Filme do Dia: New Jack City - A Gangue Brutal (1991), Mario Van Peebles


New Jack City - A Gangue Brutal Poster
New Jack City - A Gangue Brutal (New Jack City, EUA, 1991). Direção: Mario Van Peebles. Rot. Original: Thomas Lee Wright & Barry Michael Cooper, a partir do argumento do primeiro. Fotografia: Francis Kenny. Música: Michel Colombier. Montagem: Steven Kemper. Dir. de arte: Charles C. Bennett, Laura Brock & Barbara Mathis. Cenografia: Elaine O’ Donnell. Figurinos: Bernard Johnson. Com: Wesley Snipes, Ice-T, Allen Payne, Chris Rock, Mario Van Peebles, Michael Michelle, Bill Nunn, Russell Wong.
Nino Brown (Snipes) se torna um poderoso e milionário traficante que fatura com sua gangue um milhão de dólares por semana. O policial Stone (Van Peebles) passa a investigar o grupo. Ele conta com a ajuda do parceiro Scotty Appleton (Ice-T), que treina o viciado em crack  Pookie (Rock) a, primeiro, abandonar o vício e, depois, a se infiltrar no império do crime de Nino. Pookie tem uma recaída e é descoberto e morto. O próprio Stone passa a então a fazer parte do reservado grupo que tem acesso a vida íntima de Nino. Descoberto por um dos comparsas de Brown, ele escapa de um tiroteio, mas em pouco tempo articula uma operação policial na qual espanca e prende pessoalmente o traficante. Nino é condenado a apenas 3 anos de prisão, porém quando abandona o tribunal é morto por um velho senhor (Wong), revoltado com suas ações criminosas no prédio de apartamentos que ele transformou como seu quartel-general.
Seu estilo visual arrojado, ao menos para os padrões da época, bem poderia antecipar, de forma retrospectiva, cacoetes do mais virtuoso e influente Cidade de Deus (2003), como na sua famosa seqüência inicial da perseguição em um complexo de escadarias. No entanto, em termos narrativos, o filme se encontra a anos-luz do filme de Meirelles, abraçando um convencionalismo bem mais tacanho e rotineiro, calcado nos filmes de gênero e não conseguindo, de fato, resolver a sua ambigüidade entre realismo social, demarcado sobretudo em seu princípio, enfatizado ainda mais pela apresentação de períodos distintos e sua estrutura crescentemente fantasiosa. De fato, em nenhum momento os clichês do banal filme de ação surgem de forma quase auto-paródica de tão grotesca quanto naquele em que Scotty salva a vida de um companheiro de polícia, atirando contra um membro da gangue de Nino, somente para ser retribuído pelo colega, que mata o criminoso, que mesmo moribundo tenta atirar pelas costas de Scotty. O olhar blasée que os dois (Scotty e seu colega) trocam é o supra-sumo do clichê de filmes do tipo (“Estamos quites, você salvou minha vida e agora eu salvei a sua.”). Nino, por sua vez, encarna uma versão adaptada para a cultura de gueto negro nova-iorquina do capo mafioso celebrizado no cinema em O Poderoso Chefão (1972), não por acaso referido a determinado momento do filme. Sua morte, seguida por créditos que acentuam ainda mais a pusinanimalidade dos traficantes, parece ser quase um convite reacionário e populista ao justiçamento pela própria comunidade ofendida do que a sociedade formal e devidamente corrupta não efetuou – vai exatamente nesse sentido o justiçamento que o velho senhor comete logo após o julgamento encerrado, ganhando, no final de contas, o apoio dos policiais.  Foi um dos destaques do emergente cinema negro americano, capitaneado pelo de longe mais interessante Faça a Coisa Certa (1989), de Spike Lee. Warner Bros./The Jackson-McHenry Co./Jacmac Films para Warner Bros. 97 minutos.


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