Filme do Dia: As Damas do Bosque de Boulogne (1945), Robert Bresson


As Damas do Bois de Boulogne Poster


As Damas do Bosque de Boulogne (Les Dames du Bois de Boulogne, França, 1945). Direção: Robert Bresson. Rot. Adaptado: Robert Bresson &  Jean Cocteau, baseado no romance Jacques le Fataliste et Son Maitre, de Denis Diderot. Fotografia: Philippe Agostini. Música: Jean-Jacques Grünenwald. Montagem: Jean Feyte. Dir. de arte: Robert Lavallée, Robert Clavel & Max Douy. Com: Maria Casarès , Elina Labourdette, Jean Marchat, Lucienne Bogaert, Paul Bernard,  Yvette Étiévant.
       Agnes (Labourdette), jovem estrela de cabaré, consegue trocar os atrativos da vida mundana que a insatisfazem por uma vida digna com a mãe (Bogaert), aos cuidados da aristocrata Helene (Casarés). Vivendo agora reclusas em sua nova moradia, junto ao Bosque de Boulogne, encontram no mesmo dia Helene e o amigo Jacques (Marchat), que se apaixona perdidamente, a primeira vista, por Agnes. Disposto a conquistá-la a todo custo, sofre recusas seguidas, que apenas abrasam ainda mais o seu desejo, ao ponto de não pensar em outra coisa mais na vida. Recorrendo a ajuda da ex-amante Helene, é aconselhado por esta, inicialmente, a deixá-las em paz. Porém, logo Helene combina com Jacques um almoço, com a presença de mãe e filha. Disposta a reassegurar a sua independência, já que agora não se sente mais que um fantoche nas mãos de Helene, Agnes tenta retornar a sua antiga profissão. Em uma visita secreta, que a mãe de Agnes permite apenas por esta se encontrar ausente, Jacques se delicia com os objetos de uso diário de sua amada e com as fotos de sua infância – a mãe rapidamente escondendo as fotos dela como estrela de cabaré. Acuada pelo dilema entre aceitar casar com Jacques e o temor que este fique sabendo de seu passado libertino, Agnes aceitará finalmente o casamento. Porém imediatamente após a cerimônia, ela não possui forças de enfrentar o ciclo social de Jacques. Por outro lado Helene, procurando se vingar da rejeição sofrida,  conta toda a verdade a Jacques. Após sofrer repetidas síncopes e entre a vida e a morte, Agnes afirma que como existem mulheres decentes que se perdem, também ocorre o oposto, como no caso dela, e pede ao marido uma chance para recriar sua vida, sendo prontamente aceita.
Mesmo considerado um filme à parte na filmografia do cineasta, tanto pela utilização de atores profissionais como por um menor rigor no ascetismo que é peculiar à dramaturgia do mesmo, ainda assim o filme é marcadamente sóbrio e moderno quando comparado aos  melodramas produzidos na época. O que não deixa de ser curioso, já que em termos de conteúdo acaba por reproduzir a essência moralizante da obra de  Diderot sem maiores delongas, o que implica na via crucis expiatória por que tem que passar Agnes até sua posterior redenção e ressurgimento como mulher proba. Percebe-se, a todo momento, o curto alcance da profundidade de foco, que apenas destaca os personagens que se encontram em primeiro plano. A cena final, extremamente poética em sua ambiguidade, assim como a boa utilização da intriga urdida por Helene, provavelmente devem muito a Jean Cocteau, que escreveu os diálogos. Uma visão irônica da passagem de uma mulher da mundanidade para o mundo da respeitabilidade   social pode ser vista, por exemplo, em Lola (1981) de Fassbinder. Les Films Raoul Ploquin. 90 minutos.

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