Filme do Dia: A História Não Contada dos Estados Unidos - Paz Desperdiçada e a Nova Ordem Mundial (2012), Oliver Stone
A História Não Contada dos Estados Unidos – Paz Desperdiçada e Nova Ordem Mundial (The Untold History of the United States. Chapter 9: Bush & Clinton – Squandered Peace and New World Order, EUA, 2012). Direção Oliver Stone. Rot. Original Peter Kuznick, Matt Graham & Oliver Stone. Música Craig Armstrong & Adam Peters. Montagem Alex Márquez.
Inicia lembrando um
curto período entre o final da década de 1980 e idos da seguinte que o mundo
encontrava-se em situação praticamente destituída de grandes conflitos, com o
final de vários deles vividos ao longo de vários anos (Nicarágua, Afeganistão, Irã
x Iraque). Traz cenas dos filmes ficcionais O Resgate do Soldado Ryan, Pearl Harbour
– ambos para discutir a exaltação americana em sua participação na Segunda
Guerra, inclusive no quesito de maior fragilidade, quando foi atacado em seu
próprio território. O pai de Bush representa um passado convenientemente
esquecido e varrido para baixo do tapete na história americana, envolvendo as
simpatias nazi-fascistas e o envio de apoio econômico para o Terceiro Reich.
Multinacionais tão conhecidas e influentes no Ocidente como a General Motors e
a IBM também foram apoio importante na logística do extermínio. O legendário
Henry Ford chegou a escrever um livro sobre o problema dos judeus e foi
considerado como um exemplo para Hitler, detentor de um retrato em seu
escritório. Além da Ford e GM, empresas como Standard Oil, Alcoa, ITT, General
Eletric, Dupont, Eastman Kodak, Westinghouse, United Fruit, Douglas e Singer,
dentre outras, continuaram a realizar negócios com a Alemanha. A primeira
revelação pública dos campos de extermínio ocorreu em 1942, mas na página 10 do
New York Times! Tais empresas conseguiram, inclusive, ser indenizadas por suas
subsidiárias bombardeadas na Alemanha. Amparados legalmente pelos Irmãos
Dulles, John Foster e Allen, os mesmos a fazerem história na política e
diplomacia norte-americanas. Quatro grandes bancos estadunidenses conseguiram
ofuscar sua colaboração com os nazistas. O magnata da mídia William Randolph
Hearst tratava os nazistas sob uma luz simpática em perspectiva do temor
soviético, em seus influentes jornais. Bush, como Truman, cercou-se de
assessores ferrenhamente anticomunistas como o secretário de defesa Dick
Cheney. Em questão de meses, praticamente todos os regimes comunistas do leste
europeu caem em 1989. Francis Fukuyama, encantado com o momento histórico
vivenciado, declarava “o fim da história”, apontando a democracia liberal como
forma definitiva de governo. Porém, o apagamento da Guerra Fria não esfriou os
ânimos bélicos americanos. Após a invasão do Panamá, foi a vez do Oriente
Médio. Numa das mais vexatórias peças de fomento ao apoio em relação a invasão
do Iraque, a filha de um embaixador do Kuwait dá um testemunho falso diante das
câmeras, chorando ao lembrar dos bebês retirados de incubadoras e massacrados,
fraude exposta nas páginas do New York Times, em janeiro de 1992. Durante cinco semanas do início do ano
anterior, observar-se-á, com ajuda de novas tecnologias televisivas, os ataques
norte-americanos sobre o Iraque. Bush,
tentando reverter a pressão internacional (e particularmente israelense) sobre
si, compara Saddan Hussein a Hitler, enquanto ameaça totalitária, após não mais
que 100 horas de invasão por terra. As baixas americanas foram menos de 200.
Após ter uma prisão domiciliar decretada, Yeltsin consegue trazer novamente
Gorbachev ao poder. Acabaria renunciando por pressão popular, em 1991. A lua de
mel com o novo presidente Clinton durou pouco, quando passou a admitir gays nas
forças armadas e iniciou uma campanha para cobrir a saúde de boa parte dos
americanos, pela inexistência de um plano de saúde pública nacional, situação
que somente acometia igualmente a África do Sul. O desgaste e a histeria em
torno do projeto levou a derrota – pela primeira vez em 40 anos – de ambas as
casas legislativas para os republicanos.
A população carcerária do país subiu de meio milhão, em 1980, para dois
milhões, vinte anos após. A Rússia pós-soviética rapidamente se voltou à
direita, com Yeltsin buscando o auxílio de assessores americanos. Um Yeltsin
cada vez mais visivelmente afetado pela bebida leva a imagens que ganharam
mundo, incluindo a de Clinton gargalhando abertamente a seu lado. O sucessor de
Yeltsin, Vladimir Putin, recriou o estado centralizado de poder tirânico. Os
fundamentalistas talibãs tomaram o poder do Afeganistão, chamando para
estruturar suas ações o saudita Osama Bin-Laden. As ações da Al-Quaeda
provocaram mais de 200 mortes em uma embaixada americana na Tanzânia, e 17 em
um navio. A secretaria de defesa Madeleine Albright afirma se for necessário o
uso da força, os Estados Unidos o farão, pois conseguem ver mais longe. Clinton
nada fez para mudar as estruturas básicas do armamentismo americano, aumentando
o total de armamentos do país em relação ao restante do mundo para mais de
60%. Stone (ainda sem a perspectiva dos
tempos de Trump) chama atenção para os processos nebulosos ocorridos durante a
gestão Bush filho, já presentes na própria eleição do mesmo. Boa parte da
vitória de Bush se deu pelo impedimento do voto aos negros na Flórida, estado
crucial para o mapa do colégio eleitoral americano. E o golpe de misericórdia
veio com a decisão da Suprema Corte, por 5x4, de suspender a recontagem dos
votos na Flórida. Bush concedeu menos conferências de imprensa que qualquer um
de seus antecessores. E também será o presidente que ocupará menos tempo a Casa
Branca até então, como emendará posteriormente Stone. O grande feito que havia sido o tratado
anti-balístico assinado por Nixon em 1972 seria revertido (como algum tempo
depois, não alcançado por esta série, seria a célebre decisão Roe x Wade
favorável ao aborto nacionalmente, do mesmo período). O assustador nível de
promiscuidade entre os negócios petrolíferos e o governo Bush se manifesta de
forma bizarra em um gigantesco petroleiro batizado de Condolezza Rice,
secretária de estado. A incompetência do governo Bush se materializa nos
atentados do 11/09. O presidente e Condolezza Rice surgem na tv comentando não
imaginarem o uso de jatos comerciais como misseis balísticos, embora houvesse
informações dos órgãos de segurança americanos a respeito do treinamento de
pilotos árabes. O discurso de Bush ganhará destaque por seu torpe maniqueísmo
(“ou se está conosco ou se está com os terroristas”). Trata-se de um episódio
com poucas inserções de filmes ficcionais, a primeira já ocorrendo há 12
minutos de seu final, de Gladiador (2000), de Ridley Scott, ilustrando o desejo por
exibição de poder acreditada perdida durante os anos Clinton, lançado
contemporaneamente a boa parte dos eventos referidos e ganhando o Oscar de melhor
filme, sobre um líder sedento de poder em uma Roma crescentemente decadente. Borat
será o segundo. O desprezo pelas
liturgias da ONU teve como consequência um crescente isolamento internacional.
Por alguns momentos se consegue praticamente esquecer, neste episódio, dele
tratar dos tempos de Bush & Clinton, tal o relativamente longo parêntese no
qual Stone retorna para lembrar o forte envolvimento de alguns dos maiores
agente dos capitalismo estadunidense em apoio ao nazismo. |Ixtlan
Prod./Showtime Networks. 58 minutos.
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