Filme do Dia: O Intrépido (2013), Gianni Amelio



 Intrépido (L’Intrepido, Itália, 2013). Direção: Gianni Amelio. Rot. Original: Gianni Amelio & Davide Lantieri. Fotografia: Luca Bigazzi. Montagem: Simona Paggi. Dir. de arte: Claudia Bagordo & Giancarlo Basili. Cenografia: Benedetta Brentan. Figurinos: Cristina Francioni. Com: Antonio Albanese, Livia Rossi, Gabriele Rendina, Toni Santagata, Sandra Ceccarelli, Giuseppe Antignati, Gianluca Cesale, Fabio Zulli.

Milão. Antonio Pane (Albanese), homem de meia-idade, sobrevive como o substituto de trabalhadores que por algum motivo não podem comparecer ao trabalho. Nessa função participa de atividades das mais distintas, de operário da engenharia civil a entregador de pizza, de colador de cartazes a massagista. Quando presta um concurso, conhece uma garota, Lucia (Rossi), a quem passa a cola das questões. A espera após o final das provas, mas ela passa por ele, sem o menor sinal de reconhecimento. Tempos depois, a reencontra e ficam relativamente próximos, mesmo que mantendo sempre uma distância, administrada sobretudo por ela. O filho de Antonio é o saxofonista Ivo (Rendine), que tenta, sem grande sucesso, estabelecer uma carreira. Antonio reencontra sua ex-mulher, enquanto vende rosas em um restaurante. Ela, Adriana (Ceccarelli), fica comovida, achando que ele se encontra numa situação econômica ainda pior que de fato se encontra. Antonio sabe, através do jornal, do suicídio de Lucia. Vai trabalhar na Albânia. Retorna para assistir o filho se apresentando, mas esse se encontra com síndrome do pânico e não está disposto a se apresentar. Afirma ao filho que não sabe do que se trata e que ele deveria se apresentar, após tão longa viagem efetuada por ela para vê-lo. O filho acaba se apresentando.

Menos diretamente vinculado às “glórias do passado” do cinema italiano, ainda que o personagem de Antonio possa ser, sem muito esforço, equiparado ao seu homônimo de Ladrões de Bicicleta (1948), com as devidas atualizações da globalização e da “flexibilização” do trabalho, sendo que nem mesmo o trabalho de pregar cartazes, função do personagem do filme de De Sica, deixa de ser referida e também atualizada – aqui ao invés de cartazes de cinema, de propaganda de prevenção contra a AIDS, apresentando traseiro feminino e masculino respectivamente. Há um duplo ressentimento na raiz do personagem de Antonio, em relação a sua situação de subsistência e também afetiva que o filme não chega a elaborar. No quesito afetivo, parece residir sobretudo no esforço para se comunicar com os mais jovens, seja seu filho, seja Lucia, seja o garoto que a entrega nas mãos de um explorador sem o saber. Antonio se mantém firme, com seu sorriso e gentileza, e segue vivendo. Essa parece ser, em última instância, a mensagem do filme. E a que ele repassa ao filho, que de maneira algo fácil vence seus próprios temores a partir dela. Um recado para as novas gerações? Sendo assim, esse recado parece ser o do impasse vivenciado pelo próprio personagem, que não consegue estabelecer uma estabilidade seja econômica, seja afetiva – ele tampouco consegue ir além de esboçar o carinho e a atração, entre paternal e sexual, que desenvolve por Lucia. Há um hiato não muito bem trabalhado no esboço de sua construção crítica das relações de trabalho na contemporaneidade, observadas com certo bom humor (e impaciência por parte de Antonio) e a complacência que domina o restante do filme, derivado em boa parte da construção de um Antonio grandemente ambíguo, entre desgostoso e satisfeito com sua própria sorte. Há uma referência a A Terra Treme numa determinada cena na qual Ivo esbraveja do palco com o pai, que se encontra na plateia. Posição aliás bastante condizente com seu tom de passividade atônita com relação a um mundo que, desistindo de compreender, resigna-se apenas a viver. Palomar/RAI Cinema para O1 Distribution. 104 minutos.

 

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