Filme do Dia: Pássaro do Paraíso (1932), King Vidor

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Pássaro do Paraíso (Bird of Paradise, EUA, 1932). Direção: King Vidor. Rot. Adaptado: Leonard Praskins, Wells Root & Wanda Tuchock, baseado em peça de Richard Walton Tully. Fotografia: Lucien N. Adriot, Edward Cronjager & Clyde De Vinna. Música: Max Steiner. Montagem: Archie Marshek. Montagem: Carroll Clark. Com: Dolores Del Rio, Joel McCarea, John Halliday, Richard “Skeets” Gallagher, Bert Roach, Lon Chaney Jr., Wade Botler, Arnold Gray.
Numa aventura até uma “exotica” ilha do sul, um grupo de aventureiros encontra uma comunidade nativa que não fala inglês. Um dos membros da expedição, Johnny Baker (Halliday) é seduzido por uma nativa chamada Luana (Del Rio), considerada tabu pela comunidade, que considera que o relacionamento dos dois despertou a ira do vulcão local. Aprisionados, Baker consegue levar Luana de volta ao navio. Quando se preparam para partir, os nativos a buscam e ela decide que seu lugar é mesmo entre os seus.
Essa delirante fantasia de amor, permeada por todos os clichês relativos aos “selvagens” (basta evocar o King Kong, de Ernest Schoedsack e Merian C. Cooper, realizado no ano seguinte) também se aproveita de toda a sensualidade que pode ser explorada nos corpos semi-despidos ou completamente despidos. Algo que a seqüência submarina em que Luana, tal e qual uma sereia, vem seduzir o jovem marinheiro, deixa em aberto, lembrando ser o filme anterior ao Código Hays, que no ano seguinte padronizaria a moralidade prevalente na produção cinematográfica americana, reprimindo o que era considerado como excessiva liberalidade nos filmes anteriores. Aliás, ambas as características, o etnocentrismo com relação às culturas ditas “selvagens” e a exploração da sensualidade dos corpos humanos próximos da referência bíblica ao paraíso tem sido recorrentes ao longo da história do cinema. No caso do primeiro, basta avaliar o quanto a refilmagem de Peter Jackson de King Kong, mantem a mesma visão sobre os nativos. Quanto ao segundo, a seqüência em que o casal protagonista encontra uma ilha paradisíaca onde irá viver seu curto idílio edênico, assim como a seqüência submarina, antecipam o tema central e uma seqüência particular de um filme como A Lagoa Azul (1980), de Randal Kleiser. O resultado final é constrangedoramente explícito em seu etnocentrismo, seja ao dotar a protagonista indígena de um tipo físico e atitudes muito mais próximas do Ocidente que seus companheiros “selvagens”, seja na absoluta mão única em que se dá o contato cultural, confirmada pela seqüência em que apenas Luana se presta a aprender a língua do Outro, Johnny pouco se preocupando em aprender algo dessa cultura repleta de “tolas superstições”. Luana que já havia salvo seu amado das garras de um tubarão, tampouco demonstrará qualquer pesar, tal e qual sua companheira Iracema da literatura romântica brasileira, quando vir algumas das lideranças de seu povo serem assassinadas pelos brancos com quem se encontra. Mesmo porque ela se destaca física e moralmente dos seus companheiros nativos, aproximando-se muito mais de um padrão de beleza latino e com modos não muito distantes das mulheres “civilizadas”, inclusive tendo momentos de culpa “pelos pecados” que cometeu. Porém, numa crise final de consciência com relação à disparidade de seus mundos, resolve se entregar ao seu povo, mesmo sabendo que o seu destino final será ser sacrificada na boca do vulcão. A seqüência em que Johnny procura convencer uma nativa a lhe arranjar uma canoa trocando-a por um gramofone parece ter sido inspirada em Nanook, o Esquimó(1922), de Flaherty. Vidor, cineasta veterano do cinema mudo, realizará o primeiro filme com uma trilha completamente sincronizada. RKO Radio Pictures. 80 minutos.


Comentários

  1. Originalmente, o título no Brasil é AVE DO PARAÍSO. Há uma sequência que provocou escândalo e muito frisson nos anos 30: Dolores Del Rio nadando sob as águas. Quando vi o filme, na Cinemateca do MAM, dava a impressão de que estava totalmente nua. Se assim me pareceu nos anos 80, imagine para as plateias da década de 30.

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  2. Sim, você está coberto de razão e uma pesquisa rápida na internet me fez confirmar antes mesmo da postagem que o título brasileiro do filme é "Ave do Paraíso" como você indica. A teimosia dessa vez se deu por dois motivos: 1) foi assim que o conheci na TV a Cabo, nos distantes tempos em que ainda assistia TV, de qual tipo seja; 2) acho o título meio intragável, além de ser um nome de um pássaro de fato. Mas estou pensando se devo mudar ou não, tendo em vista que é assim que de fato o filme é conhecido e dificultaria se alguém buscasse por ele no arquivo do blog. Sim, mudando de assunto, as ousadas cenas, assim como do primeiro Tarzan com Weissmuller jamais poderiam ter se dado pós o que popularmente se convencionou chamar "Código Hays".

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