The Film Handbook#77: Werner Herzog

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Werner Herzog
Nascimento: 05/09/1942, Munique, Al. Ocidental
Carreira (como realizador): 1962-

A sensação de déjà vu que pode acompanhar se assistir muitos dos filmes recentes de Werner Herzog - nascido Werner Stipetic - não obscurecem o seu status como um excêntrico e original de enorme talento. Misturando ecleticamente estilos e temas de uma diversidade de fontes - romantismo e expressionismo alemães, surrealismo, etnologia, suas próprias viagens ao redor do mundo - ele tem criado um corpo de trabalho talvez único em suas ambições épicas e em seu desespero diante da banalidade das aspirações humanas.

Após estudar história, literatura e teatro, Herzog aprendeu por si próprio o processo de realização através de uma série de curtas financiados por seu trabalho como soldador. Seu ostensivamente realista longa de estréia, Sinais de Vida/Lebenszeichen  anteciparia motivos posteriores: enquanto um soldado alemão, entediado em um arsenal de munições em Creta, durante a Segunda Guerra Mundial, lentamente se torna insano, a pequenez do homem em relação à natureza é apresentada através de paisagens intensamente líricas filmadas, e sua loucura proporciona epifanias visionárias (o herói surta com uma visão de uma planície repleta de moinhos). Ainda mais bizarros tanto Fata Morgana>1 quanto Também Os Anões Começaram Pequenos/Auch Zwerge Haben Klein Angefagen novamente levaram Herzog a paisagens estranhas: o primeiro, ambientado entre os detritos deixados pela humanidade nos limites do Deserto do Saara é uma paródia surreal, destituída de enredo e irônica da criação de mitos, com a chegada dos deuses à Terra sugerida pelos planos repetidos de jatos expelindo fumaça enquanto aterrizam; o segundo, realizado na árida ilha vulcânica de Lanzarotte, satiriza a futilidade da ação humana em sua narrativa sobre a revolta de reclusos em uma instituição penal de anões que possui seu clímax em destruição generalizada e um caminhão sem motorista girando incessantemente.

Ao contrário, o documentário O Mundo do Silêncio e da Escuridão/Land des Schweigens und der Drukelheit>2, talvez o melhor filme do realizador - é um retrato profundamente comovente de uma senhora surda e muda desde a infância. Enquanto voa pela primeira vez de avião, radiante de emoções interiores mas que das coisas que podemos observar e ela não, Herzog demosntra que a vida, mesmo difícil, é repleta de imenso valor. De fato, sua simpatia tem frequentemente se voltado para marginais geralmente considerados anormais, loucos ou grotescos. Aguirre, a Cólera dos Deuses/Aguirre, der Zorn Gottes>3, analisa o desafio megalomaníaco de um conquistador espanhol contra Deus liderando uma expedição condenada ao alto Amazonas em busca de El Dorado; um documentário sobre um campeão de saltos em esqui, O Grande Êxtase do Entalhador Steiner/Die Grosse Ekstase des Bildschnitzers Steiner, tornou-se um tributo a obsessão destemida; e O Enigma de Kaspar Hauser (Cada Um Por Si e Deus Contra Todos)/Jeder für Sich und Gott Gegen Alle>4 insiste sobre a dignidade e a verdade dos sonhos de um homem enjeitado de meia idade descoberto, como que renascido, na praça de uma vila nos anos de 1820. Para Herzog, existe beleza na loucura: Aguirre afirma sua piedade numa balsa encalhada povoada somente por macacos; a ausência de "civilização" em Kaspar é infinitamente mais rica que o pedantismo dos cientistas e a obstinação dos pastores que tentam lhe explicar suas origens e como salvar sua alma. A sociedade normal é percebida como cruel, cega e adulterada pelo empirismo, e somente os elementos eternos - retratados em planos suntuosos e prolongados de grupos de nuvens, prados ondulados, rios agitados, penhascos - são imaculados, ao menos pelo homem.

O romantismo nostálgico de Herzog o levou as mais extremas celebrações de videntes e nobres selvagens: em Coração de Cristal/Herz aus Glas, o advento da Revolução Industrial é observado como um fim apocalíptico de uma era idílica, enquanto a intensidade profética do filme é acrescida pelo hipnotismo de seu elenco do início ao final; em Stroszek>5, um trio de marginais abandona a Alemanha pela terra prometida da América, onde seus sonhos de uma vida melhor se chocam com o lamaçal dos cartões de crédito, reintegração de posse e desesperado roubo armado; e em Nosferatu - O Vampiro da Noite, tributo e refilmagem do clássico de horror de Murnau, Drácula é não somente uma ameaça à sociedade burguesa mas uma vítima sofredora de sua própria miséria imortal. Central para o sucesso desse último filme, foi a interpretação de Klaus Kinski, que havia interpretado Aguirre e que crescentemente representaria, na obra futura de Herzog, o obsessivo opressivo no limite de suas forças.

Woyzeck foi uma comoventemente direta e modesta adaptação da peça de Buchner sobre um pacífico soldado impelido por medonhos experimentos científicos de autoridades militares a assassinar sua esposa, porém Fitzcarraldo>6 demonstrou evidências que o escritor-roteirista se encontrava em declínio. Sobre os esforços de um latifundiário irlandês para construir uma ópera no Amazonas profundo na selva amazônica no século passado, é intencionalmente épico, sendo seu tratamento excessivo de material tipicamente bizarro frequentemente aparentando suspeitosamente ser algo como uma auto-paródia. A ironia, no entanto, é tristemente ausente, e a despeito de seus costumeiramente audaciosos visuais impressionantes - notavelmente as cenas do vapor sendo dragado sobre uma montanha de um rio para o outro - o filme permanece estranhamente vazio, sendo mais satisfatoriamente observado como documentário surreal de sua própria realização arriscada. O mesmo pode ser dito dos filmes posteriores de Herzog. Filmado no interior da Austrália, Onde Sonhas as Formigas Verdes/Wo Die Grünen Ameisen Träumen, enfraquece sua mensagem pró-aborígenes ao aplicar uma confusa explicação mística a uma história de lutas por direitos de terra, enquanto Cobra Verde, admirável em sua evocação suntuosa mas nunca sentimental dos aspectos exteriores de uma dinastia da África Ocidental, foi uma narrativa tão inábil e incoerente da mentalidade do colonialismo e escravidão. Exceto pela obra documentária  regular de Herzog (a análise comovente de crianças nicaraguenses sendo treinadas para a guerra de Ballade vom Kleinen Soldaten provou serem seus filmes não ficcionais serem tão céticos quanto as versões aceitas da realidade de suas ficções), pareceu demonstrar crescentemente como se o diretor estivesse finalmente esgotando sua corrente criativa.

Herzog é um poeta do apocalipse, e até mesmo as imagens que acompanham seus contos de loucura humana revelam uma áspera beleza e permanência do universo. Repleto de tais contradições (sua obra é simultaneamente estática e desesperadora, desdenhosa e simpática aos outros), parece despreocupada com as intenções comerciais; o meio é um canal para seus sonhos privados, e seus melhores filmes se revelam na irracionalidade, imbuídos com um poder que desafia a lógica comum.

Cronologia
Ao contrário da maior parte dos diretores do Novo Cinema Alemão, Herzog prefere o pessoal e épico ao político e realista; ele tem descrito a si próprio como um bávaro no estilo do castelo erigido por Ludwig II, e compara sua obra a de Caspar David Friedrich. Paul Cox e o documentarista Errol Morris são seus admiradores. Ele se encontra em dois documentários de Les Blank, Burden of Dreams  (sobre a realização de Fitzcarraldo) e Werner Herzog Eats His Shoes - uma aposta que é paga a Morris.

Leituras Futuras
The New German Cinema (Londres, 1980), de John Sandford.

Destaques
1. Fata Morgana, Al. Ocidental, 1970

2. O Mundo do Silêncio e da Escuridão, Al. Ocidental, 1971

3. Aguirre, a Cólera dos Deuses, Al. Ocidental, 1972 c/Klaus Kinski, Cecilia Rivera, Ruy Guerra

4. O Enigma de Kaspar Hauser (Cada Um Por Si e Deus Contra Todos), Al. Ocidental, 1974, c/Bruno S., Walter Ladengast, Brigitte Mira

5. Stroszek, Al. Ocidental, 1977 c/Bruno S., Eva Mattes, Clemens Scheitz

6. Fitzcarraldo, Al. Ocidental, 1982 c/Klaus Kinski, Claudia Cardinale, Paul Hiltscher

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 128-30.

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