Filme do Dia: Perigosa (1935), Alfred E.Green


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Perigosa (Dangerous, EUA, 1935). Direção: Alfred E. Green. Rot. Original: Laird Doyle. Fotografia: Ernest Haller. Música: Ray Heindorf, Bernhard Kaun & Heinz Roemheld. Montagem:  Thomas Richards & Hugh Reticker. Figurinos: Orry-Kelly. Com:  Bette Davis, Franchot Tone, Margaret Lindsay, Alison Skipworth, John Eldredge, Dick Foran, Walter Walker, Richard Carle.

Joyce Heath (Davis), atriz decadente e alcóolatra, tem uma chance de voltar aos palcos após um admirador de longa data, o engenheiro e rico homem de negócios Don Bellows (Tone), noivo da socialite Gail Armitage (Lindsay), interessar-se por ela. Joyce possui fama de má sorte, tendo provocado o suicídio de um ex-amante e a ruína do seu atual marido, Gordon (Eldredge), de quem vive separada a muito tempo, mas que sempre lhe negou o divórcio. Quando tudo se encontra preparado para o retorno triunfal de Joyce,  bancado pelo próprio Bellows, o pedido insistente de casamento desse logo após a estréia, desestabiliza Joyce, que não lhe havia contado sobre o fato de ainda ser legalmente casada. Ela procura Gordon e diante da negativa insistente desse, joga  o carro contra uma árvore. Nenhum dos dois morre. Bellows, no entanto, afasta-se de vez de Joyce e resolve casar. Essa, por sua vez, volta suas atenções para o marido, ainda hospitalizado.

Mesmo que o filme de Green, em termos estilísticos, esteja longe de apresentar algo que vá além do cardápio regular das produções hollywoodianas da época, torna-se interessante pelo modo ousado como constrói a decadência e liberalidade de uma mulher ainda casada, tema-tabu para os valores vigentes pós-Código Hays. Algo que nem mesmo o seu forçoso final ou a dimensão de auto-sacrifício da heroína, bem mais convencionais, conseguem solapar de todo.  Davis, aliás, encarna o protótipo da atriz de teatro/cinema vulnerável e passional que vivenciará posteriormente em produções hoje mais lembradas (A Estrela, A Malvada). Em seus melhores momentos, o interesse pela trama, urdido sobretudo a partir de seus diálogos e da interpretação e entonações vocais típicas da atriz, consegue surpreender inclusive por tiradas discretamente auto-referentes, como o momento em que se comenta que certos diálogos pareceriam irrealistas caso fossem endereçados a uma atriz inapropriada. E outra franca opção por demarcar a semelhança de sua própria narrativa com o elemento teatral, para além da talvez involuntária marcação rígida na interpretação dos atores, comum na época, é certamente o momento em que ambas as mulheres que disputam a atenção do mesmo homem, não se fazem de rogadas com a desistência aparente dele pelo privilégio da outra, murmurando a mesma sentença. A decisão final, completamente a cargo do homem, será descoberta somente com seu surpreendente desfecho, no qual as convenções sociais, em última instância, sobrepõem-se sobre o amour fou, não sem o que soa ser uma ponta de ironia subliminar no completamente inverossímil retorno de Davis ao marido que detestava, muito provavelmente imposto pelo estúdio. O muito bem escrito roteiro foi produto de Doyle, falecido precocemente aos 29 anos quando se adestrava em lições de vôo. Warner Bros. 79 minutos.

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