Filme do Dia: Uma Vida Violenta (1962), Paulo Heusch & Brunello Rondi
Uma
Vida Violenta (Uma Vita Violenta,
Itália, 1962). Direção: Paolo Heusch & Brunello Rondi. Rot. Adaptado: Paolo
Heusch, Brunello Rondi & Franco Salinas, baseado no conto de Pier Paolo
Pasolini. Fotografia: Armando Nannuzzi. Música: Piero Piccioni. Montagem: Nino
Baragli. Com: Franco Citti, Serena Vergano, Enrico Maria Salerno, Benito
Poliani, Piero Morgia, Paola Petrini, Micaela Dazzi, Alfredo Leggi.
Tommaso (Citti) é um jovem de origem proletária que vive a
esmo nos bares e praticando delitos com os amigos. Ele ameaça mudar e se tornar
um homem sério quando conhece a jovem Irene (Vergano). Convida alguns amigos
para apresentarem uma serenata diante da janela da jovem. A movimentação acaba
atraindo curiosos e em meio a uma discussão, Tomasso esfaqueia e mata um homem
que lhe agredira. Preso em casa, passa alguns anos na prisão. Quando solto,
passa a morar com os pais, em um
conjunto habitacional mais afluente do que antes e volta a se aproximar de
Irene, mas o período da prisão e a vida dissoluta lhe provocam uma grave crise
de tuberculose. Internado em um sanatório, ele se recupera. Os hábitos
extravagantes, no entanto, acabam por lhe provocar a morte.
Trata-se do mesmo ambiente do lumpem-proletariado que era um
tema obsessivo na literatura e cinematografia inicial de Pasolini, interpretado
por seu ator emblemático do período, Franco Citti, o que infelizmente trai a
inevitável e desfavorável comparação com outra obra, dirigida pelo próprio
Pasolini e com o mesmo Citti no ano anterior, Accattone - Desajuste Social.
Falta a esse filme a dimensão trágica e universal, metafórica, que transforma o
Citti em sua estréia no cinema, numa versão moderna do próprio Cristo decaído,
criando um portentoso e inesquecível painel de grande pathos, mesmo que, e talvez ainda mais auxiliado por isso,
tecnicamente precário. A abordagem aqui, mais contida e realista, é igualmente
mais banal e desinteressante. Problemas com relação à adaptação ficam patentes
na forma brusca com que o acidente que aparentemente mata seu melhor amigo –
posteriormente se saberá que se trata de motivo para amputação de sua perna,
tornando-se ele mendigo. Assim como na
morte do próprio protagonista ao final. A situação social aqui parece um pouco
mais cômoda do que a do filme de Pasolini e a visão dos desocupados menos
romântica, mas há um esquematismo que, se existente na obra de Pasolini do ano
anterior, teria sendo encoberta pela própria dimensão mítica. Aqui é evidente a
oscilação do personagem entre aderir ao partido democrata-cristão ou ao partido
comunista enquanto espelhamento correlato de suas pretensões a uma vida
pequeno-burguesa ou a condescendência malemolente do lumpem-proletariado que,
em última instância, o arrastará para a própria morte. Destaque para a cena que
parece ter resultado em estupro de uma das vítimas de Tommaso e seus amigos no
mesmo monumento fascista que fora presença importante no filme de Antonioni do
ano anterior, O Eclipse, talvez
inclusive como provocação a abordagem dos dramas existenciais da elite daquele.
E também para a beleza suave de Vergano, completamente passiva diante da figura
masculina. Zebra Film. 115 minutos.
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