Filme do Dia: Lola (1981), Rainer Werner Fassbinder
Lola (Alemanha, 1981). Direção: Rainer Werner
Fassbinder. Rot. Original: Rainer Werner Fassbinder, Pea Frölich & Peter
Märthesheimer. Fotografia: Xaver Schwarzenbergr. Música: Freddy Quinn & Peer Raben. Montagem: Juliane Lorenz &
Rainer W.Fassbinder. Dir. de arte: Rolf Zehetbauer & Helmut Gassner.
Figurinos: Barbara Baum & Egon Strasser. Com: Barbara Sukowa, Armin
Müeller-Stahl, Mario Adorf, Karin Baal, Peer Raben, Matthias Fuchs, Udo Kier,
Harry Baer, Helga Feddersen, Y Sa Lo, Günther Kaufmann, Rosel Zech.
Von Bohm (Müeller-Stahl) provoca um sobressalto na
pequena cidade alemã onde vai trabalhar, avaliando os projetos na prefeitura. O
empreiteiro Schukert (Adorf) e o prefeito (Raben) são alguns dos corruptos que
temem modificações em seus planos de construção de um prédio. Porém, em pouco
tempo eles percebem que apesar de seu aspecto moderno, Von Bohm não interferirá
no processo. Sua atração por Lola (Sukowa), prostituta que se faz passar por
boa moça, ameniza seu rigor. A situação muda de figura quando o funcionário de
simpatias esquerdistas Esslin (Fuchs), humilhado diante de Lola por seu amante
principal, o próprio Schukert, resolve
mostrar toda a vida subterrânea que corre no bordel onde trabalha Lola.
Indignado, Von Bohn não só não aprova o projeto como tenta denunciar Schukert
na imprensa. A situação volta a mudar de figura quando Schukert sugere que ele
compre Lola. É o que Von Bohn faz, diante de todos, no bordel. No dia do
casamento, enquanto Von Bohn vai da igreja diretamente para o trabalho, Lola
diverte-se com Schukert, que a presenteia com o bordel.
O diálogo inicial entre Esslin e Lola,
quando esse se refere ao fato de toda poesia ser triste, porque a alma é triste possui uma verdade que vai além do raciocínio podendo servir como boa definição
para esse filme repleto de melancolia nas suas entrelinhas. Distante do
melodrama tradicional, Fassbinder cria uma atmosfera soturna, porém distanciada
emocionalmente, auxiliado pelo comentário irônico da trilha sonora. Imaginado
inicialmente como uma refilmagem de O Anjo Azul (1930), de Sternberg, o filme apenas ganha ao se afastar de uma
refilmagem, mesmo que recrie alguns dos temas do filme que celebrizou Dietrich,
como o amour fou da relação entre Von
Bohn e Lola, sendo que algumas seqüências evocam diretamente tal relação – o
assombro de Von Bohn, mesmo que por motivos diferenciados, é de uma dimensão
semelhante ao do personagem vivido por Jannings no filme de 1930. O cineasta
também preferiu transportar sua narrativa para a Alemanha que vivencia o
milagre econômico da década de 1950, como forma de melhor retratar a hipocrisia da elite dirigente em
conivência com todos os setores da sociedade – o dissidente Esslin logo é
cooptado, assim como o próprio Von Bohn. A televisão, tal e qual em Tudo Que o Céu Permite (1956) de Sirk,
é associada ao conformismo que acaba por vencer o protagonista. Ao contrário de
Sirk, no entanto, aqui o amor, no final
das contas, é um elemento menos ameaçador do status quo que corroborador do conformismo. Suas seqüências são
pontuadas pela distorção do foco e suas cores evocam o colorido artificial do
bordel onde transcorre boa parte da ação. É de longe o filme mais notável do
cineasta no final de sua carreira, compondo juntamente com O Casamento de Maria Braun (1978) e O Desespero de Veronika Voss (1982), uma trilogia sobre figuras
femininas na Alemanha do pós-guerra. Essa versão, veiculada pela televisão
brasileira, é a americana, sendo a alemã dois minutos mais longa. Rialto
Film/Trio Film/WDR. 113 minutos.
Indico.
ResponderExcluirÉ de longe o filme mais notável do cineasta no final de sua carreira, compondo juntamente com O Casamento de Maria Braun (1978) e O Desespero de Veronika Voss (1982), uma trilogia sobre figuras femininas na Alemanha do pós-guerra.
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Não conhece? Não sabe o que está perdendo...
He he he...estou em dívida com você, Beth. Nunca mais visitei teu blog. Correria grande por aqui. Bjs.
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