Filme do Dia: Weiner (2016), Josh Kriegman & Elyse Steinberg


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Weiner (EUA, 2016). Direção: Josh Kriegman & Elyse Steinberg. Rot. Original: Josh Kriegman, Elyse Steinberg & Eli B.Despres. Fotografia: Josh Kriegman. Música: Jeff Beal. Montagem: Eli B. Despres.

Documentário que segue os bastidores da campanha à prefeitura de Nova York em 2013 do candidato democrata Anthony Weiner, mesmo após esse ter renunciando a sua carreira como agressivo parlamentar no congresso, fazendo uso de estratégias próximas de alguns candidatos republicanos, após o vazamento de fotos suas de roupa íntima e excitado em contatos pela internet dois anos antes. Quando inevitavelmente comparado com filmes referenciais de bastidores de uma campanha política como o clássico Primárias (1960), de Drew, fica bastante demarcado o que separa duas épocas, e isso em termos conceituais mais amplos, já que por seu próprio estilo esse documentário se encontra distante de representar algum marco em seu gênero como aquele. É a cultura da performance, da excessiva canibalização de imagens – das câmeras dos celulares de curiosos, da mídia tradicional, dos próprios produtores do documentário – e do mundo privado devassado duplamente, primeiro de forma não consentida pela exposição pública de imagens pornográficas, referências e de uma mulher que afirma ter feito sexo pelo telefone com Weiner e, segundo, de forma consentida, pelo próprio Weiner que a determinado momento, próximo ao final, quando comenta sobre sua postura crescentemente autodestrutiva na reta final da campanha à mulher, é indagado (provavelmente pelo próprio Kriegman) porque permitia que ele o filmasse naquela situação. Noutro momento, acuado diante de perguntas do próprio documentário, dispara sobre a técnica da “mosca na parede” que tornou célebre o cinema direto de Drew, em que os que eram filmados fingiam não estar sendo e não haviam perguntas diretas a eles ou depoimentos para a câmera, todos aqui presentes. Ainda mais ao final, a indagação de Kriegman parece ser respondida a posteriori, quando em depoimento direto à câmera, Weiner afirma que havia permitido o acesso da equipe de filmagem – ainda que em um dos momentos mais tensos flagrados entre ele e sua esposa Huma, ele pede que a equipe saia da sala em que se encontram, numa cena evocativa de célebre passagem de Entreatos (2004), de João Moreira Salles – para que uma visão mais complexa de si próprio e de toda a situação fosse posta. O que não parece ser exatamente uma garantia tendo em vista que o documentário, em última instância, compartilha dos mesmos elementos da imprensa sensacionalista.  Se o nível de exposição, mesmo com alguns rompantes confessionais de seu protagonista e flagrantes de reações espontâneas de bastidores, evidentemente não chega às raias de um documentário como Na Captura dos Friedmans (2003), de Andrew Jarecki, o mundo tornado espetáculo, e espetáculo não exatamente edificante, é o que se respira a todo momento e que o filme reproduz e, inclusive, chega a amplificar, de forma jocosa por vezes, como quando no embate corpo-a-corpo de Weiner tentando angariar as simpatias de diversos grupos, vai as ruas e se ouve a trilha sonora da célebre série S.W.A.T., de meados dos anos 1970. A figura de Huma é um tanto emblemática. Discreta e mais afeita aos bastidores – havia se tornado, inclusive, um dos braços direitos de Hillary Clinton - uma única vez faz uma declaração pública, quando novamente a mídia é tomada de assalto por declarações e imagens envolvendo seu marido. Quando sua equipe e o casal espera fervorosamente que a poeira baixe, vem-se agregar uma figura que quer viver seus minutos de fama, Sidney Weathers. Embora centrado, em sua maior parte, em imagens filmadas pela própria equipe, o filme também faz vasto uso de material de arquivo, incluindo a criação do personagem Charles Danger por comediantes que emulam um diálogo desse com uma mulher. E, tenta, tal como a garota que disse ter feito sexo  pelo telefone com Wiener,  flagrar um encontro entre ambos, burlado na última hora por seus assessores. Em várias ocasiões, no entanto, não há como driblar o olhar crescentemente decepcionado de Huma, que prefere não estar com o marido no dia da própria eleição, mas que não o impede de levar o filho e utiliza-lo quase como um escudo contra toda a voracidade dos flashes e câmeras voltadas para si. Entre patético e estoico, ou talvez melhor seria dizer quixotescamente estoico, Wiener ainda tem fôlego, na reta final, e completamente desacreditado, de rebater com certa dignidade um homem que lhe faz acusações éticas, recebendo solidariedade de uma plateia inicialmente morna, como já o fizera antes com um judeu que o aborda ao vivo diante das câmeras da CNN. Fibra, resiliência ou simples desejo de continuar sua carreira e tentar reerguer a sua persona populista que gostava de achacar os adversários? Talvez um pouco disso tudo e ainda bem mais, embora se fique com a impressão de que, de fato, nunca se consegue se aproximar de Weiner, mesmo com todo o exibicionismo aqui presente, ou talvez por conta dele mesmo. Sua figura tende a se tornar algo na tradição do que já apontava o pioneiro Grey Gardens (1976), só que na arena pública mais que exatamente na privada, mesmo sendo a última que vá determinar a primeira. Destaque para a euforia da criança que encontra acidentalmente com Weiner na porta de sua escola e liga para o celular da mãe para contar tudo presente nos créditos finais. Edgeline Films/Motto Pictures. 96 minutos.


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