Filme do Dia: A Morte Cansada (1921), Fritz Lang
A
Morte Cansada (Der Mude Tod,
Alemanha, 1921). Direção: Fritz Lang. Rot. Original: Fritz Lang & Thea Von
Harbou. Fotografia: Bruno Mondi, Erich Nitzschmann, Herrmann Saalfrank, Bruno
Timm & Fritz Arno Wagner. Música: Guiseppe Becce, Karl-Ernest Sasse & Peter
Schirmann. Montagem: Fritz Lang. Dir. de arte: Robert Herlth, Walter Röhrig
& Hermann Warm. Figurinos: Heinrich Umlauff. Com: Lil Dagover, Walter Janssen,
Bernard Goetzke, Rudolf Klein-Rogge, Hans Sternberg, Erich Pabst, Eduard von Winterstein, Paul Biensfeldt.
Um casal de noivos (Dagover e Janssen) chegam a um pequeno
vilarejo em uma carruagem em que também se faz presente a Morte (Goetzke).
Enquanto a moça se distrai a Morte leva seu noivo. Para tê-lo de volta ela
precisa impedir a morte de pelo menos um dos jovens de três casais de
enamorados, representados por três velas, fazendo com que não se apaguem.
Porém, as três narrativas findam tragicamente. A moça, desesperada, tenta negociar com a morte. Essa lhe dá uma
última chance. Caso ela lhe traga alguma vida até a meia-noite, ele lhe
devolverá seu amado. Como falta somente uma hora, a moça sai à cata de alguém
que possa doar sua vida porém, do miserável aos velhinhos em um asilo,
evidentemente ninguém pretende doar sua vida. Sua chance surge quando ocorre um
incêndio na cidade. Com uma criança no braço, ela ainda hesita, mas desiste de
entregá-la a morte, desistindo ela própria de viver. A Morte então a faz
reencontrar com seu amado.
Esse filme, primeira super-produção da carreira de Lang,
antecipa o estilo grandiloqüente que será sua marca registrada em produções
posteriores tais como Os Nibelungos
(1923/24) e Metropolis (1927). Aqui
não é pouco comum se observar os personagens minúsculos perto de gigantescos
cenários. Porém, o mais interessante desse filme certamente é o seu prólogo,
que traz semelhanças inequívocas com a produção nórdica contemporânea,
igualmente conhecida por suas referências fúnebres (ainda que a mais célebre, A Carruagem Fantasma, lhe seja
posterior em um ano) e por um não menos apurado estilo visual. Não faltam
momentos estilisticamente soberbos, que destacam molduras dentro da própria
imagem ou construções vertiginosamente horizontais de escadarias. Porém, o
filme perde bastante quando cede a estratégia, aliás nenhum pouco incomum na
época (seria reproduzida novamente em O Gabinete das Figuras de Cera, de Paul Leni), de se subdividir em histórias
ambientadas em universos fantásticos de contos de fadas. Já a partir do
primeiro episódio, ambientado em um reino persa maculado pela presença de um
ocidental por quem a irmã do Califa se apaixonou, fica-se ciente de que o filme
menos se aproxima da magistral sutileza de um Sjöström, como aparentava em seu
comovente início, que das aventuras rocambolescas mais próximas do universo da
roteirista Harbou, então mulher de Lang, e dos seus filmes anteriores e
posteriores em formato serial. Trata-se do filme mais expressionista de Lang e
talvez poucos tenham feito um uso tão onipresente das sobreimpressões, recurso
que o filme admiravelmente deixou de lado em seu prólogo “nórdico”. Destaque
para uma representação complexa e, mesmo simpática, da morte. Provavelmente sua
estrutura deva algo ao Griffith de Intolerância
(1916), ao se situar em quatro períodos históricos diversos, um deles
contemporâneo, como aquele, mesmo sem fazer uso da montagem alternada que
tornou célebre essa produção. Decla-Bioscop AG. 105 minutos.
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