Filme do Dia: Videogramas de uma Revolução (1992), Harun Farocki & Andrei Ujica
Videogramas de uma Revolução (Videogramme einer Revolution,
Alemanha/Romênia, 1992). Direção e Rot. Original: Harun Farocki & Andrei
Ujica. Montagem: Egon Bunne.
Documentário que talvez seja menos
sobre os eventos que findaram por depor e, posteriormente, assassinar, em
tribunal sumário, o ex-ditador Nicolau Ceausescu e sua mulher, Elena que, a
partir de imagens exclusivamente de arquivo, efetuar comentários sobre a
natureza das imagens. E são uma variedade diversas de imagens, desde as
oficiais igualmente captadas por outros ângulos até as colhidas
clandestinamente, pelas frestas da janela e apenas posteriormente, com a
revolução em curso, no meio das ruas (tal como a dinâmica dos que filmaram a
Primavera de Praga como posto em No Intenso Agora). O momento do discurso de Ceausescu em que explode a revolta
é particularmente dissecado. Quando o tirano observa que há algo diferente em
meio a impressionante multidão, sua fala é suspensa, a câmera treme, o som vem
a ser cortado, não sem antes ouvirmos de um assessor dele que a multidão invade
o Palácio. Também se observa a enorme multidão no que seria o contracampo da
imagem do ditador na tribuna da sacada, o grupo que se aproxima do Palácio. Em
um dos momentos mais interessantes, um grupo que representa lideranças afinadas
com à revolução se prepara, algo desajeitadamente, para a iminente entrada ao
ar na tv. É um retrato de encenação de poder, bem menos oficioso, articulado e
centralizador que o de Ceausescu certamente. São falas improvisadas, nervosas,
tomadas no calor do momento. Porém não menos conscientes do que representam naquela
ocasião. Em mais de uma situação flagramos a tensão dos que falam ao vivo na
TV, em um deles não sabendo ao certo se se encontram seguros ou não, com um
militar armado intervindo mais de uma vez na imagem. O filme parece uma vez
mais, observar a importância da câmera não apenas na representação do evento,
mas em sua própria constituição. E quando ela é interdita se imagina que alguma
manobra escusa ou de segurança confidencial será discutida, como é o caso de um
determinado momento no estúdio de TV, em cena que não deixa de ser evocativa de
outro filme de Salles, Entreatos. E
o outro lado da moeda tampouco fica sem registro, como é o caso das inúmeras
imagens nas quais se assiste o que é televisionado, inclusive ao final, quando
se noticia sobre a execução do casal Ceausescu e, posteriormente, para aqueles
que ficaram indignados com a ausência de imagens de seus corpos, presenciam
coletivamente a transmissão das mesmas com alívio, encerrando o episódio mais
agudo de um ciclo político de enorme instabilidade – e por tabela, o filme.
Bremer Institut Film/Harun Farocki Filmproduktion. 106 minutos.
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