Filme do Dia: Notas Sobre um Escândalo (2006), Richard Eyre
Notas Sobre um Escândalo (Notes on a Scandal, Reino Unido, 2006). Direção: Richard Eyre. Rot. Adaptado: Patrick Marber,
baseado no romance What Was She Thinking:
Notes on a Scandal, de Zoe Heller. Fotografia: Chris Menges. Música:
Phillip Glass. Montagem: John Bloom & Antonia Van Drimmelen. Dir. de arte:
Tim Hatley, Grant Armstrong, Hannah Moseley & Mark Raggett. Figurinos: Tim
Hatley. Com: Judi Dench, Cate Blanchett, Bill Nighy, Andrew Simpson, Juno
Temple, Max Lewis, Tom Georgeson, Michael Maloney, Joanna Scanlan.
A professora Barbara
Covett (Dench), próxima da aposentadoria e sem muitas expectativas quanto ao
seu futuro profissional em uma escola que atende crianças de baixa renda, vê
sua amargura se transformar com a chegada de uma
professora novata, a misteriosa e encantadora Sheba Hart (Blanchett). Aos
poucos ela se aproxima da intimidade de Sheba com um marido bem mais velho,
Richard Hart (Georgeson), um filho portador de síndrome de down, Tom (Lewis) e
uma filha adolescente problemática (Temple). Porém, certo dia ela surpreenda
Sheba fazendo sexo com um de seus alunos, Steven Connoly (Simpson). Sheba
promete a Barbara, no entanto, que não voltará a encontrar o garoto, e Barbara
afirma que não a delatará. Posteriormente, no entanto, quando Barbara flagra o
garoto na casa de Sheba a situação muda. Indignada, Barbara que se encontra
cada vez mais obcecada por Sheba, comenta tudo com outro professor da
instituição. O escândalo se torna público. Atormentada pela imprensa e tendo
sua confiança abalada por parte do marido, Sheba vai morar com Barbara. Porém,
enquanto Barbara vive suas fantasias particulares, Sheba descobre os diários
secretos da mesma e todos os seus comentários fantasiosos a respeito dela. Ao
mesmo tempo ela se torna consciente de que Sheba fora o estopim de todo o
escândalo e volta ao marido.
Esse impressionante relato baseado em romance sobre fato
real, demonstra para além da habitual perícia do cinema inglês em lidar de modo
sofisticado com dramas realistas ou sua contemporânea reflexão sobre eventos
marcantes vivenciados pela sociedade inglesa, um agudo perfil psicológico de
seus personagens, sendo as duas últimas características compartilhadas
igualmente pelo contemporâneo A Rainha,
de Stephen Frears. É engenhoso o modo como o filme faz uso da voz off da protagonista, vivida
brilhantemente por Dench, aproximando-se de sua personalidade patológica, da mesma forma enviesada em em que ela não
chega a admitir de todo a paixão sexual que nutre por Sheba. Tudo é narrado com
distanciamento emocional, auxiliado pela música minimalista de Glass, que marca
antes o desenrolar dramático dos eventos do que propriamente uma tomada de
posição moralista. Certamente há uma tendência maior de identificação com a
personagem vivida talentosamente por Blanchett, devido a ansidedade gerada pelo
próprio dilema moral que a divide. Porém o que o filme aparentemente parece
apontar, nas entrelinhas, ao final de contas,
é que o próprio desconforto que Sheba vivencia com relação ao cotidiano
é um eixo de identificação que a faz atrair pessoas tão problemáticas quanto
Barbara ou um professor igualmente solitário que por ela se apaixonam. No
fundo, há uma relação que parece unir secreta e morbidamente Sheba aos seus
pares mais velhos que possuem conflitos ainda mais sérios com relação às suas
próprias afetividades. É bastante digno de nota o quanto o filme se afasta da
temática propriamente sensacionalista em si, que seria explorar a relação de
Sheba com seu aluno de 15 anos aproximando-se, por esse viés, de uma visão mais
cúmplice do que julgadora tal e qual apresentado em filmes como A Professora de Piano, ainda que sob
outro registro. Destaque fundamental para a composição forte de Dench, além de
evidentemente seu olhar e o modo como o
realizador soube explorar as marcas da idade em seu rosto nos planos
mais próximos. BBC Films/DNA Films/Scott Rudin Prod./UK Film Council para 20th
Century-Fox. 92 minutos.
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