Filme do Dia: As Quatro Aventuras de Reinette e Mirabelle (1987), Eric Rohmer


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As Quatro Aventuras de Reinette e Mirabelle (4 Aventures de Reinette et Mirabelle, França, 1987). Direção: Eric Rohmer. Rot. Original: Eric Rohmer, a partir de uma idéia de Joëlle Miquel. Fotografia: Sophie Maintigneux. Música: Jean-Louis Valéro. Montagem: María Luisa García. Com: Joëlle Miquel, Jessica Forde, Mr. Houseau, Mme. Housseau, Philippe Laudenbach, Yasmine Haury, Marie Rivière, Fabrice Luchini.


Mirabelle (Forde) é uma garota parisiense que por ar acaso conhece uma jovem do campo Reinette (Miquel), que possui aspirações artísticas. Reinette a convida a passar uns dias com ela e pretende lhe mostrar o que chama “a hora azul”, certo minuto do dia em que se faz um silêncio completo na natureza já que os pássaros noturnos já adormeceram e os diurnos ainda não acordaram. Após uma primeira tentativa frustrada e a grande decepção de Reinette, Mirabelle resolve passar mais uns dias e presencia o breve silêncio. Mirabelle a convida para dividir o apartamento com ela em Paris. Certo dia combinam de se encontrar em um café em Montmartre, porém Reinette tem problemas com o antipático garçom (Laudenbach), que exige que ela possua dinheiro trocado para pagar o café. Como não possui, cede a insistência de Mirabelle para abandonarem o local. Como o garçom afirmara que ela fugiria do local, retorna no dia seguinte para pagar, mas o garçom não mais trabalha na casa, pagando a conta para o proprietário. Mirabelle percebe uma mulher que rouba no supermercado (Haury) e que já foi visada por seguranças da loja. Quando se encontra em vias de ser flagrada, Mirabelle rouba sua sacola e a mulher é liberada por falta de provas. Mirabelle lhe tenta devolver a sacola, mas a mulher parte sem a ver. Seu ato provoca uma prolongada discussão com Reinette, que prefere não comer de nada que se encontra na sacola. Numa estação ferroviária, Reinette se encontra sem dinheiro após ter dado quase todos os trocados que tinha para uma pedinte (Rivière), que afirma não possuir dinheiro suficiente para chegar em casa. Ela própria tenta conseguir algo pedindo mas não consegue.  Sem dinheiro e com o aluguel do apartamento atrasado, ela reconhece a pedinte abordando outra mulher e a desmascara. Chocada com a reação emotiva da mulher, desiste de todo o dinheiro menos uma moeda para telefonar. Com a situação financeira difícil e sem conseguir quitar o aluguel do apartamento no mês que lhe é devido, Reinette decide voltar para o campo. Mirabelle a faz pensar em alternativas de sobrevivência. Decidida a cumprir o pacto de não abrir a boca uma vez sequer no dia seguinte, Reinette  leva seu quadro a um marchand (Luchini), porém finge ser surda-muda. Mirabelle, que já se encontrava no local, testemunha a humilhação da amiga pelo marchand que não pretende pagar a quantia exigida por Reinette e o  força  comprá-lo. Em poucos minutos, o marchand vende-o pelo dobro do preço.


Dividido em quatro sketches (A Hora Azul; O Garçom; A Pedinte, a Cleptomaníaca, O Ladrão e Vendendo um Quadro) o filme compõe um hiato entre os filmes da série Os Contos das Quatro Estações. Nesse sentido, o cineasta explora menos as expectativas afetivas de personagens femininoa que adentra no imaginário adolescente feminino (o roteiro foi inspirado numa ideia da própria atriz que encarna Reinette). A mudança temática não significa um abandono do habitual método de trabalho de Rohmer que compreende o desprezo pelo drama em si, a ênfase nas inquietações morais dos indivíduos (aqui notadamente presente na discussão sobre a cleptomaníaca, quando as próprias personagens fazem digressões sobre a situação, quando nas outras situações tais inquietações são expressas pela própria narrativa) e um realismo quase semidocumental, evidente sobretudo na participação de personagens representando a si mesmos, como o casal vizinho a Reinette. Assim como, evidentemente, uma narrativa eminentemente centrada menos nas ações vivenciadas pelas protagonistas que nos diálogos e reflexões que sobrevêm das mesmas.  O primeiro episódio, talvez o mais involuntariamente lírico entre todos, remete a uma semelhante representação sobre esse período entre a noite e o dia por Bergman em A Hora do Lobo,  no caso do cineasta sueco de maneira completamente diversa, expressionista e sombria. Rohmer surge em uma ponta na seqüência do supermercado. CER/Les Films du Losange. 99 minutos.

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