Filme do Dia: Uma Lição de Esperança (2020), Vadim Perelman
Uma Lição
de Esperança (Persischtstunden, Alemanha/Rússia/Bielorússia, 2020).
Direção Vadim Perelman. Rot. Adaptado Ilja Zofin, a partir do conto Erfidung
einer Sprache, de Wolfgang Kohlhaase. Fotografia Vladislav Opelyants.
Música Evgueni Galperini & Sacha Galperini. Montagem Vessela Martschewski.
Dir. de arte Vladislav Ogay & Dmitriy Tatarnikov. Figurinos Aleksey
Kamyshov. Com Nahuel Pérez Biscayart, Lars Eidinger, Jonas Nay, David Schütter,
Alexander Beyer, Andreas Hofer, Leonie Benesch, Luisa-Céline Gaffron, Giuseppe
Schillaci.
Gilles (Biscayart) inventa ser persa para fugir da
execução, quando é capturado. Levado a um campo de concentração, não contaria
com a presença de um oficial alemão, Koch (Eidinger), interessado em aprender
farsi. Gilles se denomina Reza e passa a inventar um vocabulário fictício como
se persa fosse. Koch pretende aprender um vocabulário de duas mil palavras para
montar um restaurante em Teerã. O chefe
de uma das sessões do campo, Max (Nay), nunca se convenceu de Gilles ser persa.
A partir dos nomes da lista a ser preenchida, daqueles excluídos como mortos e
desaparecidos, ele vai efetuando a criação do vocabulário pedido por Koch. Nem
sempre as coisas funcionam a contento. Tendo cargo de cozinheiro, Gilles
organiza os pratos a serem degustados pelo oficialato nazi. No dia da reunião,
no entanto, repete uma mesma palavra inventada para duas coisas distintas e é
açoitado brutalmente por Koch, perdendo o seu status privilegiado e indo
trabalhar em quebrar pedras. Quando se encontra em situação difícil, bastante
fragilizado pelos açoites e pelo serviço pesado, ele simula ou de fato delira
na fictícia língua, chamando a atenção dos soldados alemães, que alertam Koch,
sobre possivelmente ele ser de fato persa.
Gilles consegue fugir do campo, mas um francês que encontra na floresta
o recomenda a retornar ou será rapidamente eliminado. Nos bastidores, alguns
desejam o retorna da antiga (e medíocre) secretária de Koch, Elsa (Benesch),
substituída por Gilles-Reza. Max encontra a chance de desmascarar Gilles com a
chegada de um homem de origem, ao que tudo indica, persa. Antes da acareação
ser feita, o homem é assassinado por Marco Rossi (Schillaci), em retorno ao ato
de Gilles ter trazido comida ao irmão caçula agonizante. A Libertação do jugo
nazista faz com que as rotinas sejam bagunçadas e Koch ensaia uma fuga, sem
deixar para trás seu prisioneiro favorito.
Quase se deseja utilizar um linguajar tão eloquente quanto o dos manifestos de Vertov – alguém nascido no Império Russo, numa região da Polônia nos dias desta produção, ao contrário do ucraniano Perelman, em película co-produzida por dois países que se tornariam arquirrivais de seu país natal em poucos anos. Mas vamos por partes. Primeiro, imagina-se as imprecações que levariam a um filme cujo título traduzido carregue a palavra “esperança” e associados a uma guerra marcante. Há uma boa chance dele apelar para um humanismo raso, superficial e – neste caso particularmente, anedótico quanto filmes como Um Canto de Esperança. Cuja mensagem de alerta do fictício manifesto seria algo como “afastem-se deles, contagiosos!” Sobretudo quando se tem a versão brasileira, o qual não se tinha quando iniciada a morfética jornada, a adicionar camadas de ceticismo a se somarem a qualidade da imagem, aos tipos dos créditos iniciais, ao tema e pretensa variação sobre o mesmo. Tudo que menos se tem com este acúmulo de indícios, somados a ser baseado em uma história real, é justamente esperança. Segundo, a nacionalidade de seu realizador não vem em questão. Ou o fato de ter trabalhado para países que invadirão e apoiarão a invasão de seu país, pois há também uma carreira pregressa e posterior nos Estados Unidos, onde inclusive realizou sua produção mais famosa, Casa de Areia e Névoa. É difícil, ao partir da amostra deste, imaginar Perelman dirigindo um filme ambientado na guerra da Ucrânia, e ainda por cima filmado lá, caso houvesse condições para uma produção no modelo dramático acadêmico fosse hipoteticamente possível de lá ser produzido. É muito mais cômodo se voltar para abstrações vinculadas a uma outra época. Ao contrário de outras fábulas perversas sobre o nazismo, como A Vida é Bela, o mundo do encanto anedótico ao menos é rompido por volta da metade do filme. Por um breve momento ao menos. Há alguma surpresa quando um aparente iraniano é descoberto aproximando-se o final? Dito tudo isso, muito pouco do escrito vale para o filme como um todo. Da sua metade ao final, quando boa parte da aprendizagem que diz respeito ao título à margem do que realmente importa, há um crescimento dramático exponencial. Quase a justificar, no plano da recepção de um espectador calejado e cético, o título brasileiro. E, mesmo que comparações tenham sido feitas acima, desde o início há uma utilização mais europeia e menos infantilizada-sentimentalizada do tema. Há não furos, mas verdadeiras crateras no roteiro. Dizem respeito a subtramas pouco desenvolvidas. |Hype Film/LM Media/ONE TWO Films/Belarus para Memento Films Int. 127 minutos.
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