Filme do Dia: Cobra (1925), Joseph Henabery
Cobra (EUA, 1925).
Direção: Joseph Henabery. Rot. Adaptado: Anthony Coldeway, June Mathis &
Natacha Rambova, baseado na peça de Martin Brown. Fotografia: Harry Fischbeck
& Deveraux Jennings. Montagem: John H. Bonn. Dir. de arte: William Cameron.
Figurinos: Adrian. Com: Rudolph Valentino, Nita Naldi, Casson Ferguson,
Gertrude Olmstead, Hector Sarno, Claire de Lorez, Eileen Percy, Lilian Langdon.
O
aristocrata conquistador Conde Rodrigo Toriani (Valentino) parte para os
Estados Unidos com o recém-amigo Jack Doming (Ferguson), para tentar refazer
sua vida, trabalhando como consultor na empresa do amigo que vende
antiguidades. Rodrigo apaixona-se por sua secretária, Elise (Naldi). A
libertina esposa de Jack, Mary Drake (Olmstead), consegue seduzi-lo e o casal
vai a um hotel. Drake morre tragicamente no hotel, após a partida de Toriani.
Atormentado com a culpa em relação ao amigo Doming, Toriani lhe revela sobre a
noite que passara com sua esposa e parte para uma temporada na Itália, por
indicação do amigo. Quando de seu retorno, fica sabendo do interesse de Doming
por Elise, o único amor “sincero” que vivenciara na vida. Toriani finge ser o
incorrigível galanteador para Elise e parte em viagem.
Penúltimo
filme da relativamente breve (12 anos) mais intensa (39 títulos) carreira do então
galã maior de Hollywood, Valentino. Embora não seja notável nem em termos de
estilo nem tampouco em sua moralidade, com relação à produção rotineira
contemporânea, o filme consegue ser eficiente nos limites do melodrama onde a
paixão romântica do protagonista é praticamente rivalizada pela dedicação ao
amigo. E é dentro dos códigos da dupla moralidade que o filme merece ser lido
do início ao final. Sua ambiguidade surge notavelmente no momento de chegada a
Nova York, quando logo após uma cartela que afirma que ele viajara com a melhor
das intenções, observa-se o mesmo a observar as pernas das senhoras que
passeiam no convés do navio, enquanto o amigo lhe aponta que
outra senhora, a Estátua da Liberdade, lhe trará menos aborrecimentos. A
mensagem é clara e tem uma forte vinculação com as identidades nacionais. O
italiano de “sangue quente” se tornará domesticado sob a égide de uma nova
moral, nos Estados Unidos. E as figuras femininas são a contraposição polar
mais marcada do que se possa esperar. Enquanto uma é doméstica, suave,
protetora e dedicada, além de submissa em seu amor, sendo que a profissão lhe
cai como uma luva, a outra é uma vamp intempestiva e devoradora de homens, que lhe
rende a alcunha que é título do filme. Sua sexualidade “desregrada”
evidentemente será punida com morte violenta. De toda forma, ainda que o filme
mais aponte que explicite de fato – já que não ficamos sabendo da decisão de
Elise – ele condena a infelicidade e mesmo a morte àqueles que se guiavam até
então pelo padrão da sexualidade agressiva e unindo o casal de moral “impoluta”
e norte-americano. Enquanto Toriani, figura de aristocracia bastante
identificada com o Velho Mundo, representa algo de atraente e repulsivo ao
mesmo tempo e se auto-sacrifica, a vamp ver a ser sacrificada de forma quase
Deus Ex-Machina. Ninguém praticamente conseguiu vencer a barreira do som.
Valentino e Ferguson pela morte precoce, Naldi pelo insucesso de fazer a
transição (de fato nem tentou ou não foi aceita em produções sonoras) e
Henabery tendo sido relegado a direção de curtas, a escala mais baixa que
poderia haver na indústria. Natacha Rambova, esposa de Valentino e produtora do
filme, surge numa ponta não creditada como dançarina. Há uma referência a essa
produção em A Invenção de Hugo Cabret
(2011), de Scorsese. Ritz-Carlton Pictures para Paramount Pictures. 70 minutos.
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