Filme do Dia: Inimigo Público (1931), William A.Wellman
Inimigo
Público (Public Enemy, EUA, 1931).
Direção: William A. Wellman. Rot. Adaptado: Harvey F. Thew, baseado no conto Beer and Blood, de Kubec Glasmon &
John Brighton. Fotografia:
Devereaux Jennings. Música: David Mendonza. Montagem: Edward M. McDermott. Dir.
de arte: Max Parker. Figurinos: Edward Stevenson. Com: James Cagney, Jean Harlow, Edward Woods, Joan Blondell, Donald Cook, Leslie Fenton, Beryl Mercer,
Robert Emmett O`Connor, Murray Kinnell, Frank Coghlan Jr., Frankie Darro.
Tom Powers desde garoto (Coghlan Jr.) demonstrou
talento para pequenas malandragens e furtos com o inseparável amigo Matt Doyle
(Darro). Sua “ascensão” na carreira de criminoso se dá anos depois, na Chicago
dos anos 1910, com o convite de Neils
Nathan (Fenton) para fazer parte de seu
bando. Tom se torna um temido gangster que consegue fazer com que a violência
impere juntamente com a cerveja do industrial que financia todos e possui
bastante sangue-frio para assassinar o seu antigo líder Paddy Ryan (O´Connor) quando
se faz necessário. Suas atividades criminosas não são bem vistas pelo irmão que
lutou na I Guerra Mundial, Mike (Cook), que procura afastá-lo do contato com a
mãe viúva. Porém, a morte de Neils Nathan em uma acidente provoca uma
reviravolta no grupo. Alertados para entregar todo o dinheiro e armas e
desaparecerem por um tempo, a quadrilha se refugia em uma casa. Porém, num
acesso de raiva Tom sai da casa com Matt e se tornam vítimas de um atentado
pela quadrilha rival. Tom escapa e, ferido no hospital, reconcilia-se com a
família que o aguarda ansiosamente de
volta ao lar. Porém é sequestrado do hospital e morto.
Esse filme juntamente com Little Ceaser, produzido no mesmo ano, divide o mérito de
praticamente ter instituído um gênero, o do filme de gângster, talvez um
pioneirismo ainda mais marcante que o de Frankenstein,
do mesmo ano, para os filmes de terror,
no sentido de que no último caso o
gênero já existia no cinema mudo. Todos os elementos já se encontram aqui presentes,
inclusive a relação ambígua com o protagonista-marginal. Ao mesmo tempo em que
mensagens no início e final do filme reiteram a sordidez de tipos como Tom,
como forma de apaziguar o ânimo da censura da época, o que a narrativa
apresenta é justamente uma construção que não só cria uma certa
identificação com o personagem quanto se rende obviamente ao que há de
atraente em toda sua violência e anti-sociabilidade, expressa de maneira
modelar pela personagem da amante de Tom, vivida por uma Jean Harlow que ainda
não havia conquistado o auge de sua meteórica carreira, ao afirmar que já
tivera “dúzias de homens”, mas todos bastante polidos e sem a agressividade
máscula de Tom. Tanto quanto em Scarface
– A Vergonha de uma Nação (1932), de Howard Hawks, outro filme seminal do
gênero e que conseguiu sobreviver bem melhor ao tempo, o título do filme e sua
referência ao papel destrutivo dos gângsteres para a própria nação são outras
estratégias que dizem mais respeito a se relacionar com os códigos morais de
então que particularmente apropriado, já que tanto em um caso como noutro – e
aqui, principalmente – pouco se tem da dimensão pública e nacional que os atos
de Tom ou mesmo da vida dos gangsteres através da imprensa ou do que seja
provocam. O filme prefere muito mais enfatizar a dimensão do melodrama familiar
e, nesse sentido, os ecos dessa estrutura calcada no drama familiar e na
tentativa frustrada de regeneração se encontram em filmes tão distantes quanto,
por exemplo, Lúcio Flávio – Passageiro da Agonia (1977), de Babenco. Entre as
cenas mais célebres se encontram a que Tom estapeia uma de suas companheiras
com comida na mesa e a que retruca a ira do irmão sobre seus crimes, que ele
tampouco conquistou sua medalha de honra na guerra fazendo afagos aos alemães,
sendo um motivo a mais na “humanização do personagem” ao deixar evidente que a
sociedade apenas aceita o assassinato em situações específicas. Destaque para
a relação de inferioridade que Tom expressará no leito do hospital, ao afirmar
para a mãe que ele soube que ela sempre gostou mais do irmão. Guindando Cagney
como figura mítica do cinema americano a partir de então, tornou-se um filme
inúmeras vezes referenciado, inclusive de forma paródica em Quanto Mais Quente Melhor (1958), de
Billy Wilder. Warner Bros. 83 minutos.
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