Filme do Dia: Gemma Bovery - A Vida Imita a Arte (2014), Anne Fontaine
Gemma Bovery - A Vida Imita a Arte (Gemma Bovery, França, 2014). Direção: Anne
Fontaine. Rot. Adaptado: Pascal Bonitzer & Anne Fontaine, a partir do
romance em quadrinhos de Posy Simmonds. Fotografia: Christophe Beaucarne. Música:
Bruno Colais. Montagem: Annette Dutertre. Dir. de arte: Arnaud de Moleron. Figurinos: Pascaline Chavanne. Com: Fabrice Luchini, Gemma Arterton, Jason
Flemyng, Niels Schneider, Mel Raido, Elsa Zylberstein, Pip Torrens, Kacey
Mottet Klein, Edith Scob.
Aficcionado pelo romance de Flaubert, Madame
Bovary, Martin Joubert (Luchini), homem casado de meia-idade vê chegar ao lado
de sua casa um casal de ingleses, a bela e inquieta Gemma Bovery (Arterton) e
seu marido, Charles (Flemyng). Martin
começa a fantasiar que ele poderia ser uma válvula de escape para o que ele
identifica ser, tal como no romance, uma situação de tédio por parte de Gemma
em relação a seu casamento. Porém Gemma passa a se relacionar torridamente é
com o belo e jovem Hervé (Schneider). O que não impede que as semelhanças com o
livro se prolonguem. O marido, tendo descoberto a traição, sai de casa. Gemma
perde também o amante, por conta de um mal entendido provocado por uma falsa
carta escrita por Martin, que temia que ela tivesse um fim semelhante ao de sua
personagem literária predileta. Gemma, no entanto, revela-lhe que não possui a
menor vontade de morrer. Ela tem uma relação ocasional com o ex-amante Patrick
(Raido), embora não se encontre decidida em reatar relacionamento com o mesmo e
sua morte não foi de fato o suicídio que Martin previra.
Se o filme sabiamente consegue se
desvencilhar da quantidade de coincidências demasiado próximas em relação a sua
fonte literária principal (e até em sua produção, contando com uma atriz de nome
similar ao da personagem de Flaubert e idêntico ao da personagem do filme),
infelizmente não consegue fazer o mesmo em relação à platitude de seus
personagens, demasiado rasos e a reboque de serem meras peças chapadas do
joguete narrativo. Em seu afã de talvez provocar maior interesse comercial
afasta-se do ponto de vista de seu ressentido protagonista a determinados
momentos apenas para aceder ao espectador as cenas de sexo entre Gemma e seu
amante, triviais em sua pretensa torridez. Aliás, um dos pontos inexplorados do
filme, que traria maior inteligência a seu propósito, sobretudo quando se trata
de uma produção dirigida por uma mulher, seria ter enfatizado a reação
especular entre o que o protagonista vê em sua observada e ele próprio, vivendo
uma vida mais entediada que a que
projeta nela e buscando uma válvula de escape justamente na observação daquela
que se transformará em seu nada obscuro objeto do desejo. Não apenas isso, mas
a forma como o filme trabalha a dimensão da sexualidade é no sentido plenamente
voyeurístico e masculino convencional, com a câmera a deslizar pelos atributos
físicos da atriz britânica. Se os próprios personagens principais são tão
fragilmente elaborados, os que lhes coadjuvam então se aproximam da caricatura
ou da inocuidade absoluta, como a família de Martin. Se a anglicização de
Bovary, além de pretexto para que ingleses e franceses destaquem suas
diferenças culturais de modo mais rasteiro
também poderia sugerir uma artimanha vinculada a uma facilidade
potencial maior de angariar recursos de uma co-produção, como foi o caso aqui,
de fato tudo já se encontrava posto pela
própria fonte literária, produzida por uma autora britânica. Albertine Prod./Ciné@/Gaumont/Cinéfrance
1888/France 2 Cinéma/BFI. 99 minutos.
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