Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#98: Walter Lima Jr.
LIMA JR., WALTER. (Brasil, 1938). Apesar de não ter sido particularmente prolífica, a carreira de Walter Lima Jr. se tornou uma das mais longevas e bem sucedidas de um realizador brasileiro, ainda dirigindo após 40 anos de seu início. Nasceu em Niterói, um subúrbio do Rio de Janeiro. Estudou direito e história na universidade e adentrou o universo do cinema enquanto crítico. Em 1963 se tornou assistente de direção do incompleto Marafa (dirigido por Adolfo Celi) e, no mesmo ano, foi assistente de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Gláuber Rocha, tornando-se um colaborador próximo. Foram cunhados, quando Lima casou-se com a irmã de Rocha, Anecy, em 1965. No mesmo ano, Lima dirigiu seu primeiro filme de longa-metragem, Menino de Engenho,
Um dos filmes-chaves da segunda fase do Cinema Novo, após o golpe de 1964, Menino de Engenho, como outros filmes-chaves, foi baseado em um clássico da literatura mas, ao contrário de outros, não é ambientado na cidade e nem analisa o fracasso da Esquerda. De fato, o filme de Lima se situa à parte de outras obras do Cinema Novo, ao se tornar próximo do lirismo subjetivo da Nouvelle Vague francesa, especialmente os primeiros filmes de François Truffaut. Segue a perspectiva de um garoto, Carlos, nascido em um latifúndio, que passa a criticar sua classe, embora permaneça nostálgico em relação ao passado. Tristes cenas de perdas e enfermidades são intercaladas com episódios excitantes, nos quais Carlos é vinculado invariavelmente com a natureza - frequentemente acompanhados por movimentos de câmera e uma variedade de músicas, de tambores africanos às suntuosas passagens orquestrais de Heitor Villa-Lobos.
Lima somente dirigiu um outro filme nos anos 60, Brasil Ano 2000 (1969), e realizou mais três-longas metragens ao longo dos anos 70, antes de dirigir A Lira do Delírio (1978). Ambientado em meio ao carnaval de Niterói. A forma livre do filme, estrelado pela ex-esposa de Lima, Anecy (como Ness Elliot (uma inversão do herói de Os Intocáveis), que tenta simultaneamente escapar das atenções masculinas e resgatar seu bebê, funciona como um canto de cisne do Cinema Novo - ecoando o estilo extravagante e fragmentado de Rocha e o mau gosto do Cinema Marginal e Joaquim Pedro de Andrade. Lima continuou a dirigir filmes, a média de um a cada dois anos e ao longo do tempo reteve o seu status como um dos melhores diretores de cinema brasileiros. De fato, a revista Manchete listou quatro filmes de Walter Lima Jr. dentre os 50 melhores do século, feito somente igualado por Humberto Mauro. A Ostra e o Vento, que foca na relação entre um pai e uma filha isolados em um farol, ficou em décimo lugar, Menino de Engenho ficou em vigésimo quinto, Inocência em vigésimo sétimo e A Lira do Delírio em trigésimo terceiro. Suas mais recentes obras são os longas de ficção Os Desafinados (2008) e o documentário MPB de Câmera, Canção Brasileira (2012).
Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Cinema. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2013, pp. 363-64.
Comentários
Postar um comentário