Filme do Dia: Flechas de Fogo (1950), Delmer Daves
Flechas de Fogo (Broken Arrow, EUA, 1950). Direção:
Delmer Daves. Rot. Adaptado: Albert Maltz & Michael Blankfort, a partir do
romance Blood Brother, de Eliott
Arnold. Fotografia: Ernest Palmer. Música: Hugo Friedhofer. Montagem: J. Watson Webb Jr. Dir. de arte: Albert
Hogsett & Lyle R. Wheeler. Cenografia: Thomas Little & Fred J. Rode.
Figurinos: René Hubert. Com: James Stewart, Jeff Chandler, Debra Paget, Basil
Ruysdael, Will Geer, Joyce Mackenzie, Arthur Hunnicutt, Chris Willow Bird, Jay
Silverheels.
Tom Jeffords
(Stewart) desde um encontro com um jovem índio ferido, de quem cuidou e recebeu
uma oferenda, torna-se cada vez mais próximo dos índios apaches, incluindo seu
líder, Conchise (Chandler) e apaixonando-se pela bela Sonseeahray (Paget). Com muita dificuldade, e desconfiança de
ambos os lados, Conchise, Jeffords e o General Oliver Howard (Ruysdael) firmam
um acordo de paz, ainda que os índios “renegados” por Conchise, e cuja
liderança passa a ser Geronimo (Silverheels), ataquem ocasionalmente uma
diligência ou que homens brancos mal intencionados promovam uma emboscada em
que Sonseeahray seja morta.
Esse western se
torna um curioso antecessor dos filmes que começavam a contestar a habitual
visão dos índios – algo que já havia sido trabalhado em alguns filmes dos idos
do cinema narrativo, inclusive excluindo os brancos do universo dramático (como
em Os Irmãos Indígenas ou The Mended Lute ou mesmo abertamente
pró-índios como é o caso de The Red
Man’s View, de sintomaticamente explícito título – tais como Rastros de Ódio (1956), de John Ford ou
o posterior O Pequeno Grande Homem
(1970), de Penn. E, curiosamente, inicia fazendo menção ao habitual mote de que
tudo de fato aconteceu como narrado, excluindo o fato dos índios falarem em
inglês, quase como num pedido de desculpas, por conta de na época ainda não ser
possível esse acréscimo de realismo; algo que, aliás, deveria ser estendido à
própria conformação do elenco que, tal como nos tempos de Griffith, trará
brancos e atores de algum renome, como é o caso de Paget e Chandler, no papel
de índios. Descontados anacronismos menores, associados ao modo de representação
e caracterização dos índios, o filme consegue construir um drama em que a
alteridade é elaborada com rara maturidade em termos da visão cinematográfica
contemporânea. Existe falhas, desconfianças, ressentimentos e ódios tanto no
universo dos brancos quanto dos índios e ainda que James Stewart de certa forma
seja observado como principal responsável pelos primeiros contatos que
resultarão em uma situação de paz oficial entre índios e brancos, encontra-se
longe de ganhar uma dimensão grandiloquente ou mitológica como habitual. Quando
da morte de sua amada, é Conchise quem toma a frente e observa que falhas
ocasionais resultantes de índios ou brancos isolados não pode por a risco o que
havia sido o trato entre o exército americano e as lideranças indígenas,
coibindo Jeffords de qualquer retaliação. E, quando se trata de quebrar o pacto
de paz, os brancos são observados de forma ainda mais ardilosa que os índios
renegados, pois sua emboscada conta com a boa fé dos índios e de Jeffords.
Resta ao último se consolar que a morte de Sonseeahray sela a paz entre os
grupos e resta a ele submeter sua infelicidade pessoal à felicidade coletiva,
vagando errante pela gigantesca pradaria, com o espírito dela consigo. Maltz,
na época, fazia parte da lista negra dos roteiristas do Macarthismo.
Ironicamente, a flecha partida em sinal de trégua e paz entre brancos e índios
que faz menção o título original e que é literalmente rompida por Conchise se
transforma, por motivos de retórica ou mais provavelmente mercadológicos, em
“de fogo” na versão brasileira. 20th Century Fox
Film Corp. 93 minutos.
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