Filme do Dia: Tetro (2009), Francis Ford Coppola
Tetro (EUA/Argentina/Espanha/Itália, 2009). Direção e Rot. Original:
Francis Ford Coppola. Fotografia: Mihai Malaimare Jr. Música: Osvald Golijov.
Montagem: Walter Murch. Dir. de arte: Sebastián Orgambide & Federico
G.Cambero. Cenografia: Paulina López Meyer. Figurinos: Cecilia Monti. Com:
Vincent Gallo, Alden Ehrenreich, Maribel Verdú, Silvia Pérez, Rodrigo De la
Serna, Erica Rivas, Mike Amigorena, Lucas di Conza, Klaus Maria Brandeur, Sofia
Gala, Carmen Maura.
Bennie (Ehrenreich) visita o apartamento do irmão mais velho, Angelo
(Gallo), em Buenos Aires. Quem o recepciona é sua companheira, Miranda (Verdú),
já que Angelo, que hoje prefere ser chamado apenas como Tetro, não quer mais
manter nenhum vínculo com a família. Aos poucos Bennie consegue entabular uma
relação com o irmão, mesmo sempre repleta de tensão. Sobre os dois paira a
figura do pai genial, o maestro Carlo Tetrocine (Brandeur), cujo egocentrismo
relegou todas as aspirações artísticas do restante da família a mera poeira,
como foi o caso do irmão Alfie (Brandeur), também músico e do próprio filho,
Tetro, que nunca conseguiu concluir um romance autobiográfico, escrito num
surto psicótico. Algo que se transfere
para as relações pessoais, já que Carlo seduziu a namorada de próprio filho adolescente,
Maria Luísa (Gala). Bennie descobre os escritos de Tetro e, após um acidente de
carro, ganha-os de presente de Miranda. O texto é levado a uma montagem da
companhia de José (De la Serna), amigo de Tetro e que já havia montado, sem
sucesso, Fausta. A montagem do texto chama
a atenção da respeitada crítica Alone (Maura), que o seleciona para o prestigiado
Festival da Patagônia. Tetro, no entanto, não perdoa Bennie pelo que fez. Meio
a contragosto ele viaja com o grupo para a Patagônia, mas lá desaparece,
somente voltando no momento em que Bennie receberá a premiação, para afirmar
que ele é seu pai, não irmão.
Certamente a falta de concisão e a excessiva quantidade de personagens
acaba prejudicando um pouco a densidade do drama “entre irmãos”, mas acaba
servindo como pretexto para a sua mirada anti-realista, e mesmo operística e
trágica. Como na tragédia clássica, é das relações de sangue que o filme se
aproxima. Do ressentimento com a figura do pai tornada psicose, mas ao mesmo
tempo do mundo do sucesso e do espetáculo, ironizado de forma caricata e
superficial. E a costura é feito pelo melodrama, não faltando sequer uma
revelação de paternidade próxima ao final e a “superação” da repetição da
relação de rejeição ao filho, que agora se torna aceito pelo pai. É uma licença
poética utilizada pelo realizador para uma situação que, se enfrentada de modo
um pouco mais aprofundado, não forjaria o mesmo final feliz. De todo modo, o
que pode haver de superficial e/ou excessivo não faz submergir o denso, antes
ressaltá-lo. Pode parecer meio estranho, por vezes, com toques de nonsense que chegam a flertar com
Almodóvar (terá sido por acaso a escolha de Maura?). Seu final feliz pode ser
considerado, inclusive, como uma submissão a uma longa tradição que Coppola
parece honrar, adaptando-a para o seu tempo. Destaque para um Brandeur, a muito
tempo distante de produções de destaque, que vivencia insuspeitamente os dois
irmãos. Assim como para Gallo, que mesmo não se afastando de sua persona cinematográfica (celebrizada em
filmes como The Brown Bunny), de cínico e desesperado, consegue ir além,
ao menos no sentido da interpretação dramática convencional, do que em seus
próprios filmes. A bela fotografia em um preto&branco de tonalidade sépia,
com as referência a flashback em cores, aproxima a atmosfera do filme ainda
mais de um anti-realismo que seria uma aproximação apropriada da realidade
mental dos diretamente envolvidos. Zoetrope Argentina/Tornasol Films/BIM
Distribuzone para American Zoetrope. 127 minutos.
Comentários
Postar um comentário