Filme do Dia: Lorca (1996), Marcos Zurinaga
Lorca (Lorca, Espanha/França/EUA/Porto Rico, 1996)
Direção: Marcos Zurinaga . Rot.Adaptado: Neil Cohen & Ian Gibson, baseado nos livros Juan
Antonio Ramos. Fotografia: Juan Ruiz-Anchia. Música: Mark McKenzie. Montagem: Carole
Kravetz . Com: Esai Morales, Andy Garcia, Edward James Olmos, Jeroen
Krabbé, Miguel Ferrer, Giancarlo Giannini, Marcela Walerstein, José Coronado,
Naim Thomas.
1954. Ricardo (Morales) retorna de Porto Rico a
Granada, Espanha, para tentar desvendar o mistério do assassinato do maior
dramaturgo e poeta espanhol do século, Federico Garcia Lorca (Garcia), em 1939.
Leva consigo todo o trauma das recordações que vão do encontro fortuito com Lorca
quando garoto (Thomas), após apresentação conturbada de uma peça sua, quando
Lorca o convida para jantar com seus amigos, sendo levado pelo pai, Roberto
Lozano (Olmos), até o assassinato do melhor amigo de infância, também
aficcionado por Lorca (quando, em meio
ao tiroteio, ficam sabendo da volta do poeta à Granada e resolvem ir atrás
deste) e o pai que chega certa noite ensaguentado em casa, resolvendo partir da
Espanha. Ao chegar, sempre levado pelo mesmo taxista (Giannini), Ricardo torna-se
hóspede de Coronel Aguirre (Krabbé), pai de seu melhor amigo e recebendo o
conselho de Maria Eugenia (Walerstein), sua filha e amiga de infância, que afirma que este deve procurar Nestor
Gonzalez (Coronado) em um cabaré. Embora seja grosseiro inicialmente com
Ricardo, Gonzalez lhe indica quem ele acredita ser responsável pela morte de
Lorca, aquele que foi buscá-lo em sua residência no dia de seu desaparecimento,
e que agora publica as obras de Lorca em sua editora em Madri. Contactando com
o editor, este lhe afirma que tentara proteger Lorca, mas nada pode fazer
frente a fúria de Centeno (Ferrer). Ao retornar de Madri, Ricardo percebe que
está indo longe demais. Uma das prostitutas que conversara com ele no cabaré é
espancada e Nestor Gonzalez abandona assustado a cidade. Apesar das súplicas do
pai e de Aguirre, assim como do taxista, para que retorne, Ricardo vai adiante
nas investigações, sendo surpeendido na cama com Maria Eugenia e levando uma
surra de Centeno. Resta-lhe encontrar-se com a última peça, um toureiro amigo
de Lorca, que lhe conta toda a verdade: Centeno havia sido incubido de
assassinar Lorca, mas não consegue matá-lo, quando o Cel.Aguirre, chefe da milícia franquista, toma-lhe
a arma e dá um tiro no poeta. O pai de Ricardo, bebâdo e rastejando, é o autor
do segundo disparo. Na verdade, o sangue que vira através da porta entreaberta
em sua casa, não se trata do sangue de seu pai torturado, mas do sangue de
Lorca. Após um conflito com Centeno e Aguirre, onde Ricardo por pouco não mata
um ou outro ou se suicida, e em que o toureiro, abalado, é atingido pelo touro,
Ricardo volta a Porto Rico, onde casa-se com Maria Eugenia e, em uma
comemoração de aniversário, demonstra um certo mal-estar quando cruza o olhar
com o de seu pai.
Acadêmico e
procurando unir pretensões artísticas a um cinema comercialmente viável, o
filme de Zurinaga, não consegue ser bem sucedido nem artisticamente nem
enquanto produto comercial. Tudo lhe pesa ao contrário: o fraco roteiro, que
procura assimilar elementos do thriller
noir para criar um certo suspense na investigação de Ricardo, mas que acaba
sendo toscamente mecânico e pouco original (Bertolucci conseguira melhores
resultados, em um enredo semelhante, com o já fraco A Estratégia da Aranha); o fato de ser falado em inglês, visando
notadamente o mercado americano, e pouco se importando para o fato de que todos
os espanhóis, inclusive um dos maiores nomes de sua literatura, simplesmente
deixem de lado sua língua é cruel; as interpretações sofríveis, com destaque
para a especial canastrice de Morales; a utilização mais que acadêmica do flashback, deixando uma sensação enorme
de deja vú (quantos filmes já não
assistimos com estrutura diametralmente simétrica?); atenuação dos conflitos
históricos, que são deixados de lado, em toda sua complexidade, para que o maniqueísmo fácil deixe bem nítido
quem são os heróis e quem são os vilões da história; happy-end tradicional, etc. De positivo resta pouco mais que a
interpretação do grande veterano Gianini, neste filme que soa tão falso quanto
a poesia que Garcia exclama no início do filme, assim como a descrição de um
mesmo episódio - a captura de Lorca pela milícia franquista - que ganha
colorações diferentes segundo o ponto de vista de quem narra (enfrentando-a
destemidamente, segundo o relato de sua irmã, ou fragilizado e aterrorizado
segundo o editor de seus livros). Certamente indigno do nome que carrega como
chamariz. Columbia. 142 minutos.
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