Filme do Dia: A Novela das 8 (2011), Odilon Rocha
A Novela das 8 (Brasil, 2011). Direção e Rot. Original:
Odilon Rocha. Fotografia: Ulrich Burtin. Música: Tejo Damasceno & Tito
Lima. Montagem: André Finotti. Dir. de arte: Valdy Lopes. Figurinos: Cássio
Brasil. Com: Cláudia Ohana, Vanessa Giácomo, Mateus Solano, Alexandre Nero,
Otto Jr., Paulo Lontra, Thaís Miller, Aline Fanju, André Ramiro, Camila Amado.
São Paulo, 1978. A empregada da prostituta Amanda (Giácomo),
Dora (Ohana), reencontra como cliente de Amanda, um dos homens que a estuprara
e torturara. O homem morre em meio ao que prometia ser uma sessão apimentada de
sexo. Histérica, Amanda é orientada por
Dora a dividir o dinheiro que ele possuía e se desfazer do cadáver. Amanda
implora a Dora para ir com ela ao Rio de Janeiro. Viciada na novela das 8, Dancin’ Days, Amanda tem como sonho
conhecer a discoteca que serve de cenário à novela. Dora, por sua vez,
reencontra a mãe e observa de longe o filho adolescente, Caio (Lontra),
hostilizado pelos garotos da escola por ser gay, vivencia sua primeira
experiência sexual com o diplomata João Paulo (Solano), que pretende se
readaptar à vida brasileira após a morte do pai e bastante tempo fora do país.
Amanda e Dora passam a ser objetos da perseguição de Brandão, amigo do policial
morto. Dora confessa a Amanda que matara o policial. Amanda, indignada,
abandona o local que dividem. Dora reencontra o pai de Caio, Vicente (Otto
Jr.), militante que sequer sabia o nome do filho e que ainda insiste ser a
causa revolucionária o motivo de sua existência. Dora lhe diz que pela primeira
vez busca a “saída mais fácil”, que é a de cuidar de sua vida e se preocupar
com Caio. Logo, Vicente será capturado e torturado. Dora, Amanda e Caio divertem-se na famosa
discoteca. Brandão, no entanto, chega ao
encalço do grupo. Encurrala Dora e Amanda em um espaço isolado da discoteca.
Constrangedora de tão canhestra é essa aproximação
oportunista do período final da repressão militar que contrapõe, de forma um
tanto quanto esquemática, dois Brasis. O da engajada, mais consciente Dora, que
sabe o momento certo para parar e se preocupar com seus interesses pessoais, em
contraposição ao seu companheiro e o da fútil e alienada Amanda, associado ao
falso brilho do universo pretensamente glamoroso das discotecas. Interpretações
sofríveis e um tanto irregulares – a da dupla feminina protagonista é
particularmente desastrosa – e um roteiro capenga auxiliam no medonho resultado
final. Evocativo de uma telenovela (sendo que sua relação com o universo das mesmas
se encontra longe de ser bem resolvido)
com suas subtramas como é o caso
da que diz respeito a Caio e João
Paulo, ainda que talvez menos bem costuradas aqui que nos seus exemplares
televisivos. Ou ainda o pouco verossímil final feliz. Nas gerações apresentadas
pelo filme parece se encontrar a linha divisória entre uma politização de
classe de matriz radical com a geração de Dora e seu companheiro – cujo tom de
voz é irremediavelmente similar ao de Lula – em contraposição àquela geração na
qual questões como gênero e prazer pessoal se tornam aspirações primordiais.
Dora, como observado consegue agregar o melhor dos dois mundos, ao menos em sua
carta de intenções para o futuro. Dentre as homenagens algo fora de esquadro se
encontra a da célebre cena de Cría Cuervos (1976), de Saura, quando Caio, ao som da mesma Por Que Te Vas?, puxa a avó para dançar. Todos os personagens e
situações são demasiado pré-fabricados para soarem minimamente interessantes.
Cria Filmes/Querosene Filmes/TC Filmes para UIP. 105 minutos.
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