Filme do Dia: Noturno (1966), Alfredo Sternheim
Noturno (Brasil, 1966). Direção: Alfredo Sternheim.
Fotografia: Rudolf Icsey. Montagem: Máximo Barro.
Espécie de sinfonia urbana condensada,
apresentando a noite da grande metrópole paulistana e o nascimento de um novo
dia. Se a ênfase parece ser na diversidade de atividades que acompanham a urbe
incessante em variados aspectos, do lazer ao trabalho – vida noturna, terminal
rodoviário, futebol, corrida de carros, boliche, trabalho industrial em uma
siderúrgica, escola de arte – o que poderia sugerir às odes à modernidade que
representavam as sinfonias urbanas do período mudo (notadamente a mais célebre,
Berlim, Sinfonia de uma Metrópole),
o efeito aqui parece ser inverso. A utilização de uma trilha musical
predominantemente não assertiva e tendendo ou a melancolia (tema erudito) ou ao
distanciamento (jazz moderno), associado a ausência de rostos ou pessoas
aproximadas, sempre observadas mais a distância em suas atividades, constroem
um retrato eminentemente asséptico e – ainda que involuntariamente e à revelia
de seus realizadores – centrado em um ritmo social marcado pela monotonia e
repetição dos atos. Algumas opções de sua montagem soam por demais óbvias,
traçando o caminho do letreiro luminoso ao locutor que anuncia a mesma notícia
em uma estação de rádio, ou o equivalente televisivo ao jogo de futebol
anunciado. Falta, no entanto, a figura humana que longe de protagonizar tais
atividades, parece antes um espectro que se desloca sem grande autonomia em um
mundo eminentemente maquínico. Chega, a determinado momento, em uma de suas
vinculações, talvez a menos bem conseguida, a encenar uma direção perigosa à noite,
que segue o motivo anterior das corridas de automóveis para simular um acidente
e a cena seguinte, filmada em um hospital. Ao final de contas, se tivesse
maturado melhor as inúmeras facetas que apresenta de São Paulo, o filme
conseguisse limar de si uma impressão incômoda de aleatoriedade que parece
pousar menos enquanto qualidade que como letargia. Um pouco após, Reichenbach
realizaria uma aproximação bem mais micro-urbana e irônica com seu Esta Rua Tão Augusta. INCE. 13 minutos.
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