Filme do Dia: A Outra (1999), Youssef Chahine
A Outra (L’Autre, França, 1999). Direção:
Youssef Chahine. Rot. Original: Youssef Chahine & Khaled Youssef. Fotografia:
Mohsen Nasr. Música: Yehia El Mougy. Montagem:
Rashid Abdel Salam. Dir. de arte: Hamed Hemdan. Figurinos: Nahed
Nasrallah. Com: Nabila Ebeid, Mahmoud Emida, Hanan Tork, Hani Salama, Lebleba,
Hassan Abdel Hamid, Ezzat Abou Aouf, Ahned Fouad Selim.
Adam
(Salama) é o filho de um casal milionário que, estudando nos EUA, retorna de
dois em dois anos ao Egito para passar férias. Dessa vez ele apaixona-se pela
jornalista sem recursos Hanane (Tork). Contra à vontade da possessiva mãe,
Margaret (Ebeid), Adam casa-se com Hanane. Após uma lua-de-mel paradisíaca, os
problemas começam a surgir. Hanane está envolvida em uma matéria jornalística
que compromete não só o melhor amigo de Margaret, como a própria família de
Adam. Indignado com o orgulho da esposa, Adam estupra-a. Margaret fica feliz ao
saber que se encontram separados e adverte-o que ele tem que casar com alguém
de seu nível. Porém, o casal se reconcilia e Adam vai morar com a mãe de
Hanane. Margaret se torna cada vez mais obsessiva com relação ao amor ao filho
e se entrega ao álcool e as drogas. Hanane fica refém do próprio bando do
irmão, um terrorista, que procura ganhar dinheiro com Margaret para abandonar o
país. Margaret, no entanto, avisa a polícia. Cercados pela polícia, o irmão é
morto por um membro do próprio grupo e Hanane e Adam são vítimas da polícia.
Chahine
realiza sua habitual mescla de melodrama e política, característica que
compartilha com Fassbinder e Ken Loach, indo ainda mais longe nos clichês do
gênero que o cineasta alemão ou produções históricas do próprio cineasta, como O Destino. É a lógica maniqueísta que move os personagens e o cineasta
associa tal lógica a duas variáveis básicas: situação de classe e identidade
nacional. Assim a megera Margaret somente se identifica com Nova York e pouco
se importa com os 64 milhões “desse povo”.
Hanane, a heroína, é sua
contraparte, plenamente egípcia e da classe média baixa. Já Adam se encontra na
encruzilhada desses dois mundos. Realizando uma tese de doutorado em uma
universidade americana sobre o terrorismo e bastante dominado pela mãe, passará
a mudar de consciência no seu contato com Hanane. Fundamental para sua mudança
e o rompimento com a mãe será o assassinato de um colega de universidade
argelino idealista pelo terrorismo. Quando a mãe lhe afirma que ele foi gerado
em uma relação à três e que pode ser americano, Adam defende sua identidade
egípcia, calcada nos seus sentimentos, mais que qualquer outro critério. Sua
mãe, por sinal, tem também como característica o decadentismo sexual com que a
elite econômica costuma ser identificada (nos filmes do Cinema Novo, por
exemplo), tendo sido vítima dos abusos do próprio pai e possuindo um amor
exageradamente dúbio pelo filho. Não se fazem presentes os números musicais,
com exceção de uma rápida dança no momento do casamento, quase sempre presentes
no universo do cineasta como do cinema egípcio como um todo. Ao contrário do
universo de Fassbinder e de outros filmes dele próprio, esse filme de Chahine é
prejudicado por uma excessiva simplificação do quadro social que analisa, risco
que o britânico Ken Loach também por vezes sucumbe, ainda que os filmes de
Loach se aproximem mais de uma perspectiva realista que dos excessos típicos do
melodrama como Chahine e Fassbinder. Apresenta cenas de um apoteótico baile ,
que surge como por encanto quando Margaret afirma que sua esposa jamais saberá
dançar uma verdadeira valsa. France 2 Cinéma/Le Studio Canal +/Ognon Pictures.
101 minutos.
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