Filme do Dia: O Retrato de Dorian Gray (2009), Oliver Parker

 


ORetrato de Dorian Gray (Dorian Gray, Reino Unido, 2009). Direção: Oliver Parker. Rot. Adaptado: Toby Finlay, a partir do romance de Oscar Wilde. Fotografia: Roger Pratt. Música: Charlie Mole. Montagem: Guy Bensley. Dir. de arte: John Beard. Cenografia: Niamh Coulter. Figurinos: Ruth Myers. Com: Ben Barnes, Colin Firth, Ben Chaplin, Rebecca Hall, Rachel Hurd-Wood, , Johnny Harris, Alan Campbell, Jeff Lipman.

Recém-chegado a Londres, o jovem e belo Dorian Gray (Barnes) acaba provocando furor na sociedade, principalmente após ter seu retrato pintado por Basil Hallward (Chaplin). Basil, no entanto, demonstra-se receoso da influência de seu excêntrico amigo, Lorde Henry Wotton (Firth). Apaixonado pela jovem atriz de teatro, Sybil Vane (Hurd-Wood), Dorian é corrompido pela influência de Lorde Henry, indo para prostíbulos e fumando ópio. Sybil descobre rapidamente tudo e os planos de casamento são cancelados. Enquanto se prepara para mais uma noite de orgias, Dorian recebe a visita do irmão de Sybil, James (Harris), que lhe fala sobre o seu suicídio e tenta matá-lo. A partir de então, Dorian se torna uma figura completamente cínica e fria. Dorian guarda em completo segredo o quadro pintado por Basil, que aos poucos apodrece, enquanto ele permanece jovem. Basis descobre tudo e é morto por ele. O tempo passa. As pessoas envelhecem e Dorian volta a Londres tão jovem quanto antes, para espanto de todos. Ele se apaixona pela filha de Lorde Henry, Emily (Wotton) e promete se regenerar, algo que o pai da garota, contrário a relação entre ambos, não acredita.

Seu por vezes mirabolante trabalho de câmera e interpretações medianas não conseguem dar conta da grandeza e do tom correto e difícil equílibrio entre realismo e fantasia do original de Wilde. Aqui se apela para os elementos mais facilmente dignos de sensacionalismo visual, seja os bairros do meretrício de Londres ou o assassinato sanguinolento de Basil. Sua trilha sonora, trivial e insistente, é mais um elemento a completar sua redundância, e sua “atualização” dos momentos de erotismo, com direito a homossexualidade apenas sugerida do livro na relação entre Dorian e Basil e as cenas de orgia, parecem uma piscadela populista para o público contemporâneo tão ou mais explícita que uma das expressões de constrangimento expressadas por Dorian diante de sua amada Sybil, essa certamente menos consciente. Trata-se, de todo modo, de uma atualização que se choca com cliches visuais e dramáticos de cunho abertamente melodramático, como é o caso da ênfase com que Wotton observa como espectador de teatro a dissolução da relação entre Gray e sua amada ou que o baú com o corpo retalhado de Basil é jogado ao mar. Mas o golpe de misericórdia se dá com os efeitos digitais que representam as alterações drásticas do quadro ao final. É como se o que houvesse de trivial e de pouco talento na produção de um realizador dado a tentar conquistar notoriedade pelo material que adapta (Othelo e outras duas adaptações prévias de textos de Wilde) se rendesse a um universo cinematográfico de paródia de filme de horror. Uma desculpa que Parker poderia alegar para a imposição de cenas que eram apenas sugeridas no romance poderia ser a de traduzir para o público do momento de seu lançamento o quão odioso e ao mesmo tempo desvelador de hipocrisias é o seu protagonista. Porém, essa é uma solução que se consegue através de uma boa direção de atores e senso atmosférico, qualidades aqui ausentes, sendo que a melhor adaptação ainda segue sendo a de 1945, dirigida por Albert Lewin. Ealing Studios/Fragile Films para Momentum Pictures.  112 minutos.

 

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