Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#97: Héctor Olivera



 OLIVERA, Héctor. (Argentina, 1931). Mais conhecido como escritor/diretor de filmes políticos - La Patagonia Rebelde (1974), No Habrá más Penas ni Olvido (1983); e La Noche de los Lápices (1986) - Héctor Olivera foi também um prolífico produtor de filmes comerciais argentinos. Nascido em Olivos, Buenos Aires, começou a trabalhar no cinema aos 17 anos como assistente de direção em Esperanza (Chile/Argentina, 1949). Trabalhou pela primeira vez como assistente de produção em 1951 (Pasó en mi Barrío) e então, com somente vinte e cinco anos, formou sua própria companhia produtora com Fernando Ayala, Aries Cinematográfica Argentina. Olivera co-produziu El Jefe (1958), de Ayala, juntamente com o diretor, e produziu mais oito filmes, antes de dirigir seu primeiro filme, a comédia Psexoanálisis, em 1968, da qual também escreveu o roteiro.

Após dirigir outra comédia e um punhado de documentários/musicais com Ayala, Olivera encontrou o seu nicho em 1973 com a comédia/drama Las Venganzas de Beto Sánchez, escrito por Ricardo Talesnik. Quando Beto Sánchez (Pepe Mariano), um homem na faixa dos 40, perde o emprego, vinga-se nas instituições (igreja, escola e estado) que sente que o reprimiram desde a infância. Durante o período da terceira presidência de Péron, 1973-74, Olivera dirigiu seu drama histórico, La Patagonia Rebelde, olhando para o passsado de conflitos trabalhistas e ativismo na Argentina dos anos 20. Tirando vantagem de uma breve abertura democrática, Ayala e Olivera foram capazes de financiar um filme não comercial socialmente ativo que, apesar disso, encontrou público entre os simpatizantes do Peronismo. Surpreendentemente, dada a guinada à direita do governo, seguida pelo golpe militar, Olivera e a Aries verdadeiramente floresceram nos anos seguintes. A Aries teve seu ano mais produtivo ate o momento em 1975, com cinco títulos, e continuou a produzir no mesmo ritmo durante os oito anos do regime militar (40 filmes), enquanto o próprio Olivera produziu ou dirigiu 15 destes filmes para a Aries. 

Justo no final da ditadura militar, Olivera dirigiu seu filme mais internacionalmente celebrado, No Habrá más Penas ni Olvido, uma sátira de humor negro sobre as brigas internas peronistas dos anos 70, que também opera como uma alegoria da ditadura militar e a contemporânea guerra nas Ilhas Malvinas (Falklands). Baseado em um romance de Osvaldo Soriano, título advindo de um popular tango, No Habrá más Penas ni Olvido é ambientado em uma cidadezinha anônima argentina, onde uma eleição se encontra em vias de ocorrer. Mas as coisas fogem do controle e o prefeito machista (Federico Luppi) defende um funcionário manso e humilde, mas marxista, e a facção peronista de esquerda de sua cidade contra a direita militarista, liderados pelo rico e poderoso Dr. Guglielmini (Lautaro Múrua). Pessoas que se conhecem por todas as suas vidas se alocam em lados diferentes na pequena guerra que ocorre;  o prefeito é torturado, e sua esposa sequestrada e ameaçada de estupro. A violência gráfica e o agravamento do clima aumenta a tensão do filme, embora a comédia sempre venha a aliviar o processo. Um dos personagens puramente cômicos, um aviador (Ulyses Dumont), primeiro pulveriza a praça da cidade e depois joga esterco nos valentões. Mas o filme se torna pungente quando seu avião se espatifa, e Olivera e Soriano parecem trazer o argumento conclusivo para as pessoas não levarem o posicionamento político demasiado sério. No Habrá más Penas ni Olvido venceu três prêmios no Festival Internacional de Cinema de Berlim de 1984, incluindo o Prêmio Especial do Júri e o FIPRESCI, e vivenciou um bem sucedido lançamento em cinemas da América do Norte e alguns países europeus, seguindo seu sucesso no festival, sem dúvida estimulado pelo interesse do público no conflito das Malvinas. 

Tentado pelas perspectivas de alcançar o mercado de cinema estadunidense comercial, Olivera dirigiu cinco co-produções argentino-estadunidenses para Roger Corman, todas realizadas em língua inglesa, do filme de ação/drama Cocaine Wars [Guerra da Cocaína] (1985) ao thriller noir Play Murder for Me [Melodria para um Crime] (1990). Durante o período, voltou a fazer o filme mais sério desde La Patagonia Rebelde, La Noche de los Lápices, baseado em uma das mais chocantes séries de eventos na história argentina, quando dez estudantes secundaristas com a idade entre 16 e 18 anos, associados com uma organização estudantil militante, foram sequestrados pelos militares em setembro de 1976; mantidos em cativeiro por meses em centros de detenção ilegais; e são presumidos terem sido, em última instância, assassinados. Somente quatro sobreviveram. Baseado em um livro de não ficção de mesmo nome, escrito por María Seoane e Héctor Ruiz Núñez, o filme segue o testemunho de um dos sobreviventes, Pablo Díaz (que foi capturado em 21 de setembro), recontando os destinos de seis estudantes  que foram capturados em 16 de setembro, todos eles "desaparecidos", com foco na mais jovem, Msria Claudia Falcone e sua família. Foi filmado em locações na cidade de La Plata, onde a "noite dos lápis" ocorreu.

Nos anos 1990, Olivera trabalhou mais para a televisão, iniciando com El Evangelio Según Marcos (1993), baseado em um conto de Jorge Luis Borges. Mesmo que sua companhia Aries esteja bem menos ativa que costumeiramente, Olivera ainda ocasionalmente dirige filmes sobre seu nome, incluindo Ay Juancito (2004), que venceu o prêmio de Melhor Diretor no Festival Internacional de Cinema do Cairo, e El Mural (2010). Em 2004 foi homenageado com um prêmio Coral,da Associação dos Críticos de Cinema Argentinos, pelo conjunto de sua carreira, 

Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymouth: Rowman&Littlefield, 2014, pp. 430-32.

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