Filme do Dia: Amor à Flor da Pele (2000), Wong Kar-wai

Amor à Flor da Pele (Fa Yeung Nin Wa, França/Hong Kong, 2000). Direção: Wong Kar-wai. Rot. Original: Wong Kar-wai Fotografia: Christopher Doyle & Mark Lee Ping-bin. Música: Mike Galasso. Montagem e Dir. de arte: William Chang. Com: Tony Leung Chiu Wai, Maggy Cheung, Rebecca Pan, Chen Lai , Chi-ang Chi, Chan Man-Lei, Siu Ping Lam.
       Em Hong Kong, 1962, dois casais mudam-se no mesmo dia para o mesmo prédio de apartamentos. Enquanto a mulher de Chow (Wai) e o marido da Sra. Chan (Cheung) se ausentam por longos períodos, inicia-se uma longa relação de atração entre ambos que, apesar de nunca se concretizar fisicamente, os leva a um estado de dependência afetiva muito forte. Encontrando-se clandestinamente em diversos locais como uma rua,  restaurantes, o próprio prédio em que vivem e o apartamento que Chow aluga, a relação tem um fim com a decisão do mesmo de partir para a Cingapura, incomodado com os boatos a respeito de ambos e aceitando a proposta de emprego acenada pelo amigo Ah Ping (Lam). Algumas tentativas nunca concretizadas de entrar em contato, de ambas as partes, ocorrem no decorrer dos próximos anos, sendo a mais próxima quando Chow retorna a Hong Kong e volta ao prédio onde moraram, sem saber que a Sra. Chan voltara a morar lá, com um filho.
        Kar-wai surpreende pela delicadeza com que narra essa história que ironicamente evoca a tênue linha que separa a tragédia do ridículo nas paixões humanas. Igualmente louvável é o tom profundo e apaixonado com que acompanha o casal protagonista, distante de qualquer sentimentalismo. Ao mesmo tempo demonstra um virtuoso domínio estilístico, unindo elementos audiovisuais de orientação marcadamente clássica, como as belas fotografia, iluminação, música e a magnífica interpretação minimalista dos atores, com outros que são característicos de um já longo histórico de cineastas inovadores como Godard e Spike Lee, como as variadas velocidades na ação do filme, os cortes abruptos e o foco raso. Tais elementos ganham uma dimensão particular, própria ao universo do cineasta. Não menos significativos são os momentos inesperados de ruptura com a narrativa clássica, como os “ensaios” em que o casal protagonista revive momentos que acabara de vivenciar, de outra forma – seja através de uma repetição do diálogo ou dos planos do filme – e os que se referem a si próprios na terceira pessoa. Outro momento de ruptura é o de uma seqüência que se inicia com um primeiríssimo plano de uma lâmpada, enquanto na banda sonora escutamos vozes, desnorteando completamente o referencial de espaço e aparentemente levando a crer que houve um problema com a projeção e, da mesma forma, uma quase tão breve inserção de cenas documentais próximo ao final, apresentando um encontro entre De Gaulle e um líder cambojano. Ainda como comentário irônico sobre o relacionamento o cineasta utiliza-se desde boleros clássicos e de um magistral trabalho de câmera que, em certa seqüência, acentua a pouca distância física que separa o casal, cada qual em seu apartamento. Cineasta do aclamado pela crítica  Felizes Juntos, Kar-wai conseguiu se superar nesse filme que foi indicado para inúmeros prêmios internacionais, na categoria de filme estrangeiro, levando o prêmio de melhor ator em Cannes. Block 2 Pictures/ Jet Tone Production Co./Paradis Films. 98 minutos.


Comentários

  1. Há anos consecutivos dominando o topo da lista de filmes mais aclamados pela crítica no século XXI em compilação do site TSPDT.

    O filme parece ter sido feito para pessoas com a sua sensibilidade, já que captou belezas e detalhes que pelo visto eu falhei em valorizar.

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  2. não conheço esse site Gustavo. Vou dar uma conferida. Você não gosta do filme?

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    1. Não digo que não gosto. É que simplesmente ele não se comunicou comigo. Tenho resistência a filmes românticos, e mesmo o estilo sedutor e elegante de Kar-Wai não quebrou essa barreira.

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