Filme do Dia: 24 Horas de Sonho (1941), Chianca de Garcia

 


2 4 Horas de Sonho (Brasil, 1941). Direção: Chianca de Garcia. Rot. Original: Chianca de Garcia, a partir de argumento de Joracy Camargo. Fotografia: George Fanto. Música: Arthur Brosman. Dir. de arte: Hippólito Collomb. Figurinos: Iracema Gomes Marques. Com: Dulcina de Moraes, Odilon Azevedo, Conchita de Moraes, Aristóteles Penna, Laura Soares, Átila Moraes, Sara Nobre, Paulo Gracindo, Sadi Cabral.

Após uma tentativa frustrada de suicídio aos pés do Cristo Redentor, Clarice (Dulcina de Moraes) pega um táxi e roda pela cidade sem dinheiro. O motorista do veículo, Cícero (Penna) é convencido, mesmo após saber de tudo, a leva-la a um concurso de rádio, onde a moça ganha cem mil réis e, almoçando com Cícero, resolve acatar seus conselhos de viver 24 horas de sonho, antes de finalmente cometer o ato final, o qual já tentara dezenas de vezes. Ela se finge de aristocrata europeia ao se hospedar no Copacabana Palace, com um grupo de refugiados endinheirados europeus. Lá conhece Roberto (Azevedo), galanteador e tão “rico” quanto ela. Embriagada e suicida, Clarice ajuda um roubo no hotel das jóias.

Talvez o maior mérito dessa aborrecida comédia de erros, em que os personagens se fazem passar por quem não são, um elemento típico do gênero, também explorado fortemente na cinematografia portuguesa da época, de onde Garcia era proveniente, seja o seu comentário subliminar, ainda que involuntário, sobre os sonhos dos destituídos em um universo marcado pelos desejos de riqueza e fausto, tão enganosos quanto os vendidos pelo próprio cinema para espectadores semelhantes. Cenas como a de Cícero dialogando com seu automóvel a respeito de Clarice, com direito a planos/contraplanos e uma piscada de olho do carro sob o formato de pisca-pisca são bem afinadas com o humor da época, assim como a apresentação de pessoas em ambientes elegantes, incluindo um número de dança sobre patins, ainda que bancados falsamente, como no caso da protagonista, o são com os preceitos do crítico Adhemar Gonzaga, dono do estúdio que o produziu. A maior parte do (pretenso) humor, no entanto, ficaria a cargo dos diálogos, como as tiradas da abilolada Clarice do tipo “Eu nunca pensei que ser ladrão desse tanto trabalho.” É curioso que em meio a tantos clichês e soluções talvez  não muito bem arranjadas, o final feliz apenas se dê porque Roberto fica sabendo da fortuna envolvida em relação à Clarice e, muito rapidamente, como de praxe, Cícero transforma sua paixão pela mesma em admiração, algo de cunho mais apropriadamente assexuado. Dulcina parece ser uma tentativa de Claudette Colbert à brasileira. Sua banda sonora se encontra bastante deteriorada. Cinédia. 104 minutos.

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