta a aflição e a pressão sobre-humana sofrida pela
protagonista - sempre fazendo uso de
sedativos e chegando a toma-los todos de uma vez próximo ao final – que ganha
concretude através de longos planos-sequencias. Centrado em momentos de busca
dos futuros votantes por Sandra o filme apresenta um aspecto da realidade
social próximo dos do universo do britânico Ken Loach em relação à
classe trabalhadora de seu país. Outro elemento que o aproxima do drama mais
convencional é acompanharmos de uma proximidade quase táctil todas as ações a
partir da perspectiva de Sandra. Ou ainda a já algo batida inclusão de uma cena
no carro em que todos os passageiros cantam um rock (Gloria de Van Morrison). É o máximo que conseguem expressar em
termos de contra-discurso dominante, se assim pode ser levianamente
categorizado, já que ao contrário dos personagens de um Loach, os aqui
abordados não são politizados. Como em Loach, no entanto, existem momentos de
solidariedade comovente entre os colegas, sendo o mais efusivo deles o do rapaz
que chora ao encontrar Sandra, dizendo-se arrependido por ter votado contra
ela, ainda que eles sejam trabalhados de forma mais distanciada e menos
emocionalmente manipulativa que em Loach, mais incisivamente ideológico e
panfletário (Pão e Rosas como um dos
exemplos mais arraigados). Seu final parece trair uma bandeira de positividade
que parte do gesto ético de Sandra ainda que, ao mesmo tempo, fomente a
possibilidade de lê-lo como também catártico – se Sandra não fica com o
emprego, demonstra uma autoconfiança inédita até então que talvez soe pouco
verossímil dada a instabilidade emocional excessiva dela ao longo do filme,
suscitando paralelos com as mudanças súbitas orquestradas nos finais clássicos;
aqui ainda se pode ter argumento de equacionar
a instabilidade excessiva com o período de indefinição sobre o futuro
profissional dela, o que teoricamente poderia provocar uma mudança na postura
da mesma. Por fim, outra “concessão”, se assim pode ser lida, a uma dramaturgia
de maior apelo convencional, é a presença de uma estrela de renome
internacional, Cotillard, algo inédito até então na filmografia dos
realizadores, embora tal prática de mescla entre atores consagrados ou
veteranos e amadores já tenha ocorrido
com demasiada frequência na história do cinema, como é o caso recorrente
do Neorrealismo italiano. Les Films Du Fleuve/Archipel 35/BIM
Distribuizone/Eyeworks/France 2 Cinéma/RTBF/Belgacom. 95 minutos.
Excelente!!!!
ResponderExcluirExcelente é tê-la novamente aqui pelo blog Bethinha. Em tempos sombrios como os atuais nada melhor que rever os amig@s. Beijos!
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