Filme do Dia: Dias de 36 (1972), Theo Angelopoulos

Dias de 36 (Meres tou ’36, Grécia, 1972). Direção: Theodoros Angelopoulos. Rot. Original: Theodoros Angelopoulos, Stratis Karras, Petros Markaris & Thanassis Valtinos. Fotografia: Giorgos Arvanitis & Vassilis Christomoglou. Montagem: Vasilis Siropoulos. Dir. de arte e Figurinos: Mikes Karapiperis. Com: Kostas Pavlou, Thanos Grammenos, Takis Doukatos, Christoforos Nozer, Giorgos Kiritsis, Alekos Boubis, Vasilis Tsaglos, Vangelis Kazan.
1936. Após o assassinato de um líder sindical, Sofianos (Gramennos), antigo informante da polícia, é preso como suposto assassino. Após receber visita de um político conservador, Kriezis, com quem mantinha relacionamento, torna-o seu refém, ameaçando mata-lo e se matar, caso não seja liberto. As autoridades tentam envenena-lo, mas Sofianos consegue se safar. Depois, atiradores de elite são posicionados e Sofianos atingido letalmente, enquanto Kriezis é liberto vivo.
Sua narrativa é contada sobretudo a partir de elementos gráficos do que propriamente diálogos. Planos abertos e longos, movimentações em conjunto  ou solitárias e ruídos, assim como ausência de trilha sonora criam a atmosfera de opressão em meio a sordidez da árida geografia associada a tacanha política paternalista da ditadura, com seus enfadonhos burocratas e militares reunidos  trajando ternos impecáveis em ambientes rústicos com paredes adornadas por fotografias das autoridades máximas. Tudo isso e mais o desprezo por um foco em personagens isolados, aproximando-se mais de uma tentativa de demonstração do funcionamento de aspectos da sociedade grega da época como um todo, aliás já ressaltados por seu estilo visual de planos amplos, em tudo e por tudo diferem da visão mais popular e convencional de seu conterrâneo em um trama também ambientada no regime ditatorial (Z, de Costa-Gravas). Muitos dos detalhes da narrativa, de fato, somente podem ser inferidas a partir de relatos do próprio realizador desse filme que, como é comum nas obras modernistas, não se preocupa em apresentar maiores detalhes da narrativa; caso, por exemplo, do envolvimento amoroso do político com Sofianos ou do fato do homem morto ser um líder sindical. Seu tom distanciado, mesmo em momentos de maior intensidade, como é o caso do protesto coletivo dos presos logo após a execução de música, uma das exigências de Sofianos, o destaca de imediato da produção rotineira, intensificando o que poderia ser negligenciado pela redundância – para efeitos comparativos, basta observar como a recepção da música em um campo de prisioneiros é observado em Um Canto de Esperança ou mesmo em Homens e Deuses. A sensibilidade visual do realizador se faz presente no intenso uso dos espaços internos e externos,  e sua dimensão gráfica  se encontra presente até mesmo no modo como as pessoas correm. Nos créditos surgem fotos do próprio período retratado. Paralelos podem ser traçados com o Cinema Novo, que também efetuou suas revisitações de períodos históricos conturbados, mesmo que de forma mais subliminar, como o contemporâneo São Bernardo, de Hirzsman. E, igualmente como no caso brasileiro, também foi produzido durante um regime ditatorial. Talvez o único elemento que se sobressaia de forma algo grosseiramente caricata seja o modo como a elite britânica é retratada, regada a champanhe em trajes de gala à beira da praia. Prêmio FIPRESCI no Festival de Berlim. Papalios Prod. 105 minutos.

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