Filme do Dia: Frenesi de Paixões (1955), Joseph Pevney

 


Frenesi de Paixões (Female on the Beach, EUA, 1955). Direção Joseph Pevney. Rot. Adaptado Robert Hill & Richard Alan Simmons, a partir da peça de Hill. Fotografia Charles Lang. Música Heinz Roemheld & Herman Stein. Montagem Russell F. Schoengarth. Dir de arte Robert Clatworth & Alexander Golitzen. Cenografia Oliver Emert & Russell A. Gausman. Figurinos Sheila O’Brien. Com Joan Crawford, Jeff Chandler, Jan Sterling, Cecil Kellaway, Judith Evelyn, Charles Drake, Nathalie Schafer, Stuart Randall, Marjorie Bennett.

Lynn Markham (Crawford) resolve adquirir uma casa onde recentemente ocorreu a misteriosa morte de Eloise Crandall (Evelyn), cujo principal suspeito é o homem por quem Eloise se encontrava perdidamente apaixonada, Drummond “Drummy” Hall (Chandler), um desajustado que passa a insistir em uma relação com Lynn, também voltada aos interesses financeiros do casal que o “adotou”, Osbert (Callaway) e Queenie (Schafer). Uma mulher que nunca esqueceu Drummy foi Amy (Sterling), que negocia a casa com Lynn.

Tivesse um pedigree intelectual, e essa produção poderia ser tida como antecipadora de filmes conscientemente estranhos, como alguns dirigidos por Losey na década seguinte (a exemplo de Modesty Blaisie ou O Mundo os Condenou). E aqui tal estranhamento se dá em direção à própria persona cinematográfica de Joan Crawford, e no que havia se tornado nos anos recentes pelas mãos de realizadores como Vincent Sherman – uma mulher madura, firme e ao mesmo tempo a um passo da vulnerabilidade, por não possuir um homem ao seu lado. Ao menos é o que se sobressai numa sequencia específica, em que os “padrinhos” de Drummond observam, como duplos do espectador (talvez mais de um programa de TV que de um filme) a abordagem grosseira que fará  de Lynn. Sem direito a contraplano, depois. E esse depois, aliás, torna-se crescentemente mais convencional, com laivos de alguma histeria contida (ou não) melodramática, que a música amplifica. E, por vezes, é modulada, como quando Lynn/Crawford desliga o que se achava fosse a trilha incidental, trocando-a por outra. Porém, não adianta a troca, pois ela retornará pouco depois. Como se imagina que Lynn retornará ao abusivo Drummond, toda cintilante e elegante. Porém cintilância e elegância não rendem, por si só, diversão ou afastam a solidão. E esse flerte com o desejo significa, como em outros filmes de Crawrford do período, um namoro com a auto-destruição e a própria finitude. E há os alertas para deixar suas personagens conscientes disso. Seja o ditafone de Precipícios d’Alma ou os diários da vítima anterior do mesmo combo que se prenuncia.  E com a espoliação material antes desse risco maior. Chega-se a um grau acima de masoquismo no caso em questão, pois há toda uma compreensão racional e distanciada da situação que, no entanto, sucumbe ao frenesi que se refere o título brasileiro. Há fortes inconsistências no roteiro, como a misoginia que já se adivinha de origem edipiana – antes mesmo que Drummy afirme, já se intui ter sido a mãe que deixou uma cicatriz próxima de sua orelha – e o tratamento abusivo serem curados pelo amor. Pondo-se na conta da realização de uma fantasia feminina, funciona às mil maravilhas, conseguindo a heroína não só a redenção  do amado suspeito – e a dúvida até o final a respeito do nível de mal caratismo  de que era portador Drummy é um trunfo que escapa a qualquer crítica por racionalidade ou verossimilhança – como colocar a sua “rival” como verdadeira culpada.  O filme funcionaria bem melhor se houvesse uma ambiguidade, tal qual Taxi Driver, se o que observamos em suas duas dezenas de minutos finais ficasse por conta do espectador decidir, se produto da subjetividade da personagem ou não. Difícil esquecer o quão constrangedoramente desajeitada é a corrida de Drummond/Chandler para o mar. A escolha do ator provavelmente também recaiu por seu tipo físico diferenciado do típico anglo-saxão, que o levou a papéis de índios, trazendo uma pitada de suposto erotismo/exotismo ao público feminino. Ou os momentos de Crawford sensualizando com menos roupa que o habitual. Dessa vez levemente dispensada da máscara habitual de constante alerta/sofrimento, pois alguém se incumbe de levar o sofrimento pelo amor não correspondido de um homem ao paroxismo. E esse alguém é a patética figura de Eloise. Universal International Pictures para Universal Pictures. 97 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso