Filme do Dia: Pai Patrão (1977), Paolo e Vittorio Taviani


Pai Patrão Poster


Pai Patrão (Padre Padrone, Itália, 1977). Direção: Paolo e Vittorio Taviani. Rot. Adaptado: Paolo e Vittorio Taviani, baseado em livro de Gavino Ledda. Fotografia: Mario Masini. Música: Egisto Macchi. Montagem: Roberto Perpignani. Dir. de arte: Gianni Sbara. Figurinos: Lina Nerli Taviani. Com: Omero Antunutti, Saverio Marconi, Marcella Michelangeli, Fabrizio Forte, Marina Cenna, Stanko Molnar, Nanni Moretti.
Desde a mais tenra idade, Gavino (Forte), filho de um rude campônio sardenho, sofre com os rigores de um pai que o retira dos bancos escolares para lhe ajudar no campo. Quando se torna um jovem adulto (Marconi) o pai lhe quer no exército. Gsvino, após uma tentativa malsucedida de emigrar para a Alemanha, vê essa como sua chance de abandonar o ambiente opressivo e patriarcal familiar. No exército é discriminado por não falar italiano e proibido de se manifestar em seu dialeto. Ele não pretende seguir carreira militar, no entanto, entrando para universidade e se tornando linguista. Quando retorna a morada do pai, os conflitos com esse persistem e ele decide abandonar mais uma vez a família.
O elemento da memória, recorrente na filmografia da dupla, aqui surge como motor central. Já que o momento “presente” de seu protagonista é completamente opaco diante ou de suas memórias ou do vínculo maior com esse passado, que é a sua região e família. Como em outros de seus filmes, os Taviani fazem uso, mesmo que moderado, de uma figura de narrador no mesmo plano dos elementos que são evocados, recurso celebrizado sobretudo por Bergman (de modo mais memorável em Morangos Silvestres). Só que aqui ainda vai além, pois quem efetua os comentários é o próprio autor da obra adaptada. O que, diga-se de passagem, não acrescenta aparentemente nenhum efeito maior. Com atores razoáveis e certo pendor para a recusa sentimental do passado – numa das cenas mais fortes nesse sentido, na qual o fluido movimento de câmera aponta para um dos clímax dramáticos do filme, há uma evidente contraposição entre o teor grandiloquente das legendas, que falam de campos imemoriais, e a explosão de alívio ressentido que é coroado por Gavino urinando na terra. É justamente essa relação ressentida com a figura paterna que move praticamente todo o filme, o que pode sugerir um núcleo familiar tão fechado em si próprio quanto o de Lavoura Arcaica. Ao contrário do filme brasileiro, no entanto, mesmo que evidentemente se siga sempre o ponto de vista de Gavino, não há uma imersão nas relações familiares ou no subjetivismo de seu protagonista de forma tão incisiva. A sexualidade, engessada e buscada como alívio nas brincadeiras com colegas e animais, torna-se completamente ausente da vida adulta de Gavino. Ao final de contas, se a recusa a visão clichê nostálgica do passado é um dos pontos fortes do filme, esse tampouco deixa de se contaminar pelo tom rancoroso de sua fonte. E o que é pior, um rancor que não parece apontar para nada mais conclusivo do que ele próprio. A história, em sentido mais amplo, é virtualmente eliminada, ao ponto de não se saber ao certo em que momento se transcorre a narrativa.  Palma de Ouro no Festival de Cannes. Cinema S.r.l/RAI. 113 minutos.


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