Filme do Dia: A Malvada (1950), Joseph L. Mankiewicz
A Malvada (All About Eve, EUA, 1950) Direção: J.L.Mankiewicz. Rot.Adaptado:
J.L.Mankiewicz & Mary Orr, baseado no conto “The Wisdom of Eve”. Fotografia: Milton R. Krasner. Montagem: Barbara McLean . Com: Bette
Davis, Anne Baxter, George Sanders, Celeste Holm, Gary Merrill, Hugh Marlowe,
Lloyd Richards, Gregory Ratoff, Barbara Bates, Marilyn Monroe, Thelma Ritter.
Eve Harrington (Baxter), tem a chance
de conhecer a grande dama do teatro Margo Channing (Davis), por quem nutre uma
admiração que beira a patologia e ao qual não perde sequer uma única
apresentação, através da amiga da estrela, Karen Richards (Holm), casada
com o maior teatrológo americano do
momento, Lloyd Richards (Marlowe). Ainda que insegura, Eve conta sua história
no camarim de Margo: sua infância difícil na fazenda de seus pais no Wisconsin;
seu casamento com Eddie, que partiria para a guerra e que, quando fora
recebê-lo em San Francisco terminara por receber a notícia de sua morte, a
primeira vez que vira Margo representar no teatro. Uma sintonia instantânea acontece
entre Margo e Eve, esta acompanhando Margo e seu namorado, Bill Sampson
(Merril), até o aeroporto, onde ele embarcará para uma temporada de trabalho em
Hollywood. Tomando conta de todos os negócios de Margo - inclusive pessoais, já
que não se esquece nem de ligar e passar um telegrama no dia do aniversário de
Bill, fato que a própria Margo esquecera - ela cai nas graças da estrela e
provoca o ciúme da sua camareira, Birdie (Ritter), já que pretende se imiscuir
até nas suas atividades, como guardar o vestido que Margo representa - Margo
flagra-a lhe imitando quando agradece aos aplausos. A submissão de Eve a tudo
que diz respeito a Margo chega a ser constrangedora. Porém a comemoração do
aniversário de Bill consuma o fim da amizade entre Margo e Eve. Quando desce e
encontra Bill conversando descontraídamente com Eve, Margo passa a viver uma
crise de ciúmes e insegurança, devido já não ser tão jovem ou bela quanto Eve.
Entre os convidados da festa se encontram, o produtor Max Fabian (Ratoff), o
mordaz crítico teatral Addison de Witt (Sanders) e sua protegida do momento, a
ingênua Claudia Caswell (Monroe). Margo se afunda no álcool e na depressão e
brigando com Bill, Karen e, pela primeira vez, com Eve. Angustiada com a crise
existencial por que passa, separando-se de Bill, Margo vivencia um final de
semana com Karen e seu esposo, sofrendo
um plano premeditado do casal para chegar atrasada o suficiente na apresentação
da peça, para que Eve - através da mão de Karen, que a indicou para o marido -
pudesse atuar como substituta, já que a outra substituta se encontrava grávida.
Após o sucesso da apresentação, Eve tenta seduzir Bill no camarim, mas não
funciona. Com o grande sucesso de crítica e a chancela do renomado crítico de
Witt, que esnoba Margo,esta marca um almoço com Karen. Ao chegarem no
restaurante encontram de Witt, acompanhado por Eve, que envia um bilhete para
tentar uma reconciliação com Margo. Karen vai falar com ela e Eve revela sua verdadeira
face: quer o papel principal na nova peça de Richards. Quando Karen afirma que
o papel já é de Margo, esta afirma que ou será seu ou ela contará a Margo o
plano tramado pelo casal para que ela chegasse atrasada ao teatro. Com os pés e
mãos atadas, Karen concorda e retorna contrariada à mesa, sentindo-se
extremamente culpada frente a uma feliz Margo, que reata seu relacionamento com
Bill e que planejam se casar em breve. Logo depois que retorna, no entanto,
Margo afirma que não quer mais fazer a nova peça provocando uma crise de risos
em Karen, sem que ninguém perceba o motivo. A última cartada de Eve é seduzir
Richards, que mantém uma relação extra-conjugal com ela. Relação esta que é
propositadamente desvendada para Karen, através do telefonema de uma vizinha.
Encontrando-se em San Francisco, onde espera Richards para o casamento, Eve
recebe a visita do pernóstico De Witt que, no entanto, desmascara o seu
passado: a invenção sobre o marido fictício; a tentativa de sedução de Bill; a
mentira sobre assistir Margo Channing em San Francisco em um teatro que, na
realidade, não existia. Apesar de tudo, afirma querer ficar com ela. Ela o
rejeita e ele a espanca. Apesar de dizer-se impossibilitada de fazer a
representação que praticamente será seu debut
oficial frente à crítica, Eve não só representa como conquista os louros da
crítica: o cobiçado prêmio Cenders de melhor atriz, dedicando-o a Bill, Karen,
Margo, Richards e Fabian. No apartamento, enquanto se prepara para embarcar
para Hollywood, Eve descobre uma jovem admiradora que parece conhecer tudo a
respeito dela.
Ainda que menos cinematográfico que um filme que aborda temática semelhante que é Crepúsculo dos Deuses (1950) de Wilder, é uma prova do soberbo tino e da sofisticação de Mankiewicz para escrever e dirigir filmes quase que totalmente calcados na força dos diálogos, e alguns dos últimos são fascinantes, como no momento em que Eve recebe os parabéns de Margo e esta lhe afirma que devia enfiar o troféu aonde ela achasse que deveria ser seu coração - diálogos como esse e o que Margo ironicamente pergunta se seu namorado teria um caso com Zanuck (por sinal, o produtor do filme), assim como seu relacionamento com Bill, demonstram que os tempos já começavam a ser outros em Hollywood. À certa altura Margo fundamenta a origem da maldade de Eve associado a seu próprio nome, Eve=Evil. Uma prova da sofisticação de Mankiewicz, são os personagens mais sutis, nuançados, menos caricatos e mais humanos que os desenvolvidos no filme de Wilder. Com impecável direção de atores (com destaque para Davis, Sanders - fazendo um papel de iconoclasta que lhe cai terrivelmente bem - e Ritter) e utilização do flashback (o filme é todo um grande flashback que se inicia a partir do momento que Eve recebe o prêmio em suas mãos), das cenas com espelhos e do deslocamento de ponto de vista narrativo, o filme é uma ácida e lúcida contemporização sobre a escalada para à fama. Como a boa e esforçada amiga, que na verdade não passa de uma íncuba que vampiriza todos os gestos e gostos de Margo, a personagem de Eve vive as mesmas relações de dependência e antropofagização que os vividos pelos personagens- e o surgimento da fã de Eve para perpetuar o ciclo apenas aproxima ainda mais de As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (1972) de Fassbinder. E, como no filme de Fassbinder,o mesmo saboroso tom auto-irônico. Almodóvar, por sua vez, faria sua variação sobre o tema com seu Tudo Sobre minha Mãe. A possessividade e arrogância de Margo e suas discussões conjugais lembram o casal de Quem Tem Medo de V.Woolf? (1966) de Mike Nichols. Mankiewicz voltaria a abordar o mundo dos ícones do teatro e cinema em A Condessa Descalça (1954). 20th Century-Fox. 138 minutos.
Ainda que menos cinematográfico que um filme que aborda temática semelhante que é Crepúsculo dos Deuses (1950) de Wilder, é uma prova do soberbo tino e da sofisticação de Mankiewicz para escrever e dirigir filmes quase que totalmente calcados na força dos diálogos, e alguns dos últimos são fascinantes, como no momento em que Eve recebe os parabéns de Margo e esta lhe afirma que devia enfiar o troféu aonde ela achasse que deveria ser seu coração - diálogos como esse e o que Margo ironicamente pergunta se seu namorado teria um caso com Zanuck (por sinal, o produtor do filme), assim como seu relacionamento com Bill, demonstram que os tempos já começavam a ser outros em Hollywood. À certa altura Margo fundamenta a origem da maldade de Eve associado a seu próprio nome, Eve=Evil. Uma prova da sofisticação de Mankiewicz, são os personagens mais sutis, nuançados, menos caricatos e mais humanos que os desenvolvidos no filme de Wilder. Com impecável direção de atores (com destaque para Davis, Sanders - fazendo um papel de iconoclasta que lhe cai terrivelmente bem - e Ritter) e utilização do flashback (o filme é todo um grande flashback que se inicia a partir do momento que Eve recebe o prêmio em suas mãos), das cenas com espelhos e do deslocamento de ponto de vista narrativo, o filme é uma ácida e lúcida contemporização sobre a escalada para à fama. Como a boa e esforçada amiga, que na verdade não passa de uma íncuba que vampiriza todos os gestos e gostos de Margo, a personagem de Eve vive as mesmas relações de dependência e antropofagização que os vividos pelos personagens- e o surgimento da fã de Eve para perpetuar o ciclo apenas aproxima ainda mais de As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (1972) de Fassbinder. E, como no filme de Fassbinder,o mesmo saboroso tom auto-irônico. Almodóvar, por sua vez, faria sua variação sobre o tema com seu Tudo Sobre minha Mãe. A possessividade e arrogância de Margo e suas discussões conjugais lembram o casal de Quem Tem Medo de V.Woolf? (1966) de Mike Nichols. Mankiewicz voltaria a abordar o mundo dos ícones do teatro e cinema em A Condessa Descalça (1954). 20th Century-Fox. 138 minutos.
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