Filme do Dia: Barronhos: Quem Teve Medo do Poder Popular? (1976), Luis Filipe Rocha
Barronhos: Quem Teve Medo
do Poder Popular? (Portugal, 1976). Direção: Luis Filipe Rocha. Fotografia:
João Abel Aboim. Montagem: João Pedro Andrade dos Santos.
Documentário em 16 mm
aborda, a partir de assassinato, as tensões sociais e interesses de grupos do
bairro que dá nome ao mesmo e, por extensão, do próprio país. Consistente e
fazendo uso de estratégias estilísticas diversificadas nas cinco partes que é
dividido (O Crime, O Bráulio, O Jaime, O Bairro, O País) e que não apenas são
apresentadas com cartelas como igualmente verbalizadas. Se os episódios que se
vinculam ao caso do assassinato são primordialmente centrados em depoimentos
para a câmera, o que aborda o bairro é direcionado pela voz over e didaticamente entre os interesses
contrários de uma comunidade pobre na periferia de Lisboa e o que se refere ao
país na contra-mão do anterior, centrando-se na imagem de lideranças políticas
na Portugal pós-Revolução dos Cravos – o próprio narrador se apressa em afirmar
que o termo revolução talvez tenha sido aplicado precipitadamente ao contexto
em questão. A complexidade da situação é bem representada pelo filme que não
segue uma tendência militante convencional. Se detalhes quanto ao crime se
perdem dada a sonorização e ao sotaque português ocorre o mesmo com a dimensão
macro (aliás, partir de um episódio pontual para pensar o contexto mais amplo é
uma opção interessante e pouco habitual) para aqueles pouco familiarizados com
a situação em questão. Por outro lado, o cineasta não poupa em planos de
detalhe dos recortes diversos pregados na parede de um dos entrevistados, que
vão de propaganda de companhia aérea a imagens eróticas - evocativas de Theodorico, o Imperador do Sertão (1978), de Eduardo Coutinho. Numa das imagens mais felizes do filme, a voz
circunspecta do narrador a falar sobre o bairro é acompanhada pela imagem de um
garoto fantasiando se encontrar comandando uma motocicleta, sentado em um
tronco com um balde na cabeça. Ao final, o filme parece cético quanto a utopia
decantada pelo movimento de mudança, apresentando várias crianças em situação
de extrema miserabilidade. Faz uso de imagens de arquivo, discretas encenações,
sendo aliás a descrição com que arregimenta toda essa diversidade de opões de
estilo talvez a sua mais brava virtude. Os sons do acordeão que o garoto toca
ao final são observados também próximo ao início. Instituto Português de
Cinema. 53 minutos.
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