The Film Handbook#213: Oliver Stone

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Oliver Stone
Nascimento: 15/09/1946, Nova York, EUA
Carreira (como diretor): 1973-

No final dos anos 80, Oliver Stone subitamente ganhou destaque como um sério e controvertido diretor de supostas simpatias liberais. Uma fria avaliação de sua carreira, no entanto, revela uma figura mais complexa e artisticamente mais incoerente.

Veterano do Vietnã, Stone escreveu vários roteiros não filmados antes de realizar sua esteia em 1973 com Seizure, sobre um escritor de histórias de horror atormentado e destruído por pesadelos. De fato tanto esse quanto  A Mão/The Hand, uma banal incursão ao sobrenatural, realizada em 1981, atraíram menos atenção que os roteiros que Stone escreveu para O Expresso da Meia-Noite/Midnight Express, de Parker, Conan, o Bárbaro/Conan, the Barbarian, de Milius, Scarface, de De Palma e O Ano do Dragão/Year of the Dragon, de Cimino - o primeiro e o último desses provocando acusações de racismo em sua inabilidade de se distanciar das emoções de seus protagonistas. Igualmente confuso, na verdade, foi o melhor filme de Stone, Salvador>1, convincente e duro relato cheio de ação das experiências de um jornalista americano na guerra civil de El Salvador em 1980. Autenticamente brutal e cru, o filme foi um retrato admitidamente provocativo do papel desenvolvido pelo governo norte-americano em sua ajuda militar ao governo de direita e, por consequência, nos esquadrões da morte; ao mesmo tempo, o roteiro de Stone, escrito com Richard Boyle, cujas próprias aventuras proporcionaram a base factual para o filme, recusaram a observar a indulgência do herói em drogas baratas como exemplo menos pernicioso da exploração americana do Terceiro Mundo.

Platoon>2 não foi menos confuso, concentrando-se - através de sua história de um inábil soldado de 19 anos dividido entre dois oficiais observados, respectivamente, como honradamente profissional e maniacamente sádico - no modo como a guerra do Vietnã afetava os soldados americanos, mas que seu efeito nos vietnamitas. De fato, a recusa em confrontar as implicações políticas e éticas da presença norte-americana no Sudoeste Asiático  significava que o envelhecido tema da "guerra como inferno" nunca escapava inteiramente da tradicional glorificação dos heroicos militares. Wall Street: Poder e Cobiça/Wall Street>3 pareceu seduzir pela própria riqueza do jet-set e intrigas desleais que se propunha a condenar: de diversas formas foi uma transposição da trama de Platoon para a selva de concreto de Nova York, seu jovem e inexperiente corretor tentado a se afastar da idoneidade heroica do pai trabalhador pelas delícias mefistofélicas oferecidas por um monstruoso pai substituto. Se, no entanto, o ponto de vista moral de Stone foi esquizofrênico, dramaticamente o filme foi destruído por sua dependência risível de clichês melodramático banais, com o acréscimo de um profeta no escritório continuamente prevendo o que irá acontecer de ruim e uma inevitável cena no hospital que permite ao filho pródigo fazer as pazes com o papai e se redimir.

Talk Radio: Verdades Que Matam/Talk Radio (uma serpenteante análise das relações do apresentador de um programa de entrevistas com colegas, ex-esposa e ouvintes hostis, inspirado no assassinato do DJ de Denver Alan Berg) pareceu quase à deriva, enquanto planos para dirigir o musical Evita se esfacelaram. Se Salvador e Platoon testemunham a habilidade de Stone de tocar os sentimentos, Wall Street meramente reforça a ausência de consistência moral e originalidade narrativa que percorre mesmo suas melhores obras. A despeito de certas reivindicações de autenticidade - visual no caos dos filmes de guerra, verbal no interminável jargão financeiro de Wall Street - pode-se afirmar, em retrospectiva, que Stone será lembrado como um diretor comercial primitivo mais que como um artista compromissado.

Cronologia
Um admirador de Buñuel e Godard, Stone pode talvez ser comparado um sucessor de Fuller e Aldrich: ousado, nada sutil ou cauteloso em cortejar a controvérsia. Pode ser aproximadamente comparado com figuras como Hill, Parker, De Palma e mesmo Sylvester Stallone; Salvador provoca comparações com A Guerra que Não era Sua/Latino, de Haskell Wexler, Sob Fogo Cerrado/Under Fire, de Roger Spottswoode e Os Gritos do Silêncio/The Killing Fields, de Roland Joffe.

Destaques
1. Salvador, EUA, 1986 c/James Woods, James Belushi, Michael Murphy

2. Platoon, EUA, 1987 c/Charlie Sheen, Tom Berenger, Willem Dafoe

3. Wall Street: Poder e Cobiça, EUA, 1987 c/Charlie Sheen, Michael Douglas, Martin Sheen, Daryl Hannah
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 275-6.

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