Filme do Dia: Afraid to Die (1960), Yasuzô Masumura
Afraid to Die (Karakkaze Yarô,
Japão, 1960). Direção:
Yasuzô Masumura. Rot. Original: Hideo Ando & Ryuzo Kikushima. Fotografia:
Hiroshi Murai. Música: Tetsuo Tsukahara. Montagem: Tatsuji Nakashizu. Dir. de
arte: Takesaburo Watanabe. Com: Yukio Mishima, Ayako Wakao, Keizo Kawasaki,
Eiji Funakoshi, Takashi Shimura, Yoshie Mizutani, Michiko Ono, Jun Negami.
Takeo Asahina
(Mishima) se encontra jurado de morte, mesmo na prisão, por ter atentado contra
a vida do chefão rival de sua gangue, Yusaku Sakara (Negami). Ele escapa de ser
morto, porém continua vivendo às escondidas. Asahina rompe com a cantora de
cabaré Masako (Mizutani) logo ao sair da prisão. Ele se envolve com Yoshie
Koizumi (Wakao) que deseja que ele abandone o mundo do crime. Yoshie engravida
dele. Ele tenta fazer que ela aborte, mas ela resiste a todo custo e decide ter
o filho. Takeo rompe com uma das regras de ouro dos homens da Yakuza,
apaixonar-se. Isso fica evidente quando ele procura livrar o irmão de Yoshie,
Shoichi (Kawasaki), líder comunista que foi feito refém pela gangue rival. O
envolvimento afetivo de Takeo levará ao seu trágico final.
Distante dos
melhores resultados conseguidos com suas fábulas morais sobre o Japão (Giants and Toys) e sobre a juventude e
o amor (Beijos), Masumura, no
entanto, não demonstra temor em ousar por gêneros e estilos diversos, como a
própria diversidade dos dois filmes anteriores citados já havia demonstrado.
Mesmo que aqui a trama seja mais próxima de refletir clichês do gênero policial
há muito sedimentados por seu apelo melodramático – o bandido cruel que possui
um forte núcleo de bonomia dentro de si e que através da família possui chance
de se regenerar, possibilidade evidentemente não concretizada (tal como, por
exemplo, em Lúcio Flávio), o estilo
com que tudo é narrado é bastanto seco e anti-sentimental. Como exercício de
anacronismo se poderia imaginar que a melhor utilização de recursos como a
trilha sonora e personagens mais bem construídos se atingiria um nível de
atmosfera, estranhamento e falseamento próximo do universo dos pequenos
criminosos posteriormente efetivado por Fassbinder. Há uma ênfase ainda maior
em referências sexuais pelo viés histriônico – se em Giants and Toys se faz uma alusão pouco velada ao desejo das
mulheres japonesas por homens ocidentais dizer respeito a peculidade anatômica
dos homens orientais, aqui a um número musical em que a banana se torna o
pretexto para comentários explicitamente fálicos. A figura de mulher aqui, ao
contrário dos outros (sobretudo Giants
and Toys) se rende aos estereótipos da submissão à uma virilidade violenta
– Yoshie é conquistada através nada menos de um estupro – e uma fidelidade à toda
prova, que inclui o próprio risco de vida. Como é habitual nesse tipo de filme
a figura de fatalidade representada pelo protagonista, que a certo momento
afirma não saber outra coisa na vida que o crime, somente possui uma breve
esperança de redenção através da mulher que ama, que provoca alguns poucos
momentos de relaxamento na eterna tensão e adrenalina, ainda que contida (não
se abusa, longe disso, da espetacularidade), porém tal esperança tem prazo
curto para acabar. Estréia de Mishima, célebre escritor e dramaturgo
japonês, como ator de cinema. Masumura
adaptaria em 1972 uma obra de Mishima dois anos após seu suicídio. Daiei Studios. 96 minutos.
Comentários
Postar um comentário