Filme do Dia: Perdi Meu Corpo (2019), Jérémy Clapin
Perdi
Meu Corpo (J’ai Perdu Mon Corps,
França, 2019). Direção: Jérémy Clapin. Rot. Adaptado: Jérémy Clapin &
Guillaume Laurant, a partir do romance de Laurant. Música: Dan Levy. Montagem:
Benjamin Massoubre.
Naoufel sonha em ser pianista e astronauta,
algo incentivado respectivamente pela mãe e pelo pai, quando criança. Porém,
ele se torna, na adolescência, um entregador de pizzas, diante de um pai
desinteressado dele e da vida, e de um irmão mais velho irritante e pouco
sensível às demandas do jovem. E para piorar, enquanto entregador não possui o
menor talento. Certa noite ao ir entregar o produto para uma garota, Gabrielle,
que mora no trigésimo quinto andar e após uma demora de quarenta minutos, dado
um acidente que vivenciara, Naoufel descobre que a pizza já se encontra
completamente destroçada. Ele conversa um longo tempo com Gabrielle pelo
interfone. Ela o convida para passar a noite em seu apartamento, mas ele vai
embora, após ter comido ele próprio a pizza. Porém, vai atrás da única
informação que sabe a respeito dela, que ela trabalha em uma biblioteca.
Segue-a e descobre que ela sempre passa em uma marcenaria, que seu tio, Gigi,
trabalha. Ele se torna assistente do tio e um exímio marceneiro. Porém, tempos
depois, após um primeiro encontro a sós com Gabrielle, ela se irrita e o
abandona sozinho no terraço do prédio abandonado, vizinho da marcenaria, e
território dos sonhos do garoto que, com sua obsessão pelo Polo Sul, lá
construiu um iglu. Ressaqueado da bebida e da confusão em que se meteu após ter
ido a festa do irmão, que era o roteiro original do casal na noite anterior,
Naoufel sofre um grave acidente.
Tal como seu tímido e antissocial
protagonista, o filme não fecha exatamente em relação ao seu passado, e ao
laconismo se soma também uma dose de imaginação igualmente associada a Naoufel,
aqui presente na mão autônoma que o segue e que o espectador cinicamente poderá
indagar, ao largo de boa parte da narrativa, se será a mão do destino ou a
invisível de Adam Smith, para ficar com uma resposta mais próxima do trauma e
da subjetividade espraiada para o mundo que exala nessa animação, de belos
traços realistas. O estranhamento da narrativa, e algumas suposições
decorrentes de seu senso lacunar talvez se tornem mais interessantes que a
própria história em si. Há alguns dados menores que se não atrapalham de todo,
tampouco ajudam, como é o caso da música, extremamente colada no minimalismo de
Phillip Glass para apresentar personalidade própria, embora não de toda
inequívoca dado o contexto alucinatório e de quebra-cabeças que persegue toda a
fábula, sem maiores excessos além da mão ambulante, que chega a ser vítima de
um grupo de formigas, tal qual na cena do célebre Um Cão Andaluz (1928), de Buñuel e Dali. Uma outra referência
importante ao filme é o livro dado por Gabrielle ao garoto, O Mundo Segundo Garp, de John Irving,
que foi adaptado pelo cinema norte-americano ao final dos anos 70.
Xilam/Aurvergne Rhône-Alpes Cinéma para Netflix. 81 minutos.
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