Filme do Dia: Fogo e Desejo (1996), Deepa Mehta
Fogo e Desejo (Fire, Canadá/Índia, 1996). Direção: Deepa Mehta. Rot. Original: Deepa
Mehta. Fotografia: Giles Nuttgens. Música: A.R. Rahman. Montagem: Barry Farrell. Dir. de arte:
Aradhana Seth Com: Nandita Das, Shabana Azmi,
Jaaved Jaaffery, Kulbhushan
Kharbanda, Kushal Rekhi, Ranjit
Chowdhry, Alice Poon.
Em Nova Delhi, Sita (Das), jovem
recém-casada, sente-se desconfortável com a indiferença do marido, Jatin
(Jaaffery). Dono de uma videolocadora, ele apenas dá atenção a sua amante, a
chinesa Julie (Poon), que sonha em ser estrela de cinema em Hong Kong. Após se
casarem, ambos ocidentalizados, passam a
viver juntamente com o irmão de Jatin, Ashok (Kharbanda), extremamente
religioso, e que fez a escolha por viver fraternalmente com a esposa, Radha
(Azmi), formando um casal mais tradicional. Também vivem na casa a matriarca
Biji (Rekhi), velha senhora semi-inválida após um derrame, que vela para que os
valores tradicionais sejam cumpridos e Mundu (Chowdhry), criado, que ao invés
de assistir aos filmes religiosos que Biji gosta, prefere assistir a filmes
pornôs, que consegue na locadora de Jatin, não fazendo cerimônia em se masturbar
na frente da velha, sabendo que ela não pode falar. Sentindo-se extremamente
rejeitada pelo marido, Sita aos poucos acostuma-se com o cotidiano de ser
traída. Quase todas as noites o marido vai atrás da amante, e Sita já encontrou
seu retrato na carteira do marido. Um dia Radha, cada vez mais amiga, a
encontra chorando na cama. Embora Radha pense que se trata pelo sentimento de
rejeição, na verdade Sita revela chorar por ela, por quem se
encontra apaixonada. As duas passam a vivenciar um romance tórrido, sob as
vistas tanto de Biji quanto de Mundu. Certo dia, porém, Radha flagra uma sessão
de pornografia de Mundu e afirma que irá despedi-lo. Ele ameaça contar tudo
sobre o relacionamento das duas mulheres, o que faz. Após contar
tudo a Ashok, e esse despedi-lo apenas por ouvir ele falando a respeito de tal
coisa, Ashok flagra as duas na cama. Ele sai desesperado de casa, enquanto as
mulheres decidem sobre o futuro delas. Sita resolve fugir e esperar por Radha
em um templo religioso, enquanto esta procura explicar ao marido que vai
deixá-lo. Completamente confuso porque achava que a mulher iria lhe pedir
desculpas por tudo, Ashok é enfrentado por Radha, que afirma que ele deve
buscar seu consolo na religião e não com ela. Radha vai ao encontro de Sita no
templo.
Entre cômico e
dramático o filme repete os mesmos cacoetes de qualquer drama de costumes
pós-moderno. Fé na modernidade de espírito contra os valores tradicionais que
apenas tornam infelizes minorias (em dose dupla, no caso). Fé no prazer, no
corpo contra a religião e seus valores espirituais que apenas escondem
hipocrisia. Tudo sem maiores elaborações. Em um único momento Radha vacila e
pergunta se não está se transformando em alguém egoísta. Fora disso se trata
mais uma vez da batalha das luzes contra a escuridão. Aos homens, tratados de
uma forma mecânica e caricata, principalmente no caso do marido de Sita, quando
equiparados aos personagens femininos, cabe boa parte desse obscuridade, embora
ela provenha da matriarca. Com relação à própria homossexualidade, ela sugere
de certa forma servir involuntariamente como a saída para uma relação
heterossexual tradicional, não uma primeira escolha, algo como “já que somos
mal amadas por nossos homens, vamos nos amar”. Em termos formais o filme também
é bastante precário, embora tal precariedade se ajuste com o ambiente que
retrata e com seu caráter de drama realista contemporâneo. De qualquer forma
bem superior a Kama Sutra, outra
produção pseudo-indiana falada em inglês, também dirigida por uma mulher e
também com colorações feministas. Trial By Fire Films. 104 minutos.
Comentários
Postar um comentário