Filme do Dia: O Último dos Loucos (2006), Laurent Achard
O
Último dos Loucos (Le Dernier des Fous,
França, 2006). Direção: Laurent Achard. Rot. Adaptado: Laurent Achard & Nathalie
Najen, baseado no romance The Last of the
Crazy People, de Timothy Findley. Fotografia: Georges Diane & Philippe
Van Leeuw. Montagem: Jean-Christophe Hym. Figurines: Manuela Copens &
Ricardo Muñoz. Com: Julian Cochelin, Annie Cordy, Pascal Cervo, Dominique
Raymond, Jean-Yves Chatelais, Thomas Laroppe, Fattouma Ousliha Bouamari.
Martin (Cochelin) é um garoto de dez anos que vive na
fazenda de sua problemática família. Sua mãe, Nadege (Reymond), com fortes
problemas psiquiátricos, passa quase todo o tempo reclusa em seu quarto. O
irmão mais velho, Didier (Cervo), poeta frustrado, mantém uma relação furtiva
com um vizinho, que acaba decidindo se casar, deixando-o em estado de extrema
perturbação mental. Jean (Chatelais), é um pai ausente e distanciando, não
mantendo mais qualquer contato com a mãe. A avó (Cordy) procura tocar os negócios
da fazenda como se nada ocorresse. A única pessoa da casa com quem Martin pode
efetivar uma relação sem o ônus da própria desagregação familiar é a empregada
Malika (Boumari), de origem árabe. A situação se complica de vez quando Didier
vende a propriedade sem avisar ninguém e se suicida pouco depois.
O filme investe na perspectiva do mundo adulto desvelado
pelos olhos de uma criança – não por acaso situada em local estratégico nos
momentos estratégicos e com brechas estratégicas para espreitar os sentimentos
mais recônditos de todos. Os eventos são observados com relativo distanciamento
e crescente identificação com o seu jovem protagonista, que mesmo quando
expressa suas emoções o faz de forma bastante contida, ao contrário do irmão. É
praticamente a mesma máscara de impassibilidade que acompanha Martin do início
ao final, mesmo quando as lágrimas descem por seu rosto. Achard consegue construir um senso
atmosférico que traduz a inquietação que ronda a todos e que o irmão Didier
resume quando indaga de Martin se ele não sente como se algo perturbador, uma
eminência trágica, pudesse ocorrer a qualquer momento. Ela de fato acontece, no
que talvez seja a solução mais fácil (descontado, é claro, tratar-se de uma
adaptação) para todo sofrimento aspirado e não passível de ser articulado que o
garoto absorve e de uma forma extremamente brutal, mas que de certa forma já
pode ser antecipada pelo próprio título do filme. Há uma sensação de
atemporalidade que resiste mesmo à observação de utensílios domésticos e
veículos que demonstram se tratar do momento contemporâneo à sua produção (o
livro é do final dos anos 1960) e que não cai mal aos seus propósitos. Agat Films & Cie./Versus Prod./Rhône-Alps
Cinéma para Ad Vitum Distribuition. 95 minutos.
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