Filme do Dia: Piedade (2019), Cláudio Assis
Piedade (Brasil, 2019). Direção: Cláudio Assis. Rot. Original: Anna
Francisco, Dilner Gomes & Hilton Lacerda. Fotografia: Marcelo Durst.
Montagem: Karen Harley. Dir. de arte: Carla Sarmento. Figurinos: Andréa
Monteiro. Com: Matheus Nachtergaele, Irandhir Santos, Cauã Reymond, Fernanda
Montengro, Gabriel Leone, Mariana Ruggiero, Francisco Assis Moraes, Arthur
Canavarro, Denise Weinberg.
Aurélio
(Nachtergaele) é o ambicioso representante de uma companhia petrolífera, que
pretende amealhar o terreno onde vive a idosa Dona Carminha (Montenegro), que
lá possui um bar decadente, desde que as mudanças nas vizinhanças retiraram a
maior parte da freguesia do mesmo. Nesse bar atende seu filho e um dos mais
irredutíveis defensores de não se negociar com a empresa, Omar (Santos),
tio-pai do garoto Ramsés (Moraes). Aurélio investiga e consegue descobrir sobre
o filho desaparecido e irmão de Omar e Fátima (Ruggiero), Sandro (Reymond),
homem gay que gera um local de encontros para sexo, e tem um filho de idade não
muito distante da sua, Marlon (Leone).
Entre
tiradas boas e ruins, apela-se, via de regra, aos lugares comuns. Como o da
morte. Ainda que em uma personagem nonagenária. E mesmo que depois de descobrir
da existência de um filho que procurava fazia três décadas. Ou ainda sobre o
avanço do capital a desfazer coisas belas, remontadas a partir de um quadro –
nesse campo, quando não aprofundado, chega-se às profundezas de um folhetim
eletrônico, e o documentário pode ser mais efetivo. O entrelaçamento dramático
não parece ocorrer de todo, ao contrário da novela. Chega a ocorrer lágrimas,
mas não dilaceramentos. E, ao contrário da maior parte das novelas, não há
propriamente um final feliz. Nem uma reação sequer simbólica como a de Sônia
Braga ao final de Aquarius, com o
qual pode ser comparado. Como um personagem fala, as emoções se vão
rapidamente. A imagem final é a do garoto com sua inseparável máquina de
realidade virtual, sua única forma de vivenciar sua utopia, a do mar, mesmo
morando poucos metros desse, numa referência a Deus e o Diabo na Terra do Sol, também lembrando em um momento de
cantoria, em meio ao concreto dos edifícios do Recife. Ao contrário de Kléber
Mendonça, Assis busca unir seu comentário social ao riscado mais convencional
do melodrama (família, filhos separados, traição, dinheiro, propriedade,
maniqueísmo), porém como não costuma trabalhar demasiado na composição dos
personagens, fica-se no campo minado do nem lá nem cá, o que não deixa de ter
seu charme e valor. Também rescende a Cinema Novo a composição caricata da
elite encarnada na figura do inescrupuloso Aurélio. Um dos elementos que
transcende o convívio social é o fato de mesmo separado da família, Sandro ter
batizado seu filho em tributo a Marlon Brando, assim como Omar já o fora a Omar
Shariff. O lusco-fusco e mesmo escuridão de algumas cenas deixa várias cenas praticamente pouco visíveis – ao
menos para quem o assistu pela primeira vez via streaming. Dedicado a mãe do realizador. Canal
Brasil/Gullane/Perdidas Ilusões/República Pureza Filmes. 98 minutos.
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