Filme do Dia: Ménilmontant (1926), Dimitri Kirsanoff


Ménilmontant Poster

Ménilmontant (França, 1926). Direção, Rot. Original e Montagem: Dimitri Kirsanoff. Fotografia: Léonce  Crouan & Dimitri Kirsanoff. Com: Nadia Sibirskaia, Yolanda Beaulieu, Guy Belmond, Jean Pasquier, Maurice Ronsard.
Duas jovens irmãs (Sibraskaia e Beaulieu) partem para Paris, após o assassinato de seus pais. Lá o breve período de esperança e alegria logo cede a dificuldade de levar a vida. A irmã mais jovem (Sibraskaia) se enamora de um homem (Belmond), que aparentemente somente quer seus favores sexuais. Após um tempo afastada de casa, depois de flagrar seu homem com a irmã, vagando pelas ruas e com um filho recém-nascido, ela retorna as imediações do prédio onde morara e descobre que a irmã se tornou prostituta. Enquanto as duas se reencontram emocionadamente, o homem é assassinado por um rival.
Pérola virtualmente pouco conhecida do cinema silencioso, o filme de Kirsanoff abdica dos entretítulos para se fazer valer de sua excêntrica mescla entre cinema narrativo e de vanguarda. Os belos efeitos imagéticos comuns nos filmes da vanguarda francesa contemporânea, tais como sobreposições e movimentos excêntricos de câmera aqui são utilizados sobretudo para expressar o estado interior da protagonista, conseguindo efeito grandemente lírico. Assim o novo mundo feérico da cidade grande é apresentado através de um festival de efeitos ópticos e a contemplação da possibilidade de suicídio através de planos das águas do rio enquanto planos mais convencionais são destinados aos momentos em que se busca um efeito dramático mais ortodoxo, tais como o que a protagonista aceita a discreta oferta de um homem que come em um banco de parque. Esse, um momento que ganharia uma conotação melodramática e sentimental na maior parte dos filmes de então, é aqui apresentado de forma relativamente comedida, com o homem jamais dirigindo seu olhar diretamente para a jovem que se encontra a seu lado e pondo o pão no banco e não diretamente em suas mãos.  O resultado final é bastante favorecido por senso de elipse, que não se preocupa em querer justificar ou emoldurar de forma mais compreensiva muitas das ações apresentadas, como o próprio assassinato do prólogo, um dos mais belos momentos do filme, assim como a reação da filha mais nova. Kirsanoff faz uso de alguns efeitos imagéticos que somente se tornariam integrados à linguagem audiovisual nas últimas décadas, como o dos fades em movimento, sobretudo na seqüência em que as irmãs atravessam uma estrada ladeada por árvores. Não menos expressivo é o olhar de Sibirskaia, cuja melancolia o filme consegue duplicar em boa parte de suas imagens (e, na versão em questão, pela bela trilha musical que foi composta para ele). A obra posterior de Kirsanoff – ele produziria até o final dos anos 1950, esse sendo seu segundo título – é provavelmente ainda menos conhecida. A ausência de cartelas, dado o seu estilo idiossincrático, soa aqui menos ousada do que o de outra produção contemporânea, A Última Gargalhada (1924), de Murnau, que emprega tal estratégia para uma narrativa mais convencional. 37 minutos.

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