Diretoras de Cinema#14: Helma Sanders-Brahms
SANDERS-BRAHMS, Helma (1940-*). Alemanha. Helma Sanders-Brahms nasceu em 20 de novembro de 1940, em Emden, Alemanha. É mais conhecida pelas plateias internacionais como a diretora de Alemanha, Mãe Pálida. É descedente de Johannes Brahms, o compositor. Após estudar teatro, Sander-Brahms maticulou-se na Universidade de Colônia. Trabalhou em muitas capacitações, incluindo indústria, comércio e ensino, antes de encontrar um emprego na televisão alemã como narradora em voz over. No final dos anos 60, começou a realizar curtas e documentários, após trabalhar como assistente de direção de Sergio Corbucci e Pier Paolo PasoliniPier Paolo Pasolini. Como Helke Sander, os filmes de Helma Sanders-Brahms lidam com temas como o feminismo, identidade urbana e autobiografia.
Angelika Urban, Sales Assistant, Engaged (1970) é o primeiro fime de Sanders-Brahms. Lida com a experiência pessoal da realizadora como vendedora. Angelika Urban venceu dois prêmios no Festival de Oberhausen de 1970. Sanders-Brahms vendeu Angelika para uma rede de televisão alemã e lhe foi oferecida posteriomente uma série de oportunidades de direção. Shirin´s Wedding (1975) é um estudo incisivo de uma jovem turca que viaja à Alemanha em busca de um homem que era seu noivo e a deixou com uma criança. A busca é mal sucedida, e ela termina trabalhando como prostituta para se manter. Julia Knight descreve o estilo do filme:
Utilizando uma combinação de realismo de baixo orçamento e uma voz over conversada, o filme não somente oferece um comovente retrato de sua protagonista central, como também opera enquando observador da relação entre duas culturas. (p. 12)
Shirin's Wedding é um filme bastante controverso. Foi sucesso comercial, mas muito criticado pela comunidade turca na Alemanha. Em 1976-77, Sanders-Brahms dirigiu Heinrich, filme baseado nos escritos e na vida do escritor do século XIX, Heinrich Von Kleist. Julia Knight comenta que foi o primeiro filme de uma diretora a ganhar o prêmio mais importante do país. No entanto, como Knight observa, foi criticado por ter "pouca relevância contemporânea" (p. 13).
Alemanha, Mãe Pálida é também controvertido entre os críticos de cinema alemães. Tem sido percebido como uma trivialização da história alemã durante a Segunda Guerra, mas foi elogiado como uma narrativa autobiográfica da experiência das mulheres durante o regime nazista. Alemanha, Mãe Pálida é uma ousada investigação sobre as atividades da mãe de Sanders-Brahms durante a Segunda Guerra, e possui muito em comum com The Ties that Bind, de Su Friedrich, no qual a realizadora questiona diretamente sua mãe sobre a vida dela durante o regime nazista. As experiências das mulheres são frequentemente perdidas nos estudos das histórias patriarcais, e é sobre o não-dito que Sanders-Brahms negocia. Sua mãe, como a de Su Friedrich, não foi apoiadora do Nazismo, ainda que ambas tenham sido forçadas a adotar uma posição apolítica para sobreviver. Questões de cumplicidade, subjetividade, e memória são centrais a ambos os filmes. Sanders-Brahms incorpora imagens de arquivo documentais e ficcionais em Alemanha, Mãe Pálida, para mais acuradamente posicionar seu filme nos meandos entre a "verdade" biográfica e a subjetividade. Ela reencena a vida de sua mãe, o namoro, casamento e nascimento da filha, a perda da casa com a guerra, e sua adesão a outras mulheres para a reconstrução da Alemanha após a guerra. Ao fazê-lo, Sanders-Brahms reencena a experiência de muitas outras mulheres alemãs cujas vozes são marginalizadas ou silenciadas pela exclusão. Sanders-Brams fala através da experiência da mãe, em voz over narrativa. "De você, aprendi a falar" ela afirma.
Richard W. McCormick observa que Sanders-Brahms age como 'a 'enunciadora' do filme, como quem o constrói" (p. 196). Numa cena, utiliza-se da técnica do distanciamento de uma narrativa em voz over do conto de fadas "A Noiva do Ladrão" em uma cena no qual a mãe é estuprada por soldados americanos embriagados. De forma muito evidente, Sanders-Brahms está esboçando um paralelo entre a opressão nazista e a violência masculina. O refrão do conto, "volte, volte, volte, noivinha, você está na casa de assassinos'", é utilizado com pleno efeito para sublinhar esta conexão. Ainda que Alemanha, Mãe Pálida tenha sido criticado como um melodrama de arte raso por alguns, McCormick observa-o como um filme politicamente responsável, fornecendo "a prova, por assim dizer, que os horrores da guerra que conformaram a história de sua mãe foram reais, não um sonho." (p. 206).
FILMOGRAFIA SELECIONADA
Angelika Urban, Verkäuferim, Verloht (Angelika Urban, Sales Assistant, Engaged) (1970)
Gewalt (Violence) (1970)
Die Industrielle Reserverarmee (The Industrial Reserve Armee) (1970-71)
Der Angesteltte (The Employee) (1971-72)
Die Maschine (The Machine) (1972-73)
Die Letzten Tage von Gomorrah (The Last Days of Gomorrah) (1973-74)
Die Erdbeben in Chile (Earthquake in Chile) (1974)
Unter dem Pflaster ist der Strand (The Beach under the Sidewalk) (1974)
Shirins Hochzeit (Shirin's Wedding) (1975)
Heinrich (1976-77)
Deutschland, Bleiche Mutter (Alemanha, Mãe Pálida) (1979-80)
Vringsveedeler Tryptichon (The Vringsveedol Tryptych) (1979)
Die Berürhte (A Escolhida) (1981)
Die Erbtöchter (The Daugher's Inheritance) (co-diretora) (1982)
Flügel und Fesseln (The Future of Emily) (1984)
Alte Liebe (Old Love) (1985)
Laputa (1985-86)
Felix (co-diretora) (1987)
Manöver (Manoueuvres) (1988)
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
Kaes, Anton. From "Hitler" to "Heimat": The Return of History as Film. Cambridge: Harvard University Press, 1989.
Knight, Julia. Women and the New German Cinema. London: Verso, 1992.
Kuhn, Annette. Women's Pictures: Feminism and Cinema. London: Routledge, 1982.
Mayne, Judith. The Woman at the Keyhole: Feminism and Women's Cinema. Bloomington: Indiana University Press, 1990.
McCormick, Richard W. "Confronting German History: Melodrama, Distantiation, and Women's Discourse in Germany, Pale Mother." In Gender and German Cinema: Feminist Interventions, Vol. 2, (org.) Sandra Frieden, Richard W. McCormick, Vibeke R. Petersen, Laurie Melissa Vogelsang, 185-206. Oxford: Berg, 1993.
Quart, Barbara. Women Directors: The Emergence of a New Cinema. New York: Praeger, 1988.
Rentschler, Eric. West German Film in the Course of Time. Bedford Hills, NY: Redgrave, 1984.
Rentschler, Eric, (org.) German Film and Literature: Adaptations and Transformations. New York: Methuen, 1986.
Silberman, Marc. "Women Filmmakers in West Germany." Camera Obscura 10 (Outono1980): 123-52.
Texto: Gwendolyn Audrey Foster, Women Film Directors - An International Bio-Critical Dictionary , pp. 326-29. Westport: Greenwood Press, 1995.
N. do E: (*) falecida em 2014.
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