Filme do Dia: O Vale das Bonecas (1967), Mark Robson
O
Vale das Bonecas (Valley of the Dolls, EUA, 1967). Direção: Mark Robson.
Rot. Adaptado: Helen Deutsche, Dorothy Kingsley & Jacqueline Susann,
baseado no romance homônimo de Susann. Fotografia: William H. Daniels. Música: John
Williams. Montagem: Dorothy Spencer. Dir. de arte: Philip M. Jefferies, Richard
Day & Jack Martin Smith. Cenografia: Raphael Bretton & Walter M. Scott.
Figurinos: Travilla. Com: Barbara Parkins, Patty Duke, Paul Burke, Sharon Tate,
Tony Scotti, Martin Milner, Charles Drake, Alexander Davion, Lee Grant, Susan
Hayward.
Três amigas tentam a sorte
profissionalmente no mundo dos espetáculos e na vida afetiva. Anne Welles
(Parkins) parte de sua província na Nova Inglaterra para Nova York e, como
secretária, assusta-se com a crueldade do mundo dos espetáculos. Neely O´Hara
(Duke), substituta da consagrada Helen Lawson (Hayward), consegue chamar a
atenção da mídia quando possui a oportunidade de substituí-la e rapidamente se
transforma em estrela. Jennifer North (Tate) torna-se a paixão a primeira vista
do cantor Tony Polar (Scotti). Porém, enquanto Anne tem seu amante Lyon Burke
(Burke), envolvido com O´Hara, essa se torna uma viciada em anfetaminas e
bebida, chegando a ser internada em uma clínica para tratamento, após inúmeros
relacionamentos mal sucedidos. Por fim, a bela, porém pouco talentosa Jennifer
tem um romance com Tony interrompido por um acidente súbito que
demonstra ser ele portador de uma grave doença degenerativa hereditária. Para
sustentar seu caro tratamento torna-se atriz de filmes pornôs na França e, após
retornar aos EUA, diante da situação de miséria econômica e conflito moral se suicida.
O´Hara, aparentemente recuperada, volta a beber e é abandonada por Lyon. Esse
procura retornar para Anne, propondo casamento, mas essa prefere permanecer só.
Esse melodrama folhetinesco adaptado de
um best seller de ocasião (a autora e co-roteirista também realiza uma
ponta como jornalista) torna-se involuntariamente ridículo e datado em sua
ânsia de provocar o choque, seja com os limites até então alcançados pela
linguagem chula (bem melhor aproveitados em Quem Tem Medo de V. Woolf?)
ou situações extremas. Porém sua pretensa acidez e incursão no submundo das
drogas e da solidão modernas soam tão profundos quanto os folhetins femininos
adolescentes, com um nível de empostação dramática mais próximo de um período
anterior da dramaturgia cinematográfica norte-americana como Crepúsculo dos
Deuses (a quem chega a aludir em uma seqüência), sem possuir a
grandiosidade do mesmo. A estética do sofrimento feminino para
consumo/identificação imediata com uma platéia pretensamente feminina é
acentuado pelas canções de um kitsch tão horrendo quanto a própria
produção visual do filme, recheado de efeitos ópticos que fazem alusão ao
colorido universo psicodélico das drogas. Outro elemento que não ajuda é a
apresentação meramente esquemática de situações sem que se perceba qualquer
empatia maior pelos dramas de seus personagens, criando um distanciamento que
quando conscientemente trabalhado, como em alguns dos melodramas de Fassbinder,
tornou-se menos falha que valor. Como reflexão semelhante sobre o universo das
modelos, o filme nacional contemporâneo a essa produção Bebel, Garota
Propaganda, mesmo com suas limitações, é um retrato bem mais reflexivo e
menos sensacionalista, apontando implicitamente para uma drama que tem
implicações sociais mais complexas que os seus meros reflexos nas
personalidades individuais parecem supor. 20th Century-Fox/Red Lion. 123
minutos.
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