Filme do Dia: A Inglesa e o Duque (2001), Eric Rohmer

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A Inglesa e o Duque (L’Anglaise et le Duc, França, 2001). Direção: Eric Rohmer. Rot. Adaptado: Eric Rohmer, baseado nas memórias de Grace Elliott, Diário de Minha Vida Durante a Revolução Francesa. Fotografia: Diane Baratier. Montagem: Mary Stephen. Dir. de arte: Antoine Fontaine. Cenografia: Lucien Eymard. Figurinos: Nathalie Chesnais & Pierre-Jean Larroque. Com: Lucy Russell, Jean-Claude Dreyfus,  Alain Libolt, Charlotte Véry, Rosette, Leonard Cobiant, François Marthouret, Caroline Morin, Héléna Dubiel.
          Grace Elliott (Rusell) é uma inglesa que possui boas relações com a aristocracia francesa, que vive um momento particularmente crítico, com as perseguições que se acirram após a tomada ao poder pelos jacobinos. Amante do Duque de Orleans (Dreyfus), Grace consegue passar imune inicialmente pelas tormentas vivenciadas pelos aristocratas nativos por ser inglesa, embora sinta-se profundamente aterrorizada com os rumos que a política está tomando. Profundamente leal aos monarcas, choca-se com as opiniões do Duque, que sobretudo para sobreviver aos novos tempos, abraça a causa revolucionária. Recolhendo-se em sua casa de campo para fugir da violência em Paris, após uma sofrida viagem à pé e solitária, Grace é chamada por uma amiga para defender a causa de um nobre perseguido, Champcenetz (Cobiant), ex-governador das Tulherias, a quem protege mesmo correndo risco de vida, devido as constantes patrulhas policiais e a presença de uma criada jacobina, Pulcherie (Véry) . Seu retorno a Paris é traumático, já que é recepcionada com a cabeça degolada de uma princesa conhecida sua. Após uma certa insistência, consegue, através do Duque de Orleans, transferir Champcenetz para sua casa de campo. De lá ele consegue exilar-se na Inglaterra após algum tempo. Livre do Comitê Revolucionário nesse primeiro momento, logo voltará a ser perseguida pelas patrulhas, após a morte do Rei, para seu completo terror e desapontamento com o ex-amante que, prometendo abster-se da votação, vota a favor da execução do monarca e primo. O duque lhe admoesta para que se livre de toda correspondência pessoal, sendo pouco depois vítima do tribunal revolucionário. Livre em um primeiro julgamento, já que o tribunal não conseguiu provas de traição, Grace voltará a ser presa e condenada, sobrevivendo graças a queda de Robespierre.
            Esse drama histórico com requintes de produção inéditos para o padrão modesto das obras do cineasta pode parecer estranho para os que apenas conhecem suas narrativas contemporâneas, embora Rohmer já houvesse trilhado caminho semelhante em filmes como Percival, O Gaulês (1978) e A Marquesa D’O (1976). Sua aberta simpatia pela protagonista em oposição aos personagens do povo, apresentados como uma turba inconsequente, ao mesmo tempo em que sugere uma visão conservadora, igualmente professa um coerente,  pouco usual e anti-populista ponto-de-vista. Detendo-se, sobretudo, nas conversações, mais que na descrição das ações dos personagens, também nesse sentido o filme se afasta das típicas abordagens do período. Planejado como epitáfio da carreira do cineasta, foi gravado em vídeo digital de alta definição e utiliza-se, com grande sucesso, de efeitos gráficos computadorizados para reproduzir os cenários da época que não pretendem esconder seu nível de anti-realismo e de proximidade com as pinturas da época (reproduzidas na bela abertura). Sua beleza está associada, dessa maneira, a uma simplicidade que se encontra ausente nos dramas de época tradicionais e sua constante produção milionária de cenários artificiais ou utilização de prédios históricos. A descrição do panorama social do período foge do esquematismo óbvio, ao apresentar tanto uma aristocracia como uma criadagem ideologicamente divididas e até mesmo a visão dos revolucionários, menos matizada, tampouco é homogênea, como se percebe no tribunal revolucionário que julga Grace. A escolha do cineasta foi, de qualquer forma, de centrar sua perspectiva na aristocracia, nenhum membro do povo possuindo a menor participação mais efetiva na narrativa. Compagnie Eric Rohmer/Pathé Image Production. 123 minutos.


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