Filme do Dia: Orgia ou o Homem Que Deu Cria (1970)



Orgia ou o Homem Que Deu Cria (Brasil, 1970). Direção: João Silvério Trevisan. Fotografia: Carlos Reichenbach. Montagem: João Batista de Andrade. Música: Ibañez de Carvalho. Cenografia: Walcir Carrasco. Com: Pedro Paulo Rangel, Ozualdo Candeias, Fernando Benini, Sérgio Couto, Janira Santiago, Jean-Claude Bernardet, Marcelino Buru, José Fernandes, Neusa Mollon, Jairo Ferreira, Cláudio Mamberti.

Pobre agricultor mata o pai (Candeias) e sai em direção à cidade, encontrando diversos tipos com os quais pretende desbravar o Brasil como um homem que violenta e assassina um homossexual, um escritor (Bernardet) que se enforca após queimar seus livros, um travesti, um anjo, um rei, um padre, duas prostitutas, dois índios, um homem grávido. Na travessia até chegar à cidade eles encontram um local com mesa farta, onde o rei morre de indigestão. Mais adiante num cemitério, o homem grávido pare seu filho para a alegria geral. Enquanto todos festejam, os índios devoram a criança.

O filme de Trevisan faz parte de um momento em que a produção marginal radicaliza em termos de alegoria, histeria e agressão provocativa contra os cânones do cinema que eles consideravam “institucionalizado”. O resultado final, ainda que tanto politicamente quanto poeticamente anêmico – seu carnaval improvisado se arrasta por intermináveis e cansativos minutos – possui seu encanto somente ao propor uma visão generosa de uma trupe babélica que inclui os mais diversos tipos, justamente num período político tão árduo e segregador. Existem referêcias evidentes ao Glauber de Deus e o Diabo, seja na figura do protagonista em busca de um destino desalienador (aqui, embora exista uma referência explícita a sua situação de pobreza, o discurso parece acentuar a referência psicanalítica da morte do pai, provável influência do contemporâneo Pocilga, de Pasolini). Dito isso, infelizmente resta constatar que tal generosidade de proposta não se espelha no resultado que, se consegue criar um clima lúdico e inventivo em sua primeira meia-hora (lembrando nesse aspecto, filmes como Meteorango Kid) cai em seguida numa progressiva radicalização de urros, berros e posturas fetais. A partir de então, a única exceção criativa é o seu final, onde sobre um fundo negro faz um ajuste de contas um tanto quanto godardiano, relatando tanto o custo da produção quanto o processo que o levou à cansativa busca do financiamento em bancos. I.N.F. 90 minutos.

Comentários

  1. Nossa, Cid! Até tomar conhecimento desta postagem, jamais soube da existência deste filme. Vou assistir, hoje mesmo. Vi que está disponível no Youtube. Tem um bando de gente, na frente e atrás das câmeras, que merece toda a consideração de uma olhada, mesmo que o resultado final não atenda às expectativas. A conferir.

    https://www.youtube.com/watch?v=iRH98CJ8A40

    Abraços.

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  2. Que bom! Acho que talvez a maior função de quem escreve resenhas, para além das apreciações críticas baterem ou não com quem as lê, é essa também de divulgar obras pouco conhecidas. No caso, parece que ocasionalmente essa função tem sido contemplada pelo blog. Grato pelo retorno!! Abraço!!

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