Filme do Dia: Pedro, O Negro (1964), Milos Forman
Pedro,
O Negro (Cerný Petr, Tchecoslováquia,
1964). Direção: Milos Forman. Rot. Original: Milos Forman & Jaroslav Papousek. Fotografia:
Jan Nemecek. Música: Jirí Slitr. Montagem: Miroslav Hájek. Dir. de arte: Karel
Cerný. Cenografia: Vladimir Macha. Figurinos: Barbora Adolfova. Com: Ladislav
Jakim, Pavla Martinikova, Jan Vostrcil, Vladimir Pucholt, Pavel Sedlacek,
Zdenek Kulhanek, Frantisek Kosina, Josef Koza.
Petr (Jakim) é um adolescente que não
descobre nenhum talento ou habilidade especial em si próprio e cede às pressões
da família para trabalhar num comércio como segurança. Apaixonado por Asa
(Martinikova), sua timidez o impede de avançar na intimidade. Eles vão juntos
ao baile, mas são incomodados a determinado momento pela dupla de adolescentes
Cenda (Pucholt) e Lada (Sedlacek). Petr se sente completamente inábil para
lidar com as situações que envolvem sua participação ativa no trabalho, seja
seguindo um suspeito sem nunca abordá-lo ou flagrando o roubo de alguns
caramelos por uma senhora.
Essa lírica incursão na provinciana
classe média checa de narrativa tipicamente moderna, com um herói que não possui um objetivo definido,
próximo de afásico, o que não soa tão estranho dada a sua faixa etária,
consegue ser mais modesta em termos de explicitação de cacoetes modernistas em
seu estilo, que sua matriz francesa, o que talvez lhe beneficie. O que não
deixa de ser interessante, dado o estrago que tais cacoetes provocaram em mãos
pouco habilidosas. Mesmo que existam referências subliminares a situação de
opressão política no país, refletidas seja na própria função que é dedicada ao
protagonista e que ele recusa exercer de fato ou na figura da autoridade
paterna, tais como na versão feminina empreendida por Forman em Os Amores de uma Loira, tal alegoria é
menos elaborada ou incisiva que a de outros realizadores do Leste Europeu do
período como Makavejev (O Homem Não é um Pássaro). Sua maior virtude é o quão vívido ele descreve seus personagens,
seja o inseguro Petr, vivido por um ator de curta carreira e que consegue
traduzir uma inquietação a partir de seu próprio polimorfismo que aprisiona uma
grande intensidade interior, pelo frescor da juventude representado pela Asa de
Martinikova e pelo patético pai de Vostcril que mescla medo, raiva e ternura em
seu olhar enquanto esbraveja contra o filho. A certo momento, o discurso
iracundo do pai ainda possui um teor de repressão duplicado pela imagem da
Virgem que se encontra emoldurada logo atrás dele. Forman demonstra aqui a
força de seu realismo que não precisa usar de subterfúgios talvez mais fáceis
como o da pura e simples caricatura tal como presente em Fellini (Amarcord, por exemplo). Sua poética do
cotidiano consegue grande força a partir de momentos banais como o que Petr é
abordado por um amigo enquanto carrega quadros para seu patrão ou que encontra
Asa em um parque. Seu tom de crônica
melancólica e agridoce, crítico mas sem
perder a ternura com o tacanho provincianismo do ambiente em qual gira sua
história, teria que esperar alguns anos até ser formulado nos Estados Unidos
(em A Última Sessão de Cinema, de
Bogdanovich). Talvez o seu maior trunfo seja justamente observar os limites,
inclusive para a violência, em tal sociedade – o único momento em que se
instaura uma situação de conflito, com Petr e sua pretendente a namorada sendo
rudemente abordados por Canda e seu amigo, tensão rapidamente desmobilizada pela
singela frouxidão do calção do mais jovem. Destaque para o baile,
particularmente apreciado por Forman como expressão de um momento intenso de
sociabilidade da juventude, presente igualmente em Os Amores de uma Loira e, evidentemente, em O Baile dos Bombeiros. Seu final em aberto, típico da época,
contrapõe o olhar de Petr para um fotograma congelado do pai que inicia uma
nova etapa de seu sermão, referência igualmente ao final de Os Incompreendidos (1959), de Truffaut,
com quem aliás pode ser comparado em vários aspectos de sua história.
Ceskolovenský Stání Film. 85 minutos.
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