Anjos Selvagens (The Wild Angels, EUA, 1966). Direção:
Roger Corman. Rot. Original:
Charles B. Griffith. Fotografia: Richard Moore. Música: Mike Curb. Montagem:
Monte Hellman. Dir. de arte: Richard Beck-Meyer & Leon Ericksen. Figurinos:
Polly Platt. Com: Peter Fonda, Nancy Sinatra, Bruce Dern, Diane Ladd, Buck
Taylor, Norman Alden, Michael J. Pollard.
Grupo de Hell’s Angels, cujo líder é
Heavenly Blues (Fonda), vive se deslocando em busca de prazer ou de ajustar
contas com grupos rivais, sempre monitorado pela polícia. Numa dessas fugas, um
policial atira contra Joey (Dern), que vai hospitalizado. O grupo decide
retirar Joey do hospital, pois ele será encaminhado para a prisão quando se
recuperar. Conseguem o tento, com ajuda da namorada de Blues, Mike (Sinatra).
Porém, ele não suporta e morre pouco depois.
É
curioso se observar já em seus créditos iniciais a presença de um Peter Fonda
ainda mais magérrimo em sua motocicleta 3 anos antes do mítico
Sem Destino -
e com figurino e adereços similares. E também a presença de boa
parte do que se configuraria como New Hollywood
diante (Bruce Dern, Ladd, Pollard, antes da fama com
Bonnie & Clyde, além do próprio Fonda
evidentemente) e por trás das câmeras (Bogdanovich oficialmente como assistente
de direção, mas também auxiliando no roteiro, na montagem e na fotografia, sem
falar numa ponta, tudo não creditado, Monte Hellman, etc.) A
proximidade/distância do filme dirigido por Hopper parece advir, em grande
parte, da presença dele próprio no projeto como diretor. Aqui, na sequencia de
simulação de uma orgia dos Hell’s Angels pode-se novamente invocar uma pretensa
influência do já então clássico curta experimental de Kenneth Anger (
Scorpio Rising), porém com duas grandes
diferenças: 1) está-se longe da dimensão algo documental que Anger flagra a
festa desregrada dos motoqueiros, pois aqui tudo parece, como aliás em todo o
filme, demasiado
fake, com
“interpretações” dignas das séries de TV contemporâneas; 2) inclui-se mulheres
em um ambiente maciçamente, senão exclusivamente, masculino. Tampouco deixa de
existir referências ao México, aqui um grupo de mexicanos que roubou uma das
motos dos Hell’s Angels e que é devidamente surrado pelo grupo até a chegada da
polícia. E a estrutura algo aleatória do
clássico de Hopper não apenas já se configura aqui, como é bem mais radical,
proporcionada pelo improviso e desejo de atingir seu público alvo, com a
permissividade possível então, de um Fonda fumando sua maconha com Nancy
Sinatra, das mulheres somente em peças íntimas ou das cenas de violência também
típicas dos seriados de TV e filmes-B, assim como de cenas “sensacionais” como
a da motocicleta descendo o despenhadeiro com um policial que havia atirado
contra um dos membros da gangue. Os
diálogos são tão inusitados e canhestros quanto as interpretações, como é o
caso particularmente do esforço de seriedade dramática de Ladd e dela
perguntando a Sinatra se ela tem um “cigarro normal”. O clímax do contraponto
simplório dos jovens contra a sociedade, que já contavam com uma tradição de ao
menos uma década desde
Juventude Transviada ocorre no momento dos serviços fúnebres de Joey com requintes de
violência contra o pastor, personificação da hipocrisia da sociedade, sendo esse
marcado tom iconoclasta, puramente sensacionalista como tudo o mais no filme,
filtrado igualmente de forma mais sofisticada no modo ambíguo com que a
religiosidade é observada em
Sem Destino.
Como os créditos evidenciam, o filme contou com uma participação de verdadeiros
Hell’s Angels de Venice, que não se entenderam exatamente bem com o
produtor-diretor
Corman e não se sabe exatamente como, talvez porque não
tivessem real noção da forma que seriam retratados pelo filme, como bárbaros
inconsequentes capazes de estuprar uma das garotas de seu próprio grupo em um
momento de pesar. American International Pictures. 93 minutos
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